“Casillas será importante para o futebol português”
Guarda-redes analisa transferência de Casillas.
O guarda-redes Tiago Jorge, de 27 anos, considera que a chegada de Casillas ao FC Porto será positiva para o futebol português. Em entrevista ao SJPF, o jogador que frequenta o 13.º Estágio do Jogador, comenta ainda as suas experiências no Campeonato Nacional de Seniores e na Ásia.
O Estágio do Jogador vai na 13.ª edição. Qual é a visão que tem desta iniciativa?
Penso que os jogadores procuram o Sindicato e, nomeadamente o Estágio, para melhorar a sua performance física, de modo a que quando surgir um projecto ambicioso, conseguirem dar uma resposta positiva nos treinos do novo clube.
Como foram os primeiros dias de treino no Estágio do Jogador?
Confesso que foram treinos com muita intensidade. Tenho conciliado o futebol com outra actividade, ligada ao ramo automóvel, e a minha forma física não estava ao melhor nível.
Aconselha os jogadores de futebol a conciliar a modalidade com outra profissão?
Claro que sim. Os futebolistas devem ter um plano B. Felizmente segui os conselhos do Sindicato e tenho outra actividade além do futebol. É sempre importante ter outra profissão para não estarmos dependentes do futebol. Aconselho os jogadores a investir na sua formação.
O que o levou a inscrever-se no Estágio?
Foi o Miguel Garcia que me aconselhou a participar. É fantástico estar no balneário com os meus colegas, pisar o relvado, ver ex-companheiros. Isto é uma família e o Sindicato tem dado muito apoio aos jogadores.
Como correu a última época no Pinhalnovense?
A última época foi das melhores, a mais regular e aquela em que fiz mais jogos (28).
Existem muitas dificuldades no Campeonato Nacional de Seniores?
Sim. Há um ou outro clube que tem uma estrutura profissional, como é o caso do Mafra que tive a honra de representar, mas na maioria dos casos não há receitas. Há muitas despesas, as pessoas desligaram-se do futebol e é muito triste entrar nos estádios e ver as bancadas despidas de adeptos. Se calhar os bilhetes são muito caros ou então não há uma grande envolvência por parte dos clubes.
O que faltou para não continuar no Pinhalnovense?
Eu era o segundo jogador com mais anos de casa. Nasci no Pinhal Novo, sou um jogador da terra, mas entretanto entrou um grupo de investidores no clube com uma visão diferente. Tenho um carinho especial pelo Pinhalnovense, mas até ao momento não tive nenhum contacto para regressar.
Este ano, dois guarda-redes que participaram no Estágio já foram contratados. Rodolfo Vacas rumou ao Casa Pia e Rafael Marques ingressou no Oriental. Já recebeu contactos de algum clube?
Já tive alguns e aproveito para dar os parabéns ao Rafael e ao Rodolfo, que foram meus colegas. Isto é a prova de que há qualidade no Estágio do Jogador. Os jogadores não vêm para aqui só para passarem o tempo. Há condições para trabalhar bem e para que não nos falte nada. Eu não fujo à regra e estou aqui para ganhar condição física.
O Tiago já esteve no Vietname e na Tailândia. Rumar ao estrangeiro é uma possibilidade?
Nós, jogadores, temos de pensar na família e se estar longe se justifica, se dá para ser profissional, se dá para manter outra actividade e continuar a jogar perto da nossa casa por um valor mais baixo. Temos de analisar todas estas questões. Uma proposta longe de casa também mexe com a nossa estabilidade. Adorava sair novamente do país, mas em Portugal já se começa a olhar mais para os jogadores formados localmente de outra forma, também porque o Sindicato fez um trabalho imenso nesse sentido. Na minha opinião, Portugal é o melhor país formador do Mundo.
Como correram as experiências na Ásia?
Escrevi um livro sobre isso. Quando fui para o Vietname, assinei um contrato em Barcelona com vários empresários, que em Portugal me permitiria ter uma certa estabilidade financeira. Na Ásia tenho histórias do além [risos]. Cheguei ao Vietname e não tinha ninguém à minha espera, não tinha activado o roaming do telemóvel e não sabia onde me dirigir. Participei no torneio de Long An, pelo Saigon FC, e fiz cinco jogos. O contrato que assinei aparentemente estava correcto, mas faltava um carimbo do clube e a assinatura do presidente. Estive lá um mês e meio porque a adaptação ao país não foi fácil. A alimentação, os costumes e o facto de estar lá e não receber salários foi complicado. Procurei a ajuda de um amigo meu [Zezinando Correia] que está na Tailândia, fui para lá e parti para uma nova aventura. Na Tailândia também estive um mês e meio. Representei o Bangkok Glass, um clube que estava um pouco aquém das expectativas. Inclusivamente, o treinador foi demitido na semana em que cheguei. Com as dificuldades que o clube tinha, decidi regressar a Portugal mas tudo isso serviu de experiência. Aquilo que digo aos jogadores é que não tenham medo de emigrar, mas aconselhem-se sempre junto do Sindicato antes de irem para outro país.
O Tiago foi formado nas escolas do Sporting. Como viu a prestação da Selecção Nacional de Sub-21 no Campeonato da Europa?
Os Sub-21 tiveram uma prestação muito acima do esperado, porque geralmente olham para Portugal como um país que não é ganhador. Neste torneio olhavam para Portugal como mais um país e nós mostrámos ao Mundo o nível que a nossa formação tem e como se trabalha em Portugal. Senti-me orgulhoso de ver aqueles miúdos, gostei muito de ver o José Sá e espero que lhe dêem continuidade e o deixem trabalhar, porque não é fácil ser jovem e ter uma oportunidade. Ele tem muita qualidade e a experiência ganha-se jogando.
Sendo guarda-redes, como analisa a transferência de Casillas para o FC Porto?
É boa para o futebol português e para o FC Porto. O Casillas é um bom guarda-redes, que dispensa apresentações e que ganhou praticamente tudo o que havia para ganhar. O FC Porto só tem a ganhar com a sua contratação, com a sua experiência e com a ambição que ele tem. É um novo projecto e um desafio para o Casillas. Por vezes estamos acomodados num determinado clube e faz-nos bem ter uma nova aventura, uma nova equipa, voltarmos a lutar pela nossa titularidade. O Casillas teve épocas com prestações menos positivas, mas isso é normal, acontece a todos. Se calhar olhamos para ele e vemos um guarda-redes do qual exigimos muito, mas o Iker é um ser humano como outro qualquer. Pode ter um problema familiar, precisar de ajuda e as pessoas só falam do que vêem. Não podemos ser tão pessimistas e devemos encarar a vida de uma forma positiva. Desejo as maiores felicidades ao Casillas no meu país e espero que goste de cá estar.
É um dos seus ídolos?
Já foi. O futebol evolui e eu sou um guarda-redes que gosta muito de jogar com os pés. No passado tive problemas com treinadores que me proibiam de dar mais do que um toque na bola, mas hoje em dia um guarda-redes é um autêntico jogador de campo. É ali que começa a acção ofensiva de uma equipa. O Casillas sempre teve muitas dificuldades em jogar com os pés, mas já foi uma referência. No entanto, para mim, nunca foi como um Schmeichel ou um Victor Valdés. As minhas referências são ano após ano, depende das prestações e neste momento gosto muito do Neuer. É o guarda-redes mais completo do Mundo, senão o melhor de sempre e tenho um carinho especial pelo Schmeichel, que foi um guarda-redes fora do normal.
Que mensagem transmite aos jogadores sem contrato?
Não deixem de acreditar, não duvidem das suas capacidades, continuem a trabalhar do primeiro ao último minuto porque a oportunidade vai sempre surgir. Depois dependerá da capacidade de cada um agarrar essa oportunidade e quanto melhor fisicamente e mentalmente estivermos, melhor. Lutem até ao fim porque o sonho está sempre vivo.