“O Vitória não é um clube qualquer”
Capitão do V. Guimarães em entrevista exclusiva.
Formado no clube e com quase 200 jogos na I Liga, Moreno mereceu a braçadeira de um clube com a tradição do Vitória. Aos 33 anos, renovou por duas épocas, para descanso dos adeptos minhotos.
Mereceu a braçadeira de capitão. Como foi eleito?
Foi uma decisão da equipa técnica. O míster Rui Vitória escolheu-me a mim, ao Douglas e ao André André como capitães.
Já tinha sido capitão noutros clubes?
Já tinha sido no Vitória antes de emigrar, depois voltei a ser no Nacional e no regresso a Guimarães voltei a ser capitão.
Sente que impõe uma liderança natural no balneário?
Sinceramente, não. Se calhar o treinador vê em mim alguns traços de liderança, mas não me vejo nada diferente de qualquer outro colega. O grupo era jovem, mas muito responsável. Quase que não necessitava de um capitão.
Que valores transmite aos mais jovens?
Aqui o capitão tem um papel mais importante do que noutros clubes, que é fazer passar aos que chegam o que é o clube e o que representa para a cidade. O Vitória não é um clube qualquer e só quem passa por aqui é que percebe isso.
Há algum capitão de equipa que tenha como exemplo?
Tive um, mais recente, o Flávio Meireles. Fiquei com bases dele, acima de tudo como pessoa. Num passado mais longínquo houve outro capitão que também me marcou, que foi o Romeu.
Do que costumam falar quando trocam galhardetes? Às vezes vemos os jogadores e o próprio árbitro a rir.
É normal. Há capitães que já se conhecem de outras épocas. Às vezes há ali alguma brincadeira para aliviar o stress. Mas depende das pessoas. Há árbitros mais acessíveis para ter uma conversa, outros avisam os capitães para que haja respeito mútuo.
Os árbitros são mais tolerantes com os capitães?
Não sei. Há respeito e penso que é assim que terá de ser. De algum tempo para cá isso tem melhorado muito, os árbitros são mais acessíveis, os atletas também estão muito mais educados e no fundo quem ganha com isso é o futebol.
Já foi expulso por palavras enquanto capitão?
Já. Realmente não sou dos melhores exemplos para falar porque há alturas em que me excedo, mas o tempo fez-me crescer. Se calhar por também já haver esse conhecimento entre árbitros e jogadores, por vezes há uma compreensão maior.
Jogou uns meses no Leicester. O que recorda?
Só tenho a dizer bem do futebol inglês, é simplesmente fantástico. Adorei, fui tratado de uma forma espectacular e a única frustração que tenho foi por não me ter conseguido impor dentro do campo e ficar lá mais anos, porque o futebol inglês é perfeito.
Leva quase 200 encontros na I Liga e jogou na Europa. Qual foi o jogo mais marcante da sua carreira?
Talvez o jogo da minha estreia, esse nunca irei esquecer. Era muito nervosismo, num derby frente ao Moreirense. É um jogo que me marca. Acabámos por empatar, se calhar nem fiz dos meus melhores jogos, mas foi o concretizar de um sonho, era uma coisa que queria muito: jogar no Vitória e na I Divisão.
O V. Guimarães sentiu problemas financeiros, mas a aposta na formação trouxe-lhe bons resultados. Sente que é por aí o caminho do futebol português?
Não tenho dúvida. Todos os clubes vão passar pelo que o Vitória já passou. O projecto está consolidado e acredito que só poderá ser ainda melhor. Mas não tenho dúvidas de que o futuro passa pela formação. Têm aparecido grandes talentos, não percebo porque há clubes que ainda não enveredaram por esse caminho.
Tem 33 anos. Já sentiu o estigma da veterania?
Olho para colegas com 20 anos e sinto que sou um pouco veterano, mas não sinto que estou a acabar, sinto-me bem fisicamente. Um conselho que costumo dar é que desfrutem a cada dia, porque isto passa muito rápido e não há melhor vida do que esta.
Sente alguma mágoa por não ter chegado à Selecção?
Não. Nenhuma, sinceramente. Aliás, tive a felicidade de ainda ser internacional B. Sou uma pessoa muito realista e coerente, tenho bem a noção do meu potencial, por isso não me sinto minimamente injustiçado por nunca ter ido à Selecção Nacional, que sempre esteve bem entregue. Sou muito frio, não sou sonhador e tenho noção das minhas qualidades e dos meus defeitos.
Como tem visto a actuação do Sindicato dos Jogadores?
Vejo-o cada vez a crescer mais e aquilo que desejo é que continue com esta motivação e organização. Digo sempre aos meus colegas: isto é quase uma obrigação, sermos sócios do Sindicato, porque são os primeiros a defender-nos, os primeiros a dar a cara, e nós só temos de estar agradecidos por ter este apoio.
Perfil
Nome: João Miguel da Cunha Teixeira [Moreno]
Data de nascimento: 19 de Agosto de 1981
Posição: Defesa/médio
Clubes: Vitória de Guimarães (formação), Felgueiras, Macedo de Cavaleiros, Caçadores das Taipas, Vitória de Guimarães, Leicester (Inglaterra), Nacional e Vitória de Guimarães.