“Tive dificuldades em gerir o problema dos salários em atraso”


JOÃO SILVA tenta agora singrar no Bari de Itália, depois de passar pelos campeonatos de Portugal, Inglaterra e Bulgária. O avançado de 23 anos relembra as dificuldades por que passou devido aos incumprimentos salariais em Portugal e enaltece o apoio que lhe tem sido dado pelo SJPF.

Ingressou no Bari (Itália), no início da época. Como tem estado a correr a experiência?
Está a correr bem, apesar de a adaptação a Itália estar a ser mais difícil do que estava à espera. Estou aqui há cinco meses. Nunca cá tinha estado, por isso é um país novo para mim, com novos costumes e mentalidades. Mas apesar de a mudança ter sido radical, está tudo a correr bem.

Que expectativas tem para o futuro?
Fazer um bom trabalho e voltar a dar o salto para um clube com outra dimensão.

Já jogou em quatro países (Portugal, Inglaterra, Bulgária e Itália). Qual deles é o melhor para jogar futebol?
Na minha opinião é o futebol inglês, porque acho que se encaixa mais com as minhas características e porque é um país muito bem organizado e rigoroso. 

Após ter sido formado no Desportivo das Aves, foi contratado pelo Everton. Como surgiu a oportunidade?
Devido à boa época que realizei no Aves e também na Seleção Nacional. Para além do Everton, houve outros clubes interessados. Recordo-me de alguns que apareciam nos jornais: Braga, Vitória de Guimarães, FC Porto, Deportivo da Corunha, PAOK, Hanover 96...

Emigrou aos 20 anos. Por que razão saiu tão cedo de Portugal?
Porque surgiu a oportunidade de jogar em Inglaterra, que é um sonho que sempre tive. Além disso, o clube e o projeto em causa também me aliciaram.

Passado um ano, regressou para jogar no V. Setúbal e no U. Leiria. Por que razão?
Surgiu o interesse para um possível empréstimo e, devido à forte concorrência que exista no Everton, achei que seria bom para mim jogar na I Liga portuguesa.

Foi público que houve salários em atraso. Como geriu o problema?
São situações que infelizmente continuam a acontecer e que prejudicam bastante um jogador. Tive dificuldades em gerir o problema e ainda hoje estou a lutar para que se faça justiça. Pedi ajuda ao SJPF e tenho tido a vossa colaboração para a resolução do problema.

No estrangeiro houve alguma situação de salários em atraso nos clubes por onde passou?
Felizmente não tive o mesmo problema no estrangeiro. Em Portugal, a questão nem foi apenas atrasarem-se no pagamento, foi o facto de nunca terem chegado a pagar o que deviam. 

No estrangeiro, foi-lhe solicitado que se inscrevesse no Sindicato de jogadores dos países onde jogou?
Aqui em Itália, quando cheguei, o plantel estava a inscrever-se na Associação Italiana de Jogadores e o capitão perguntou-me se eu estava interessado. Depois de ponderar, decidi inscrever-me.

Descarta jogar em Portugal ou preferia estar numa equipa portuguesa?
Claro que não descarto jogar no meu país porque, para além de ser um ótimo campeonato, com grandes jogadores e com muita visibilidade, ainda há muita gente correta e justa que cumpre com as suas obrigações.

De saída do Everton, ruma à Bulgária. Conte-nos a decisão e como correu a temporada.
Talvez tenha sido uma decisão precipitada ter saído de Inglaterra, mas estava sem espaço no clube e eu precisava de jogar. O Levski demonstrou muito interesse na minha compra. Então decidi assinar por um clube que ia discutir as eliminatórias da Liga Europa e tentar ser campeão no seu país. As coisas correram muito bem, tanto individual como coletivamente, mas a sorte não esteve do nosso lado. Fomos à final da Taça da Bulgária e acabámos por perder nos penaltis. Além disso, deixámos fugir o título de campeão na última jornada do campeonato, ao empatar em casa.

Sabe falar todas as línguas dos países onde esteve?
Só no búlgaro tenho alguma dificuldade porque é uma língua muito difícil e também porque durante o tempo em que lá estive comunicava essencialmente em inglês e português.

Embora tenha apenas 23 anos, já jogou em mais campeonatos que muitos futebolistas em toda a sua carreira. Há uma idade certa para emigrar?
Não acredito que haja uma idade certa para emigrar. O jogador tem de se encontrar preparado e ser forte psicologicamente.

Está contente com a sua carreira até ao momento?
Sim, estou contente. Na verdade sou um privilegiado e agradeço a Deus por tudo o que me tem dado.

Recorda-se de alguma situação caricata pela qual tenha passado no estrangeiro.
Recordo-me de um susto que tivemos no Levski Sofia, quando fomos empatar fora num clube modesto. Os adeptos ficaram furiosos com o resultado e decidiram bloquear as estradas e confrontar o autocarro quando viajávamos de volta a casa. Foi um grande susto, alguns adeptos chegaram mesmo a invadir o autocarro. Entretanto, a polícia chegou e as coisas acalmaram.

Portugal trata mal os jovens jogadores portugueses?
Não creio que trate mal. O que penso é que é uma questão de mentalidade em achar que o jogador estrangeiro é sempre melhor que o jogador português. Mas acredito que essa ideia está a mudar, muito devido à crise que se faz sentir nos clubes, que leva a apostar nos jovens jogadores, mas fundamentalmente devido ao facto de o jogador português estar aos poucos a impor-se e a mostrar a suas qualidades. Temos vindo a observar alguns casos desses até nos clubes grandes.

É a favor da limitação de jogadores estrangeiros nas equipas portuguesas?
Sim, porque isso pode levar a uma valorização muito grande do jogador português. O futebolista nacional vai ter muito mais espaço e oportunidade para mostrar as suas qualidades. Poderá também ser muito positivo para a Seleção Nacional, uma vez que terá mais jogadores à disposição.

Mesmo estando no estrangeiro mantém a ligação ao SJPF?
Sim, mantenho ligação porque, para além de estar numa fase de resolução de problemas, o SJPF está sempre à disposição para ajudar e esse apoio para um jogador é fundamental.

João Pedro Pereira Silva
Data de Nascimento: 21 de maio de 1990
Clubes: Desportivo das Aves (formação), Everton, União de Leiria, Vitória de Setúbal, Levski Sofia e Bari