“Os jogadores portugueses têm de se unir”
Médio português e o incumprimento salarial.
O médio Manuel Curto, que se encontra a treinar no 13.º Estágio do Jogador, apela a uma maior união entre os jogadores portugueses, de forma a combater o incumprimento salarial.
Em entrevista ao site do SJPF, o jogador de 29 anos aborda as experiências vividas no estrangeiro e comenta a aposta do Benfica no treinador Rui Vitória.
Esta é a segunda semana de treinos do Manuel Curto no Estágio do Jogador. Como vê esta iniciativa promovida pelo SJPF?
É um projecto muito interessante do Sindicato. Os treinos estão a correr bem, tanto os treinadores como o restante staff apoiam muito os jogadores e é isso que precisamos nesta fase em que estamos sem contrato. Os futebolistas ajudam-se muito uns aos outros e o ambiente é bastante positivo.
O que o levou a inscrever-se no Estágio do Jogador?
Em primeiro lugar, confio a cem por cento no trabalho do Sindicato. É um apoio que os jogadores sem contrato têm e não pensei duas vezes quando decidi vir treinar para o Estágio do Jogador.
O Manuel Curto fez grande parte da sua formação como jogador no Benfica, na qual foi treinado por Rui Vitória. Quais são as principais características que reconhece no novo treinador das águias?
O Rui Vitória é dos melhores treinadores com quem já trabalhei. É muito ambicioso, benfiquista e penso que tem tudo para triunfar no Benfica. Acredito que com a estrutura e o treinador que tem, o clube pode sagrar-se tricampeão.
Na última época, esteve na Bélgica ao serviço do Lièrse. Como foi essa experiência?
Não correu como desejava, porque fui operado a uma hérnia. Estive parado algum tempo, mas felizmente já estou bem. Ainda assim, considero que foi uma boa experiência.
Antes da Bélgica, tinha estado na Polónia (representou o Zaglebie Lubin em 2013/14). A época foi positiva?
O campeonato polaco é semelhante ao português, não há grande diferença, embora a cultura seja um pouco diferente. Na Europa Central, o futebol praticado é idêntico ao português.
Em 2013, representou o Taraz do Cazaquistão. São raros os futebolistas portugueses que jogaram neste país. Como surgiu a oportunidade de ir para o Cazaquistão?
A experiência no Cazaquistão foi enriquecedora porque é uma cultura totalmente diferente da nossa e penso que é um mercado a explorar pelo jogador português, devido aos valores que se praticam lá e à própria oportunidade que dão aos jogadores estrangeiros no leste europeu. Em termos monetários, o Cazaquistão é um país muito mais valioso que o português e é sempre bom conhecer culturas diferentes. Penso que o jogador português deve arriscar outros países, porque tem muito valor lá fora.
Dos quatro países estrangeiros em que jogou (representou o Badajoz de Espanha em 2006/07), qual o que se adequa mais ao perfil do jogador português?
O campeonato belga é mais conceituado. Em termos de experiência, o Cazaquistão foi o país onde mais gostei de estar.
Em Portugal representou o Estoril, a União de Leiria e a Naval, entre outros. Quais os aspectos mais positivos e negativos que retira das passagens por estes clubes?
O mais positivo foi ter feito o que gosto no meu país. O mais negativo foi ter representado alguns clubes que me devem salários e com a ajuda do Sindicato espero vir a receber o que me é devido. Esse é um dos aspectos negativos do nosso futebol. Alguns clubes não cumprem a cem por cento com as suas obrigações.
Na sua opinião, que medidas devem ser implementadas para minimizar o fenómeno do incumprimento salarial?
Primeiro que tudo, os próprios jogadores devem-se unir e combater essa falta de respeito que os clubes têm para com os futebolistas. Esse é o maior problema do futebol português: a falta de união entre os jogadores nesses momentos para lutarem pelos seus direitos.
O Manuel começou a carreira como ponta-de-lança, mas depois foi recuando no terreno para médio ofensivo, médio centro e agora médio defensivo. Porquê essa mudança gradual de funções no terreno de jogo?
Foi devido ao feedback que recebi de alguns treinadores, que me propuseram essas posições e felizmente correu bem. Neste momento sinto-me bem na posição em que estou a jogar.
Além do futebol, tem outra actividade?
Sim, sou proprietário de um restaurante em Algés.
Quando terminar a carreira de jogador, espera continuar ligado ao futebol?
Sinceramente não. Não me vejo a desempenhar outras funções a não ser a de jogador. Prefiro enveredar por outra área.
Como vê o trabalho desenvolvido pelo SJPF nos últimos anos?
Já estive noutros países e, não querendo exagerar, penso que o Sindicato português é dos melhores da Europa. O SJPF ajuda muito os jogadores portugueses. Eu já precisei do Sindicato e sempre que necessitar de algum apoio, em termos jurídicos, o SJPF estará lá para ajudar a resolver a situação.
Nos outros países europeus em que esteve foi convidado para fazer parte do Sindicato de Jogadores?
Não existe essa procura por parte dos sindicatos estrangeiros. Daí pensar que em Portugal o Sindicato preocupa-se muito mais com o jogador do que os sindicatos dos países onde estive.