"O capitão deve ter o respeito do grupo"


Aos 27 anos, VAGNER, guarda-redes do Estoril, não acusa a responsabilidade de ser representante máximo em campo da sua equipa.

Quais são as suas expectativas para esta época, a nível pessoal e coletivo?
Para esta época, na verdade, queremos garantir a permanência na I Liga, antes de mais. Depois disso, queremos lutar pelos lugares europeus, tal como aconteceu na época passada, esta é a nossa maior ambição. A nível pessoal, quero manter o bom trabalho que tem sido realizado e almejar algo grande para o futuro. Estou muito feliz no Estoril, mas sou um jogador muito ambicioso e quero poder representar um grande.

É o capitão do Estoril. Como é que foi escolhido para o cargo?
Isso surge ainda na época em que o João Coimbra é capitão [em 2009/2010] e eu fui selecionado para ser sub-capitão. Quando o Coimbra deixou de jogar, a confiança que tenho com o Marco [Silva, treinador do Estoril], que é forte, e acabei por me tornar capitão. Teve também a ver com o espírito de liderança que tenho e pelo respeito que reúno de todos os companheiros, que é muito bom. Além disso, já tenho muitos anos de casa.

Ficou surpreendido com a escolha?
Não, eu sempre mantive a mesma conduta, sendo capitão ou sub-capitão. É uma coisa normal. No Estoril todos são capitães, todos têm direito à sua opinião e todos lutam pelo mesmo motivo, isso é que é importante. A nossa união é que faz a força. Mas é claro que ser capitão do Estoril é uma honra.

Além do Estoril, foi capitão noutros clubes por onde passou?
Fui sempre capitão, em toda a minha vida. Desde os 14 anos: fui capitão infantil, juvenil, de juniores e também aqui como sénior. Mas fico feliz por poder passar para dentro de campo tudo o que tenho aprendido e sinto-me orgulhoso por ter alcançado essa conquista, que é ser capitão.

Quais são as características de um bom capitão?
Nós costumamos dizer que no futebol toda a gente se dá bem, mas não é bem isso que acontece. O que o capitão deve fazer é que toda a gente se respeite. Essa é a sua principal característica, deve ter o grupo na mão. Faz parte que nem toda a gente goste de ti, mas o respeito é que dita tudo. E ter o respeito do grupo é fundamental para um capitão. O jogador que nasça com o espírito de capitão chega a um clube e tem um respeito imediato, mesmo que acabe por não ser escolhido para a função. No Estoril, é isso que nos tem levado ao sucesso até agora.

Ser bom capitão é determinante no sucesso da equipa?
Acho que ajuda muito. Mas o capitão não joga sozinho, por mais que ele tente segurar tudo. Em muitos clubes, às vezes o capitão fala e o que ele falou está falado. Eu acho que o melhor de tudo que acontece no Estoril é que o capitão tem a sua voz mas todos têm o direito à sua opinião, mesmo que seja contrária. Mesmo que seja um miúdo que acabou de chegar dos juniores, ele vai ter o mesmo peso dentro do grupo.

O capitão deve falar com o árbitro durante o jogo?
Não costumo falar muito com o árbitro. Só costumo orientá-los para alguma coisa em que eles também nos orientam, coisas normais como o tempo. Não costumo queixar-me das arbitragens porque, se nós erramos em campo, os árbitros também têm o direito de errar, eles são humanos como nós. Falar com o árbitro impõe um certo respeito mas, é como eu digo, o capitão é um jogador normal como todos os outros. O diálogo é importante, a cobrança de erros é que já não faz o meu perfil.

Sendo guarda-redes, a ação de capitão durante o jogo fica dificultada?
Vou confessar uma coisa: no começo, sofri um certo preconceito. Não vou dizer nomes, mas quando comecei aqui no Estoril houve um árbitro que até gozou comigo. E isso é bobagem, porque há muitos guarda-redes em todo o mundo que são capitães. Hoje sinto um respeito muito maior, acho que conquistámos isso. Talvez pelo facto de a gente não falar muito da arbitragem. Sinto-me feliz por isso porque é um reconhecimento do trabalho que tem sido feito.

Há algum capitão de equipa que tenha como exemplo?
Ao longo da minha vida aprendi muita coisa com o Marco [Silva], ele sim foi um verdadeiro capitão, um dos melhores que já tive. É um “cara” fantástico, apanhei-o quando ele ainda jogava, em final de carreira. E ele manteve sempre a mesma conduta, que achei verdadeiramente impressionante. Além do Marco, há outro jogador de quem sempre fui muito fã que é o Rogério Ceni, do Sã Paulo. Esses são dois grandes exemplos para mim.  

Como tem vista a atuação do SJPF?
Costumo acompanhar tudo o que o Sindicato faz. É importantíssimo, todos os países deveriam ter um sindicato assim. É um auxílio enorme. Quando o jogador está bem, toda a gente aplaude. Mas quando a coisa não está boa, é o Sindicato que te dá apoio moral que te influencia a melhorar um futuro próximo. Já para não falar, claro, de toda a assistência que o sindicato dá, especialmente na época difícil de crise que atravessamos.

Perfil
Vagner da Silva
Data de Nascimento: 6 de junho de 1986
Clubes: Atlético Paranaense, Ituano, Desportivo Brasil (São Paulo), Estoril-Praia