“Vejo com agrado a participação de ex-jogadores no dirigismo”
Presidente da FPF em entrevista.
Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), foi recentemente eleito para o Comité Executivo da UEFA.
Em entrevista ao SJPF, o dirigente fala-nos da importância que o cargo tem para o futebol português.
O que representa o cargo no Comité Executivo da UEFA?
É importante para o futebol português, que passará a ter uma voz no organismo que dirige o futebol europeu. Das 54 federações, apenas cinco são de grande dimensão. As restantes possuem dimensão semelhante ou inferior à nossa. O que temos feito em Portugal poderá, desse ponto de vista, ser inspirador. Não deixarei de partilhar a nossa experiência e o que aprendemos.
Como vê o futebol português no plano internacional?
Portugal é quinto no ranking da UEFA e sétimo no ranking da FIFA. As nossas selecções participam com regularidade nas maiores provas internacionais, em diferentes escalões. O melhor jogador do Mundo é português, os nossos treinadores e árbitros participam regularmente nas maiores competições, com destaque. Além disso, os clubes portugueses têm apresentado resultados na Europa. Sempre que organizamos grandes competições fazemo-lo de forma a merecer elogios. O futebol português atravessa uma fase muito positiva e isso é reconhecido lá fora.
Quais são os desafios do futebol português e da UEFA e como pode contribuir para ajudar a resolvê-los?
O principal desafio no futebol português é criar mecanismos que promovam a sustentabilidade financeira e a capacidade competitiva dos clubes. A aposta na formação e o equilíbrio financeiro são muito importantes e é aí que a FPF foca grande parte da sua acção. Essa é também uma preocupação da UEFA, que pretende criar condições de crescimento para as nações com menos recursos, de modo a diminuir o fosso entre estas e os países mais fortes. O combate às apostas ilegais, a integridade desportiva, a emigração ilegal de jovens jogadores são outros assuntos na agenda. No caso das apostas, demos um passo em frente quando o Conselho de Ministros aprovou o novo diploma regulador do jogo e das apostas online. Há anos que elaborávamos uma legislação para as apostas de acordo com as recomendações da Comissão Europeia e as melhores práticas internacionais.
O Sindicato e a FIFPro representam os jogadores. Como perspectiva a relação com estas organizações
É uma relação de trabalho, diálogo permanente e aprendizagem partilhada. Ao longo do tempo, UEFA e FPF têm dado provas de que só colaborando poderemos ajudar a resolver os desafios que uma actividade como a nossa sempre levanta. Todas as entidades devem estar disponíveis para conversar e chegar às melhores soluções. É isso que temos feito e, estou seguro, continuaremos a fazer. Entre a FPF e o Sindicato existe um protocolo que renovámos até 2016. Quanto à FIFPro, é de realçar que participa no Comité Estratégico da UEFA. Recentemente as duas entidades apresentaram à Comissão Europeia uma queixa relacionada com os fundos de investimento, um sinal de colaboração.
O incumprimento salarial atinge cada vez mais clubes. Que medidas preconiza e como se justifica que um negócio de milhões não pague aos seus protagonistas? O reforço do fair-play financeiro é o único caminho?
O incumprimento salarial é inaceitável. O reforço dos mecanismos do fair-play financeiro é essencial para garantirmos que os clubes que participam nas competições têm de facto os meios financeiros para fazer face aos encargos.
O que pensa relativamente ao fim dos fundos de investimento? Os clubes portugueses terão de encontrar outras fontes de financiamento?
A decisão sobre os fundos de investimento e a partilha de passes de jogadores foi tomada pela FIFA. Desde 2012, quando soubemos da possibilidade de as regras mudarem, que tentámos ajudar os clubes portugueses a entender o que poderia estar em causa. Entretanto passaram três anos, foi tempo que se ganhou para a necessária adaptação. Trata-se de uma decisão com impacto, sem dúvida, mas estou convencido de que os clubes portugueses saberão – como sempre souberam – encontrar soluções.
O que deve ser feito para combater o match-fixing?
É provavelmente o maior desafio que o futebol enfrenta. É um flagelo e um combate que deve ser de todos os que gostam do jogo. Nesta lista incluo a comunicação social, além das autoridades policiais e judiciais. No ano passado, o Conselho da Europa aprovou uma Convenção sobre a Manipulação de Competições Desportivas (CMCD), que cria um enquadramento legal apto a responder em casos de manipulação de competições desportivas. Ao aderir, Portugal comprometeu-se a fazer tudo para combater e eliminar essas práticas, o que é uma boa notícia, a juntar à regulamentação das apostas online. Acrescentem-se medidas de identificação de factores de risco, bem como a formação de agentes e organizações desportivas para tal fenómeno.
Que mudanças gostaria de ver no futebol europeu?
A UEFA e a Associação Europeia de Clubes (ECA) estabeleceram novo memorando de entendimento até 2022. Foi aprovado um aumento substancial dos valores disponíveis para os clubes participantes e dos pagamentos de solidariedade. A distribuição entre clubes da Liga dos Campeões e da Liga Europa também ficou mais equilibrada. Na próxima época o número de clubes que participam na Youth League duplicará, permitindo que os campeões de cada país também participem. Em 2018 começará uma nova competição, a Liga das Nações. Abriu-se a possibilidade de os stakeholders participarem nas decisões do Comité Executivo.
Cada vez mais ex-jogadores assumem posições de destaque nas estruturas do futebol nacional e internacional (veja-se o exemplo da sua direcção e da candidatura de Luís Figo). Como se pode potenciar essa aposta?
Vejo com muito agrado a crescente participação de antigos jogadores nas estruturas dirigentes do futebol. A experiência como futebolista é um excelente ponto de partida e o saber que acumularam é um capital que não deve ser perdido. Por outro lado, a função de dirigente possui especificidades e exige de quem praticou futebol pelo menos disponibilidade para aprender competências que completem a experiência de campo.
Que opinião tem sobre o trabalho do SJPF?
Tenho uma opinião muito positiva. Sem deixar de defender as posições dos seus associados, o Sindicato tem provado ser um parceiro responsável e capaz de trabalhar em conjunto para o bem do futebol. A renovação do protocolo entre FPF e Sindicato é um sinal da vitalidade da relação entre as duas entidades.