Pai vs. Filho


Pai e filho são adversários no CNS.

O defesa do Alcanenense, Paz Miguel, e o avançado do União de Leiria, Miguel Miguel, representam uma situação rara no futebol português. Pai e filho jogam na série F do Campeonato Nacional de Seniores (CNS), mas em clubes diferentes.

São várias as histórias de pais e filhos no futebol português. António André e André André, João Vieira Pinto e Tiago Pinto, Domingos Paciência e Gonçalo Paciência, Washington Alves e Bruno Alves, José Carlos e Filipe Ferreira, entre muitos outros. Mas esta história tem uma particularidade especial. É que o pai e o filho conseguiram alcançar a proeza de jogarem como seniores na mesma temporada e logo na mesma divisão.

Tudo isto se deve à já longa carreira de Paz Miguel no futebol. Aos 43 anos, o defesa central do Alcanenense representa um caso raro de longevidade nos relvados. “A minha longa carreira de jogador deve-se ao facto de ter uma vida regrada. Não fumo, não bebo álcool e trabalho sempre muito bem nos treinos. Além disso, quando tenho disponibilidade, faço outro tipo de desportos como bicicleta e corrida”, conta o pai de Miguel Miguel.

O filho, de 19 anos, formado nas escolas do Benfica, joga como extremo e admite que defrontar o pai é algo que nunca tinha ima­ginado. “É um motivo de orgulho e fico feliz por saber que com a idade que ele tem ainda joga futebol. Fico contente quando o de­fronto, tenho um sentimento especial, mas encaro-o como outro adversário qualquer. A minha atitude em campo é exactamente a mesma.”

Paz Miguel afina pelo mesmo diapasão, admitindo que encara o filho como outro adversário qualquer. Questionado sobre os prin­cipais pontos fortes do pai, Miguel Miguel, que joga de óculos ao estilo de Edgar Davids, responde da seguinte forma: “O meu pai é muito forte no jogo aéreo, no desarme e é um jogador muito agressivo. Com a idade que tem continua a sê-lo e penso que será muito difícil para mim jogar até à idade que ele tem neste momento.”

O capitão do Alcanenense faz uso da sua sabedoria para acon­selhar os mais novos, como o seu filho, a singrar no futebol. “Os jovens de hoje têm muita qualidade e capacidade. Se querem ser jogadores de futebol têm de trabalhar, porque sem trabalho não se vai a lado nenhum. Uns ouvem-me, outros não, uns querem andar para a frente, outros não querem. É complicado fazer che­gar a mensagem a todos.”

Paz Miguel e Miguel Miguel não tencionam vir a jogar na mesma equipa

Com os pés bem assentes na terra, Miguel assegura que ouve com atenção os conselhos do pai: “Se marcar três, quatro ou cin­co golos, nunca estará tudo certo. Há sempre algum aspecto a corrigir, há sempre aquele conselho do meu pai, que quando tem possibilidade, assiste aos meus jogos”.

Paz Miguel e Miguel Miguel são naturais de Torres Novas. O pai formou-se no clube da terra, que representou em quatro tempo­radas. No entanto, o clube onde está há mais épocas é o Alcane­nense, que representa desde 2010.

“Estou no Alcanenense há cinco épocas porque foi o clube que me deu a mão. Saí do Torres Novas porque as pessoas que es­tavam à frente da direcção achavam que eu já não tinha mais condições para jogar futebol. O presidente e treinador do Alcane­nense, José Torcato, conhecia-me e deu-me a oportunidade de representar o clube”, revela o defesa central que nunca foi abor­dado por um clube dos campeonatos profissionais.

Apesar de terem tido a oportunidade de jogar um contra o outro na mesma época, pai e filho negam a possibilidade de virem a actuar na mesma equipa.

Paz Miguel ainda não pensa no fim da carreira e admite vir a re­presentar o Alcanenense na próxima temporada como jogador. No entanto, já está a pensar no futuro e confessa que gostaria de vir a colaborar com um treinador como adjunto. Por sua vez, Miguel Miguel alimenta o sonho de jogar na Liga dos Campeões e de chegar o mais rapidamente possível à Primeira Liga.