“Antes de emigrarem, informem-se junto do Sindicato”


Um conselho aos jogadores que pensam emigrar.

O avançado Lourenço, que se encontra a treinar no 13.º Estágio do Jogador, aconselha os futebolistas portugueses a pensarem duas vezes antes de decidirem emigrar.

Em entrevista ao site do SJPF, o jogador de 32 anos recorda as experiências menos positivas na Grécia e na Roménia, comenta a passagem pelo Sporting, clube no qual foi treinado pelo seleccionador nacional Fernando Santos, e revela o que o levou a participar no Estágio do Jogador.

É um dos jogadores com mais participações no Estágio do Jogador. Qual é a avaliação que faz da edição deste ano, até ao momento?
Os treinos têm sido competitivos, para podermos estar em forma. Este é um grupo fantástico e espero que todos nós consigamos assinar por um clube.

Participou pela primeira vez no Estágio em 2010. Por que decidiu aderir a esta iniciativa nesse ano?
Estava sem clube e queria treinar num plantel que estivesse a fazer uma pré-época. Isso foi possível no Estágio do Jogador.

Que mensagem transmite aos jogadores que neste momento estão sem contrato?
Continuem a acreditar e à procura de clube. Se estiverem a treinar sozinhos, inscrevam-se no Estágio e não tenham vergonha porque aqui têm todas as condições para treinar, competir, fazer jogos e prepararem-se para uma eventual chamada de um clube.

Na última época esteve sem competir. Foi por vontade própria ou por falta de convites?
Foi uma opção minha. Tive convites de clubes do CNS e do estrangeiro. A última proposta que recebi foi da Lituânia, mas decidi não aceitar porque houve antigos colegas meus que foram para lá e que me aconselharam a não ir. Sou um pouco relutante em rumar ao estrangeiro porque os últimos seis anos da minha carreira foram lá fora e as experiências não foram muito positivas. Ir para o estrangeiro também implica mudanças ao nível familiar e alguns clubes não pagam atempadamente.

Quais são as suas perspectivas para esta temporada?
Tenho estado em contacto permanente com o meu intermediário, que se encontra no estrangeiro. Ele está a tratar da minha situação e assim que receber propostas, estou preparado para emigrar novamente, caso seja necessário. Até lá, continuarei a treinar no Estágio, a dar o meu melhor e se surgir uma boa proposta estarei disponível.

Em Portugal admite jogar num clube de qualquer escalão?
Sim, admito jogar em qualquer equipa desde a Primeira Liga até ao CNS, desde que seja um projecto aliciante. Já competi no CNS e não me arrependi. Joguei no Farense em 2012/13, o objectivo era a subida de divisão e conseguimos cumpri-lo. Muitas pessoas olham para mim como sendo um jogador caro, mas isso não corresponde à verdade. Estou disponível para qualquer projecto.

O Lourenço tem 32 anos. Já pensou no fim da carreira ou ainda é muito cedo?
Cada vez penso mais, mas não é algo que me tire o sono. Sei que um dia vou ter de acabar, mas enquanto o meu corpo e a minha mente tiverem condições, não vou terminar a carreira.

Há algum clube ou país onde gostasse de terminar a carreira?
Não. Vou terminar a carreira num clube que olhe para mim como um jogador que possa ser uma mais-valia.

Espera continuar ligado ao futebol quando pendurar as chuteiras?
Sim. Já me inscrevi no curso de primeiro nível de treinador. Para já, tenho um projecto no Tenente Valdez no qual sou treinador de benjamins. Gostaria de continuar ligado ao futebol mas tenho consciência de que é um mercado que não dá para todos. O futebol é um mundo no qual não é fácil entrar e permanecer.

Além do futebol tem outra actividade?
Sim, na área empresarial. Sou gestor de uma clínica de estética, no Infantado, juntamente com a minha esposa.  

Vale a pena ser jogador de futebol?
Penso que vale sempre a pena, desde que estejamos a trabalhar com pessoas sérias e competentes. Mas no futebol passamos rapidamente do oito ao oitenta e vice-versa. O essencial é não fechar as portas a nenhum clube.

Estreou-se na Primeira Liga pela mão do treinador Fernando Santos. É a pessoa certa para o cargo de seleccionador nacional?
Sim e tem-no demonstrado. Desde que é o seleccionador, Portugal ainda não perdeu em jogos oficiais. Depois da primeira jornada já se fazia contas e agora a calculadora foi posta de lado. Acredito que com este seleccionador, equipa técnica e jogadores, Portugal vai estar no Europeu 2016.



Quais são as principais características de Fernando Santos?
É um treinador muito exigente, que elogia e critica os jogadores no momento adequado, mas acima de tudo é muito humano. Quando estive no Sporting foi um treinador que sempre me acompanhou muito, dava-me conselhos e dizia qual o caminho que devia seguir para agarrar o meu lugar no plantel. Em 33 jogos só fiquei de fora uma vez e marquei cinco golos nessa época (2003/04).

Acredita que Portugal poderá ser campeão europeu no próximo ano?
Em primeiro lugar temos de garantir a presença no Europeu. Ainda faltam alguns jogos, mas acredito que vamos conseguir o apuramento directo. Espero que Portugal conquiste um título nos próximos tempos para sermos ainda mais reconhecidos lá fora. Acredito que com a qualidade que a Selecção tem, possamos vir a ser campeões europeus. Já estivemos numa final e em várias meias-finais, por que não ganhar? Temos de acreditar que é possível.

Foi treinado por Jorge Jesus no União de Leiria em 2005/06. Jesus é o treinador indicado para recolocar o Sporting no caminho dos títulos?
Acredito que sim. O Sporting é um clube grande, que inicia todas as épocas com o objectivo de ganhar e penso que se o míster Jesus tiver todas as condições para trabalhar, é possível o Sporting sagrar-se campeão.

Jogar no Sporting foi o momento mais alto da carreira?
Até ao momento, sim. Quando comecei a jogar nas camadas jovens aspirava a conseguir um lugar na equipa principal. Tenho a honra de poder dizer que sou um dos muitos que começou no Sporting e conseguiu chegar à primeira equipa. Houve muitos que não tiveram essa sorte. Graças a Deus, tive essa felicidade, devido ao meu trabalho e à aposta dos treinadores.

Esteve na Selecção de Sub-21 que conseguiu o apuramento para os Jogos Olímpicos de 2004. Como viu o desempenho da equipa de Rui Jorge no Europeu deste ano?
Gostei da prestação dos sub-21. O Rui Jorge foi meu colega no Sporting e mereceu ter chegado à final pelo trabalho fantástico que fez. Não é fácil chegar a um Europeu e acabar sem qualquer derrota desde a qualificação até à fase final. O Rui implementou as suas ideias e conseguiu esse feito.

Na sua carreira, depois do Sporting seguiu-se o Belenenses que agora é treinado por Ricardo Sá Pinto, seu ex-colega no clube de Alvalade. O Belenenses está bem entregue?
Sim. O Sá Pinto era das pessoas com quem me dava muito bem no Sporting, iniciou a carreira de treinador nas camadas jovens e na equipa principal chegou às meias-finais da Liga Europa. Espero que tenha a maior sorte do Mundo e que consiga a qualificação do Belenenses para a fase de grupos da Liga Europa.

Alguma vez foi vítima de incumprimento salarial?
Em Portugal nunca, no estrangeiro sempre. Tive dois casos na FIFA e ficaram-me a dever milhares de euros, que até hoje não foram pagos.

Jogou na Grécia entre 2007 e 2010. Como vê esta crise económico-financeira que está a afectar o país?
Quando saí da Grécia, a crise já estava instalada. O Kerkyra deve-me milhares de euros e continuou a jogar na Primeira Liga. Não compreendo esta situação. Os jogadores são sempre os mais prejudicados e, por isso, os clubes incumpridores devem ser severamente punidos.

Arrepende-se de ter ido para a Grécia?
Não. Não me arrependo de ter ido para o Panionios, mas se fosse hoje não teria jogado no Kerkyra. Este último clube é muito desorganizado, não cumpriu as promessas que fez e essa foi uma das razões para ter deixado o país.

A última experiência no estrangeiro foi na Roménia, um país com vários clubes insolventes. Aconselha os jogadores portugueses a não se transferirem para a Roménia?
Sim, claro. Não é fácil dizer não a um clube que nos quer contratar, mas também temos de ter as condições mínimas para trabalhar. Pensem duas vezes e informem-se junto do Sindicato antes de assinar contrato.

Quais os treinadores que mais marcaram a sua carreira?
Laszlo Bölöni, por me ter colocado a treinar com o plantel principal, Fernando Santos, por ter feito uma aposta forte em mim, e Jorge Jesus, por ter sido o treinador com o qual fiz mais golos na Primeira Liga a jogar como segundo avançado.

Qual é a impressão que tem do trabalho desenvolvido pelo SJPF?
O Sindicato é uma voz activa na defesa dos jogadores e tem feito os possíveis para evitar as situações de incumprimento no futebol português.