“Aos 31 anos já era considerado velho”
Aos 35 anos, JOSÉ PEDRO atua no Alcochetense em busca da escalada até ao Campeonato Nacional de Seniores. O ex-Belenenses pode não estar já nos grandes palcos, mas continua ao mais alto nível.
Nos distritais, o ritmo não é muito diferente das outras competições. Não fossem os treinos às sete da tarde e José Pedro, após uma carreira recheada na I Liga, não daria conta que está a jogar no Alcochetense. Embora ainda esteja aberto a novas propostas, o ex-Belenenses está feliz no clube da margem sul do Tejo, onde faz parte daquilo a que chama de “projeto interessantíssimo”, mesmo depois de ter sido convidado para ir para o Pinhalnovense e o União de Montemor. Chegou a ser convidado para ir para o Feirense, mas “as condições financeiras não eram as mais adequadas àquilo que eu estava à espera”, e por isso ficou em Alcochete. “Estamos em terceiro a cinco pontos do líder e a meta é ficar em primeiro. Temos uma equipa capaz de alcançar esse objetivo, apesar de ainda faltar muitos jogos”, observa. “Onde o meu diretor mete o bedelho, normalmente não é para facilitar”, atira, com alguma graça, “já joguei em clubes da I Liga e, em termos de organização, poucos estavam tão bem como este”, conta José Pedro, recordando outros tempos.
A vida no futebol começou bem cedo para José Pedro. “Vivi dez anos em Setúbal”, relembra, “fiz três nos Ídolos da Praça, três anos nos Pelézinhos e depois mais três anos no Benfica e outros três no Montijo. Só depois é que fui para o Barreirense. Tive problemas no meu último ano de juvenil por causa do crescimento e acabei por ir para o Montijo. Quando eu subi a sénior, o meu treinador dos juniores era adjunto do Barreirense e ele convidou-me para ir para lá”. Ainda menino, deixou-se integrar no meio dos homens e as coisas correram bem. Após ter sido titular ao longo da primeira época, e ter feito 10 golos, José Pedro viu que ali era o sítio ideal para jogar. Por lá ficou durante cinco épocas. “Saí para o Boavista quando o meu contrato terminou”, revela.
“No Boavista, joguei uma pré-eliminatória da Taça UEFA e um jogo do campeonato contra a Académica. Depois disso, pouco joguei”. Foi emprestado à Ovarense, onde acabou por ser parte do plantel que obteve uma das melhores pontuações de sempre do clube na II Liga. De regresso ao Boavista, foi-lhe dito que não faria parte da equipa e por isso acabou por ser emprestado ao Vitória de Setúbal. No início, a coisa nem correu lá muito bem, “mas mais tarde acabei por ser uma peça importante na subida de divisão”, tendo marcado oito golos.
Na época seguinte, “[Carlos] Carvalhal vai para o Belenenses e decide levar-me”. É aqui que tudo muda na vida de José Pedro. “Eu às vezes ainda penso que, na última década, não houve um jogador que tenha tido uma imagem tão colada ao Belenenses como eu”, reconhece. Na primeira temporada, o Belenenses fica em nono lugar. No ano seguinte, as dificuldades evidenciam-se e a equipa lisboeta acaba por ver-se numa situação mais apertada. Ainda assim, e devido ao caso Mateus, o Belém mantém-se no principal escalão nacional. O ano seguinte é ainda melhor: quinto lugar, final da Taça de Portugal e nove golos para José Pedro. “Esses anos com Jorge Jesus são ouro sobre azul”, admite.
Se uns anos foram o Paraíso, outros foram um inferno. “Em conversas que tinha com colegas, dava para ver que aquilo era uma casa a arder: aquisição de jogadores muito duvidosa, salários em atraso, três direções num ano, muitos problemas, falta de condições… É inadmissível a um clube que, dois anos antes, tinha ficado em quinto lugar, jogado com o Real Madrid e o Deportivo da Corunha num torneio amigável e com o Bayern de Munique para a Taça UEFA”, refere. Ainda assim, “tenho a consciência tranquila em como dei tudo de mim para ajudar o Belenenses. Foi uma carreira gira e importante”.
Sem convites para renovar por parte do Belenenses, José Pedro acabou por rumar ao Vitória de Setúbal e, embora não tenha tido muita sorte devido a lesões, o jogador diz-se “satisfeito” com a sua prestação, ao longo dos três anos que por lá andou.
Agora, a meta é ficar em primeiro no Campeonato Nacional de Seniores, para chegar à Liga2. E José Pedro está muito agradado com o projeto do Alcochetense, até porque visão é coisa que parece faltar aos dirigentes em Portugal. “Por exemplo, de todos os clubes por que passei, só a Ovarense me pagou a horas”, revela, “mesmo nesta conjuntura, também sei ver o que falta na gestão dos clubes. Sempre vou vendo como trabalham os melhores. É preciso capital, mas também é precisa disponibilidade e vontade das pessoas. Há coisas que os diretores que podem fazer que têm muito que ver com atitude, postura, profissionalismo e mentalidade”.
Isso vê-se também no que aconteceu há bem pouco tempo com José Pedro. “Um jogador que chegue a esta idade cai facilmente no esquecimento porque em Portugal um jogador com 30 anos já é velho”, explica, dando como exemplo a sua saída do Vitória de Setúbal no final da última época, já que “em termos físicos estive bem mas não fui opção”.
Com olho crítico no que toca às direções dos clubes por onde passou, José Pedro admite que existe um descrédito sobre o jogador mais velho. “No caso do Setúbal, o contrato terminou e ninguém me comunicou nada. Fiquei à espera a ver se aparecia alguma coisa mas não apareceu. Não sei se é a idade, mas a verdade é que com 31 anos, ainda no Belenenses, já era considerado velho”, refere. “Se calhar uma das razões para não ter tido qualquer convite quando saí do Setúbal”, continua, “foi o facto de não ter empresário. Por outro lado, acho que as direções e as equipas técnicas deveriam apostar também em jogadores experientes. Nós podemos ser um elo de união dentro do balneário e uma referência para os mais jovens”.
Quanto ao futuro, não teremos um José Pedro diretor desportivo, mas muito provavelmente um José Pedro treinador. “Eu prefiro treinar e gostava de trabalhar no campo, isso cativa-me mais”, conta, deixando entreaberta uma possibilidade: “no Alcochetense estão interessadíssimos que eu tire o segundo nível de treinador”.
Perfil
José Pedro Alves Salazar
Data de Nascimento: 18.10.1978
Posição: Médio
Carreira:
1997/2002 Barreirense
2002/2003 Boavista
2002/2003 Ovarense
2003/2004 Vit. Setúbal
2004/2010 Belenenses
2010/2013 Vit. Setúbal
2013/2014 Alcochetense