“O futebol já faz parte da minha vida”


Capitã do Bobadelense em entrevista.

Sara Pardal, defesa de 24 anos que representa o AD Bobadelense, conta como chegou ao futebol feminino, fala dos objectivos para o futuro e analisa o trabalho desenvolvido pelo Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF) em prol da modalidade, “À Conversa com Carla Couto”.

Carla Couto (CC): Há quantos anos praticas futebol?
Sara Pardal (SP): Este é o meu quinto ano de federada, sempre no AD Bobadelense.

CC: Como surgiu o gosto pelo futebol? Porquê o futebol e não outra modalidade qualquer?
SP: Se calhar porque tenho um irmão mais velho e ele sempre jogou futebol aqui no AD Bobadelense. Passei a minha infância com ele e com os amigos e eles sempre jogaram à bola e jogávamos todos na rua. Depois comecei a estudar e representei as equipas da minha escola. Entretanto surgiu esta oportunidade perto de casa e vim treinar ao clube, gostei e ainda cá estou cinco anos depois.

CC: Como foi a aceitação da tua família quando quiseste enveredar pela prática da modalidade?
SP: A minha família sempre aceitou, nunca me proibiram de nada e aceitaram bem.

CC: Isso significa que sempre tiveste a vida facilitada?
SP: Sim.

CC: E a relação com os teus amigos, como viram eles uma mulher a jogar futebol?
SP: Na altura reagiram bem porque quando vim para o clube com mais duas amigas do meu grupo, que actualmente já não estão cá. Eles apoiaram-me sempre, viam os meus jogos e às vezes até iam assistir aos encontros do Bobadelense fora de casa.

CC: Quem é a Sara, além do futebol?
SP: Vivo na Bobadela com os meus pais e neste momento estou também a trabalhar na Vodafone, no call center que fica no Parque das Nações.

CC: Onde foi a tua formação? Foi sempre no Bobadelense? Porque não estás a estudar e já trabalhas?
SP: Acabei o meu curso profissional (12.º ano), que não foi o que estava à espera. Entretanto não sabia se ia para a faculdade e enquanto me decidia optei por trabalhar para juntar dinheiro, caso decidisse ir para a universidade. Mas estando a ganhar o meu próprio dinheiro, acabo por esquecer um pouco os estudos e foi isso que aconteceu.

CC: E não pensas voltar a estudar?
SP: Não, neste momento já não penso voltar a estudar.

CC: E porquê?
SP: Porque já estou habituada a ter o meu dinheiro no final do mês para as minhas coisas e neste momento não tenho tempo para estudar. Entro às 11 horas no call center e às oito da noite venho para aqui.

CC: Como concilias o trabalho com o futebol? É difícil desenvolveres as duas actividades?
SP: Não, porque quando fui trabalhar, expliquei à minha empresa que precisava dos domingos uma vez que jogava futebol. Nesse caso os meus chefes foram excelentes e tenho as folgas fixas ao domingo e portanto não tenho qualquer problema. Quando os jogos são ao sábado, eles acabam por me deixar tirar férias nesse dia ou fazer uma troca com um colega, por isso não tenho qualquer problema nesse sentido. Sou uma privilegiada.

CC: Durante estes cinco anos que estás ligada ao AD Bobadelense, quais são as maiores dificuldades que tens encontrado durante este período?
SP: Penso que nunca nos colocaram muitas dificuldades porque, para um clube não pagante, temos todas as condições. A nível de balneários, de equipamentos, de treino e de jogos não tenho qualquer queixa a fazer.

CC: Qual é o teu objectivo enquanto atleta?
SP: Eu espero e acredito que um dia, ainda atleta deste clube, consiga chegar à Primeira Divisão Nacional.

CC: Se fosses tu a liderar o futebol ou o país, que alterações farias para melhorar o futebol feminino?
SP: Gostava que deixasse de ser amador e passasse a profissional, mas penso que seja complicado porque a sociedade não está preparada para isso. Não estou a ver o meu pai a ir ver um jogo de futebol feminino do Sporting a Alvalade, se o clube fundasse uma equipa de futebol feminino.

CC: Com os anos de experiência que tens na modalidade, quais são as melhorias que tens visto no futebol feminino e que têm sido uma mais-valia?
SP: Sinceramente não noto grande diferença desde que iniciei até à data de hoje.

CC: Como tens visto o trabalho do Sindicato em prol do futebol feminino?
SP: Vejo a maior parte das notícias no portal do futebol feminino e acompanho o trabalho desenvolvido pelo Sindicato. Recordo-me que já no passado o SJPF esteve aqui no Bobadelense e todos os anos visitam os clubes. Penso que é um trabalho positivo.

CC: Em termos pessoais, quais são os teus objectivos a curto prazo?
SP: No próximo ano tenciono conseguir juntar algum dinheiro para sair de casa dos meus pais e conseguir a minha própria vida, a minha própria independência.

CC: E conciliar com o futebol?
SP: Sim, sempre.

CC: Pensas jogar até quando?
SP: Até conseguir.

CC: O que significa o futebol para ti?
SP: Já faz parte da minha vida. Às vezes é difícil conciliar o cansaço. Saio às oito da noite do trabalho e tenho que vir a correr para aqui. No passado já pensei em desistir e às vezes não me apetecia vir ao treino, mas agora quando estou doente e não venho ao treino, ou por qualquer outro motivo, já sinto falta do futebol.

CC: Sentes-te feliz e realizada?
SP: Sim, muito.