"O meu maior sonho é jogar no estrangeiro"


MAFALDA MARUJO apresenta-se como uma atleta humilde mas cheia de ambição. O mundo pode ter perdido uma ginasta, mas ganhou uma goleadora vencedora do prémio do SJPF de Melhor Jogadora da primeira volta do Nacional Feminino.

Ao início, nem era a bola que mais mandava. Aos dois anos de idade, Mafalda Marujo estava longe de saber que haveria de ser uma grande futebolista. Nessa altura dava os primeiros passos na ginástica acrobática, desporto no qual acabou por se federar aos cinco anos. “Mas sempre tive o gostinho de jogar futebol com os amigos na rua”, ressalva.

Hoje, Mafalda é avançada do Futebol Benfica e até já arrebatou o Prémio do SJPF para a Melhor Jogadora da primeira volta do Nacional Feminino. Aos 22 anos, está há quatro temporadas no futebol, em competição. Desde os 13 anos que se treinava no Ponte Frielas, mas só pôde jogar quando atingiu a maioridade. “A iniciativa de experimentar jogar futebol partiu de mim. O meu pai nunca me tinha dado uma bola para jogar e a minha mãe também não me incentivava, nem gostava muito da ideia. Mas sempre fui maria-rapaz”, confessa, “e gostava muito de ver futebol”. Nesta altura, o apoio familiar é diferente, e Mafalda não deixa de dar uma palavra de agradecimento à mãe: “ela é o meu pilar, ela é que me apoia sempre, mesmo no final dos treinos pergunta como correu”.

A presente temporada é a quarta época em competição, a terceira no Nacional Feminino. Quando começou, Mafalda Marujo “não estava muito nervosa, a segunda divisão não é tão exigente e eu não levava o futebol muito a sério. Só quando cheguei ao Nacional Feminino é que vi que tinha de ser mais exigente comigo mesma”, observa a jogadora. “Num dos primeiros jogos”, recorda, “aconteceu uma situação caricata, contra o Futebol Benfica. Saí os 20 minutos porque não aguentei a pressão. A partir daí percebi que tinha de me controlar mais”.

A chegada ao Futebol Benfica fez-se após dois anos no Escola de Setúbal. Na época transata, Mafalda havia sido a melhor marcadora do Nacional Feminino e isso valeu-lhe uma convocatória para a Seleção, bem como a contratação do Futebol Benfica. “O projeto do Pedro Bouças [treinador do clube lisboeta] é ser campeão e falou comigo para eu integrar o plantel. Ao início estava reticente, mas pelos objetivos e pela ambição dele, acabei por aceitar. Hoje não me arrependo”, reforça. Quanto à conquista do campeonato, “estamos confiantes, mas vamos lá ver… Ainda faltam jogos complicados”, admite. “As primeiras quatro equipas são muito boas e estão focadas para ser campeãs. No futebol feminino não podemos dizer, como acontece no masculino, que este ou aquele vai ser campeão. Os jogos são todos diferentes, o favoritismo não é evidente”.

De maneira a dar mesmo tudo à competição, Mafalda Marujo parou com os estudos na Lusófona, de Gestão de Empresas, “por um ano”. “Era muita coisa, já não dava. Além de estudar, jogava futebol e ainda ajudava no café da minha mãe. A partir do momento em que parei de estudar, pude dedicar-me a 100 por cento. Vou ajudando a minha mãe mas de resto é só futebol, futebol, futebol”, explica. “Era complicado”, reitera a jogadora do Fofó, “mas tinha de gerir”. Mas o esforço deu frutos.

É com orgulho estampado no sorriso que Mafalda Marujo fala dos dois jogos pela Seleção, em jornada dupla no final de 2013. “Vestir a camisola da Seleção foi… espetacular. Em qualquer desporto que se faça, o ponto alto, para mim, é representar essa camisola”, confessa a avançada.

De qualquer forma, Mafalda ainda tem sonhos por cumprir. “O meu maior sonho é jogar no estrangeiro”, revela, “gostava de jogar em Espanha ou na Alemanha. A liga alemã é completamente fora do normal, é muito competitiva. Nem sei explicar”. O desejo de fuga existe, acima de tudo, pela não profissionalização das competições femininas em Portugal. “Nós nem sequer temos formação”, nota, “por isso se os três grandes apostarem [no futebol feminino] é mais fácil, porque vamos ter mais horas para treinar e estaremos mais concentradas”.

A jovem jogadora não acaba a conversa sem dar uma palavra de apreço ao trabalho desenvolvido pelo Sindicato: “Acho muito importante a existência do SJPF porque vai ajudar a que haja mais apoiantes e mais praticantes. A Carla Couto é a pessoa indicada porque já tem muitos anos de futebol e ela sabe como o futebol feminino funciona. as pessoas têm a mania de comparar mas não tem nada a ver com o futebol masculino. Com este prémio posso ter outra visibilidade, talvez até lá fora”, remata.


Perfil

Ana Mafalda Jesus Marujo
Posição: Avançado
Data de Nascimento: 24/08/1991
Clubes: Escola de Futebol Feminino de Setúbal e Futebol Benfica