Não esqueças o meu nome

Além do seu virtuosismo técnico e notável visão de jogo, João Alves (nascido em Albergaria-a-Velha, a 5 de Dezembro de 1952) celebrizou-se pela particularidade de actuar sempre de luvas pretas - uma homenagem ao seu avô Carlos Alves, um dos melhores futebolistas nacionais nos anos 20. João, manteve a tradição do avô e nunca deixou de usar luvas pretas. Afinal, foi Carlos Alves quem o levou ao primeiro treino, na Sanjoanense.
Em São João da Madeira começou a dar nas vistas e depressa os grandes clubes quiseram deitar-lhe a mão. O FC Porto piscou-lhe o olho mas foi o Benfica quem ganhou a corrida. E assim, João Alves ingressou nos juvenis do clube da Luz. Nesse escalão e nos juniores – foi nesta fase que começou a jogar com as luvas pretas (estão em exposição no museu do Benfica), num jogo dois dias depois da morte do seu avô – sobressaiu essencialmente pela sua extraordinária visão de jogo.
No primeiro ano de sénior foi emprestado ao Varzim. E continuou a brilhar. Jimmy Hagan ordenou o seu regresso à Luz. Mas, por pouco tempo. Um desentendimento entre João Alves e António Simões num jogo particular em Fraemunde (homenagem a Santana) levou o Benfica, por 600 contos (exactamente a mesma verba que pagou para evitar que Alves fosse mobilizado para a Guiné por causa da Guerra Colonial), a transferi-lo, em definitivo, para o Montijo.
No clube da Margem Sul do Tejo estreou-se na I Divisão. Na época seguinte, em 1974/75, o Boavista, de José Maria Pedroto, não hesitou em contratá-lo por 1500 contos. No seu seu primeiro ano de xadrez ao peito, a vingança: Ganhou a Taça de Portugal precisamente contra o Benfica. Marcou o golo da vitória (2-1). "Provei aos dirigentes do Benfica que não me quiseram no clube que, afinal, sabia jogar futebol", disse.
No Bessa, tornou-se um ídolo e um dos melhores jogadores nacionais. Estrangeiro. Alves jogava e fazia jogar. O Boavista voltou a vencer a Taça de Portugal. O Bessa já era pequeno para o seu talento e, em 1976, o Salamanca pagou 12 mil contos pelo seu passe fezlhe uma proposta irrecusável. Durante dois épocas encantou nos estádios espanhóis.
Em 1977/78 foi mesmo eleito o melhor jogador estrangeiro da liga espanhola. Entre outros, bateu Cruijff, Neeskens e Kempes.
Há alguns anos, numa votação promovida pela imprensa salamantina, os leitores elegeram esmagadoramente Alves como o melhor jogador da história da U. D. Salamanca.
Benfica e PSG.
No final dessa temporada decidiu regressar a Portugal. Novamente disputado por FC Porto e Benfica, escolheu os encarnados. Mas lá ficou por pouco tempo. Em 1979/80 voltou a emigrar. Agora, para o Paris Saint-Germain.
Numa forma fantástica, à terceira jornada, foi vítima de uma entrada brutal por parte de Genghini (Sochaux). Perna partida e uma época perdida. No final da mesma, voltou ao Benfica.
Na Luz se manteve por três épocas, conquistando dois campeonatos nacionais.
Em 1983, a ruptura. Apesar de titular indiscutível ao longo da época, SvenGoran Eriksson decidiu deixá-lo de fora nos dois jogos frente ao Anderlecht, na final da Taça UEFA. Magoado, regressou ao Boavista. E jogou mais duas épocas.
Para a posteridade ficam dois campeonatos nacionais, quatro Taças de Portugal, uma Supertaça, 36 internacionalizações (três golos) e o perfume do seu futebol. Treinador. Na época de 1984/85, Valentim Loureiro pediu-lhe que substituísse Mário Wilson no comando técnico do Boavista. Aceitou e assim iniciou a sua carreira de treinador. Além dos axadrezados, João Alves já treinou Estrela da Amadora (ganhou uma Taça de Portugal), Vitória de Guimarães, Belenenses, Salamanca, Campomaiorense, Farense, Académica e Leixões.
Alves foi ainda o responsável pela "descoberta" de vários jogadores de renome como Paulo Bento, Pedro Barbosa, Abel Xavier, Pauleta, Michel Salgado, Pedro Barny e Tonel, entreoutros.
Há alguns anos sem treinar alguma equipa e enquanto espera por um convite atractivo, João Alves dedica-se a ensinar a sua arte na Escola de Futebol "Luvas Pretas", em Vila Nova de Santo André. Não é pelo professor que não vão surgir novas pérolas...