"Vou tentar divertir-me"
Aos 41 anos, FERNANDO AGUIAR, regressou aos relvados para levar o Pedrouços ao Campeonato Nacional de Seniores. Missão possível para o Robocop?
Chamam-lhe Robocop por causa do estilo em campo. Durão, possante e dominador, Fernando Aguiar conta que os adeptos do Benfica pouco gostavam dele por não ser um tecnicista ou, “como eles diziam, por dar porrada”. Agora, aos 41, o centro-campista ritma o jogo do Pedrouços. Mas comecemos pelo princípio.
Fernando Aguiar deu os primeiros pontapés na bola do outro lado do Atlântico, no Canadá. Tinha nove anos. Ainda garoto, o pai reconheceu-lhe o bom toque de bola e começou a espicaçá-lo para jogar num clube. Foi competindo como amador e, só aos 22 anos, acabou por jogar no Toronto Blizzard. Encantado com a ideia de vir a ser profissional da bola, “fiquei lá dois anos e depois vim à experiência para Portugal, para o Marítimo”. Como a coisa não correu lá muito bem, toca de ir bater à porta ao lado: “Pedi para jogar no Nacional da Madeira e estive lá dois anos. Descemos de divisão e voltámos a subir”. Após a estadia na ilha, chegava a vez do continente. O Maia encantou-se com o poder de Fernando Aguiar e o Robocop meteu-se no avião para pôr pé no clube onde haveria de jogar durante dois anos.
Chega então a hora do salto. A ida para o Beira-Mar muda tudo. A equipa aveirense acabara de vencer a Taça de Portugal e descer de divisão. “Logo no meu primeiro ano, subimos de divisão.” Missão cumprida. Mas os bons momentos dão sempre direito a brinde. No ano seguinte, em 2001, ainda a época não terminara e já o Benfica se tinha chegado à frente para garantir a contratação de Fernando Aguiar. “Eu estava sempre à espera da proposta de um grande”, conta, “principalmente depois daqueles tempos. Quem gosta de futebol lembra-se dos dois anos e meio que passei no Beira-Mar, principalmente na Primeira Liga, que foram de grande nível”. “É claro que já tinha 29 anos e ia ser complicado jogar num grande”, reconhece o jogador, “mas pelo menos queria ir para uma equipa com mais objetivos e mais ambições nas competições”.
Na primeira época fez 13 jogos, “mas o Benfica vinha de uma era má com Vale e Azevedo e eles tinham de limpar a casa. Quando cheguei, as coisas não estavam fáceis, os adeptos não gostavam de um jogador como eu, raçudo. Decidimos que a melhor opção era eu ser emprestado para ver como as coisas iam correr”. Foi para a União de Leiria e chegou a conseguir chegar à final da Taça, competição que viria a vencer no ano seguinte, com o Benfica, pela mão de José Antonio Camacho. “O Camacho foi direto e disse-me que contava com quatro jogadores para o meio campo: eu, o Tiago, o Petit e o Andersson. E ficou bem claro que queria contar comigo”, recorda.
Esse ano de 2004 foi agridoce. Na noite de 25 de janeiro, em Guimarães, Fernando Aguiar marcava o 0-1 que daria a vitória ao Benfica. Um minuto depois, caía em campo Miklos Fehér. “Foi muito complicado. Não desejo isso a ninguém, foi um momento marcante na minha carreira e na minha vida”. Nesse ano acabaria por rumar ao Penafiel e, dois anos mais tarde, estaria a jogar no Gondomar, onde viria a terminar a carreira, com 37 anos.
Mas ainda a bola estava a rolar no meio do campo. Fernando Aguiar treinou durante algumas semanas no Maia e foi um tirinho até tomar a decisão: o regresso aos relvados tinha de acontecer. “Como nada foi resolvido com o Maia, o Pedrouços entrou em contacto comigo e cá fiquei”, revela. Agora o objetivo passa por tentar subir de divisão. “O que posso prometer é trabalhar e fazer tudo e mais alguma coisa para ajudar a equipa a subir. Estou preparado. Claro que as pessoas não têm noção de que não é qualquer jogador que tem sucesso nos distritais, é um jogo completamente diferente. Vou ter de estar preparado para dar tudo, vou ter de correr. As pessoas pensam que é para estar sentado numa cadeira e passar a bola mas não é a minha maneira de estar. Fisicamente ainda consigo dar tudo, mas vou ter de correr como antigamente.” E se não fores capaz, Fernando? “Já falei com o presidente. Eu abandonei a carreira aos 37 anos por causa de um joelho. Quando me sentir bem, jogo. Quando não der, amigos na mesma”, atira, sem medos.
Quanto ao futuro, Fernando Aguiar ainda não sabe se vai haver um mister Robocop. “Nunca pensei em ser treinador, quando acabei a carreira isso não estava nos meus horizontes. Mas nunca se sabe, vou ver como isto corre”. Em suma, “gostei bastante do que fiz em toda a carreira. Acho que tudo o que consegui foi por mérito próprio. Agora, nos distritais, vou tentar divertir-me e ajudar o clube ao mesmo tempo”. Palavra de polícia. Do meio-campo.
PERFIL
Nome: Fernando Aguiar
Data de nascimento: 10.03.1972
Posição: Médio defensivo
Carreira: Toronto Blizzard (1994), Marítimo (1994/95), Nacional (1995/97), Maia (1997/99), Beira-Mar (1999/2002), Benfica (2002/04), U. Leiria (2002/03), Penafiel (2004/06), Gondomar (2006/09) e Pedrouços (2013/14)