“Há jogadoras com muita qualidade em Portugal”
Defesa do Olímpico do Montijo em entrevista.
Aos 23 anos, a defesa lateral norte-americana, nascida em Portugal, Jennifer Cordova, ambiciona atingir o patamar superior do futebol feminino: jogar na Liga dos Campeões. A jogadora do Olímpico do Montijo, da série D do Promoção Feminino, esteve à conversa com Carla Couto e falou dos seus objectivos a médio e longo prazo e do momento actual da modalidade em Portugal.
Carla Couto (CC): Quem é a Jennifer?
Jennifer Cordova (JC): Nasci em Lisboa, sou de origem filipina, mas a minha nacionalidade é norte-americana. Parece ser um pouco estranho, mas esta situação deve-se ao facto de o meu pai ser americano e ter trabalhado para a NATO. Como a minha mãe estava grávida e veio para Portugal, nasci cá mas fiquei com a nacionalidade americana. Vivo em Lisboa, em Alcântara, com os meus pais e estou no terceiro ano da licenciatura em enfermagem. Tenho 23 anos e apenas comecei a competir esta época. Estou a aprender muito e a tentar evoluir como jogadora. Apesar de viver em Lisboa, jogo no Montijo porque foi o clube que me deu uma oportunidade.
CC: O que mais gostas de fazer?
JC: Sempre gostei de fazer coisas novas para ver se consigo ir mais além. Tento melhorar todos os dias, gosto muito de futebol e do ambiente da equipa. As jogadoras do Olímpico do Montijo são amigas, o ambiente no balneário é bom e existe espírito de grupo, uma vez que vimos todas juntas para os treinos. Gosto de jogar futebol, comecei a jogar na escola com os amigos e um bocadinho na rua e, apesar de ser uma modalidade associada aos rapazes, sempre gostei de jogar à bola. O futebol feminino está a evoluir e também fui um pouco influenciada pelo meu namorado, que também joga.
CC: Além do futebol tens a paixão pela enfermagem. Como concilias estas duas paixões?
JC: Desde pequenina queria ir para a América, mas só comecei a gostar do curso no ano passado quando estive em contexto hospitalar e vi que era aquilo que queria fazer. Gosto de ajudar quem precisa e de ser útil para os outros. É difícil conciliar com o futebol, porque estou oito horas no hospital, a tratar e a dar banho aos doentes e às vezes trabalho até tarde e ainda vou treinar. O dia passa a correr. Mas vir para o futebol parece que me limpa a mente. Posso estar cansada o dia todo, mas saio do treino e não estou cansada. O futebol ajuda a libertar energias.
CC: Como foi a reacção da tua família, quando decidiste jogar futebol?
JC: A minha família sempre me apoiou em tudo, em todas as minhas decisões. O meu pai sempre me disse que o futebol é importante e que se eu não prejudicasse a escola ele apoiava-me sempre no que fosse preciso.
CC: Como vês neste momento o futebol feminino, comparando com o que era há uns anos? Sabendo que não jogaste e só conheces agora a realidade, quais são as maiores dificuldades que encontras enquanto jogadora de futebol?
JC: Os meus amigos dizem que as raparigas não jogam futebol a sério, dizem que nós estamos a brincar. Hoje em dia já há mais equipas fortes, mas mesmo assim não acreditam. Os meus amigos não confiam muito no trabalho do futebol feminino. Aquilo que eu vejo quando estamos a treinar é que os homens, quando estão a ver os treinos das raparigas, parece que nos olham com gozo. Se calhar estamos a trabalhar para ganhar e vamos conseguir evoluir com o trabalho e mostrar a toda a gente que somos capazes e que temos tantas capacidades como os homens.
CC: Até onde é que a Jennifer gostava de chegar enquanto jogadora?
JC: Quero fazer o meu máximo, apesar de não ter a técnica que devia ter se tivesse começado logo de início. Mas vou fazer tudo para ser uma boa jogadora.
CC: E onde é que gostavas de chegar? Qual é o teu objectivo?
JC: É chegar ao patamar mais alto. Queria chegar à Champions. Esse é o meu objectivo.
CC: E um objectivo pessoal? Algo que gostasses muito de atingir, um clube onde gostasses muito de jogar?
JC: Gostaria de jogar no Sporting.
CC: Gostarias que o Sporting tivesse uma equipa de futebol feminino?
JC: Sim, claro.
CC: Se tivesses o poder de decidir, o que mudarias no futebol feminino?
JC: Introduzia mais patrocínios e apoios para as novas equipas porque, por exemplo, a nossa equipa não tem muito apoio em termos de patrocínios. Também penso que se deveria divulgar mais a modalidade.
CC: Como valorizas as equipas portuguesas que tens defrontado? Tem sido o que esperavas? O que pensas da qualidade das jogadoras?
JC: Penso que há jogadoras que têm muita qualidade e há equipas que jogam mesmo em equipa. Temos mostrado que Portugal tem boas jogadoras e capacidade para chegar ao topo.
CC: Tens acompanhado a Selecção Nacional?
JC: Sinceramente não, mas às vezes vejo gravações.
CC: Qual é a tua jogadora preferida da Selecção Nacional?
JC: Cláudia Neto.
CC: Muitos clubes têm vindo buscar jogadoras a Portugal. Como vês esta situação? Acreditas que é uma mais-valia?
JC: O facto de os clubes estrangeiros virem buscar jogadoras portuguesas significa que as futebolistas de Portugal são boas e têm capacidade para ir mais além. Isso ajuda à evolução da modalidade.
CC: Como vês o trabalho que o Sindicato tem feito em prol do futebol feminino?
JC: Julgo que é uma mais-valia e um suporte para as jogadoras poderem evoluir. Se quiserem jogar futebol, têm no SJPF um apoio que as ajuda a proteger.
CC: Qual é o teu maior desejo?
JC: Ser uma boa jogadora e conseguir mostrar às pessoas que não acreditam que sou capaz. O meu maior desejo é tentar ser melhor, dia após dia.