Vítor Baía


É o segundo jogador com mais troféus a nível mun­dial, com 33 no total. É ainda um de apenas nove jo­gadores da história que conquistaram os três principais títulos europeus de clubes: Liga dos Campeões, Taça UEFA e Taça das Taças. 

Tudo começou no Académico de Leça: "Recordo os torneios em que participávamos, de gente amiga, da mesma zona, que jogava na rua, mas que quando se reunia formava um grupo com qualidade, o que le­vou alguns jogadores a chegarem ao futebol profis­sional, sendo eu e o Domingos os mais mediáticos."

Aos treze anos mudou-se para o FC Porto, onde pas­sou a maior parte da sua carreira. "Quando cheguei fiquei marcado pelo contacto com Costa Soares e em concreto as suas primeiras palavras. Disse-me que era baixinho, mas que era muito rápido e explo­sivo. A primeira questão que me fez, de uma forma subtil, foi saber se o meu pai era alto ou não. Eu dis­se que sim e a partir daí tomou a decisão que ficaria, porque no resto as competências estavam lá, ape­nas me faltava a altura. A verdade é que só alguém com grande experiência a lidar com jovens é que consegue visualizar estas questões", recorda.

Aos 18 anos, foi pela primeira vez chamado à equi­pa principal dos azuis-e-brancos, pelo então treina­dor Quinito, mas foi com Artur Jorge que se tornou titular absoluto na baliza do FC Porto e, mais tarde, na Selecção Nacional.



"Em 1989, primeiro pela lesão de um colega, depois aos 19 anos, já como titular absoluto e com Ar­tur Jorge. Estou reconhecido pela coragem demonstrada ao colocarem um miúdo na baliza. Naquele tempo era quase uma utopia, alguém tão jovem defender uma baliza com a respon­sabilidade do FC Porto. Estarei eternamente agradecido a Ar­tur Jorge. Foi decisivo na minha carreira, inclusive mais tarde na Selecção. É uma pessoa que marcou, e de que maneira, a minha carreira."

Chegou à baliza da Selecção com 21 anos, estreando-se no dia 19 de Dezembro de 1990, num jogo particular frente aos Esta­dos Unidos, iniciando aí uma década em que a camisola um de Portugal lhe pertenceu quase em exclusivo.

"Faltou-nos um grande título. Estivemos perto e tínhamos uma equipa com muita qualidade, mas isso só não chega. Só ter bons jogadores e boas equipas não chega. Faltavam-nos as estruturas e bons treinado­res, sem isso era muito difícil. Tenho a cons­ciência de que passámos ao lado de grandes êxitos, quando afinal individualmente e nos nossos clubes conseguíamos feitos extraordinários. Acredito que com a es­trutura que existe hoje na Federação, tal como está organizada, com aqueles jogadores e com o actual seleccionador estariam reunidas as condições para chegarmos aos títulos."



Após o Europeu de 1996, em Inglaterra, transferiu-se para o Barcelona, na mais avultada transferência de uma guarda-re­des. Facto que foi muito falado mas que desvalorizou. "Não li­guei muito a isso, era mais ruído em meu redor por parte da imprensa. Particularmente nunca senti, nem por parte do pú­blico, que exigissem de mim algo do outro mundo apenas pelo facto de ter sido o guarda-redes mais caro. O primeiro ano em Barcelona foi extraordinário, onde senti o carinho de todos, mas depois as lesões e a mudança de treinador é que ditaram a mi­nha saída. A verdade é que estou feliz por ter pertencido a um clube com o historial tão rico como o Barcelona."

Vítor Baía sofreu uma lesão, em Agosto de 1997. Em Janeiro de 1999, após vários meses sem jogar, regressou ao FC Porto para relançar a carreira. Esse foi um período muito laureado, tendo sido o guarda-redes titular na final da Taça UEFA, em Sevilha, desafio que a equipa portuguesa venceu por 3-2, após prolon­gamento, frente ao Celtic. No ano seguinte foi também titular na final da Liga dos Campeões, em Gelsenkirchen, em que o FC Porto ganhou 3-0 ao Mónaco, tendo Vítor Baía sido considerado o melhor guarda-redes europeu de 2004, pela UEFA. "No clube não havia mais nada para ganhar. Por isso, feliz e orgulhoso por pertencer a um grupo restrito que conquistou todas as compe­tições internacionais a nível de clubes e continuar a ser o guar­da-redes, ainda hoje, com mais títulos no Mundo."



Terminou a carreira aos 37 anos e continua a ser o guarda-redes com mais títulos do Mundo
Viria a perder a titularidade no fim de 2005, quando o treinador holandês Co Adriaanse considerou que Helton seria melhor op­ção. Aos 37 anos, despediu-se do futebol como jogador, numa decisão ponderada. "Não foi assim difícil porque foi preparada ao longo de uma época.

Todos sabiam que seria o meu último ano. Houve uma preparação para o dia a seguir a pendurar as botas porque, por muito que falem, nunca se está completa­mente preparado para deixar de jogar. Foi muito importante para começar a alargar os meus horizontes e saber o que pre­tendia. Como tal, ainda não tinha terminado a carreira e já esta­va na faculdade a tirar o curso de gestão de desporto."



Actualmente divide-se entre o comentário e análise de fute­bol na TVI e a FPF, onde é o líder do Projecto 1, que pretende formar os treinadores de guarda-redes do futebol português: "Tem sido uma experiência extraordinária, tive também sorte em iniciar-me como comentador numa estação como a TVI, onde encontrei excelente profissionais, gente de carácter e de boa índole. Tem sido um privilégio e uma aprendizagem constante. Dá-me muito gozo! Na Federação é uma nova eta­pa, numa área que me diz muito, a de guarda-redes. Gerir um projecto pioneiro neste âmbito é muito estimulante e desafian­te." A 6 de Junho de 2008 foi constituído Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. Uma de muitas honrarias, que guarda no coração, porque o futebol é a sua vida. "Fazendo a análise mais a frio considero que nasci mesmo com aptidões naturais, com um dom para ser guarda-redes, que depois foi sendo potencia­do ao longo dos tempos."

Pela experiência adquirida no futebol, Vítor Baia deixa um lan­cinante aviso: "Aos futebolistas, principalmente aos jovens, digo que tenham muito cuidado com as pessoas que estão à vossa volta. Cuidado com as procurações, não confiem nem deleguem, sejam menos preguiçosos e assumam o pouco que têm para fazer fora do futebol. Dediquem-se à carreira, porque quando estiver a aproximar-se o final saberão que terão de ter capacidades para enfrentar um mundo diferente, fazendo os investimentos que tiverem que fazer, mas sempre com total segurança e depois de se aconselharem com várias pessoas."