De jogador do Alverca a campeão de Crossfit


O jogador que se tornou campeão de Crossfit.

"Foram as pessoas do futebol que me fizeram acabar a carreira aos 27 anos. Não há dinheiro, depois eram as desculpas e a falta de carácter. Já não conseguia olhar para elas. Adorava treinar e jogar, mas já era licenciado em Ciências do Desporto, já traba­lhava e só estava a perder tempo", justifica Bruno Militão.

Cansado das promessas, decidiu terminar uma carreira feita ao serviço de Alverca, Lourinhanense, Carregado, Peniche, Rio Maior e Torreense. "O Carregado foi o único clube que cumpriu, de resto todos ficaram a dever-me dinheiro. E com a maioria dos jogadores é igual. É um funil muito pequenino, só alguns chegam a um nível muito alto e depende de inúmeros factores. Adorei jogar, é uma grande escola de vida, mas não me arrepen­do nada de ter deixado. Muito do sucesso que depois tive nesta área foi por tudo o que trouxe do futebol", admite.

"Enquanto jogador sentia que tinha muitos deveres e poucos direitos. Tinha de treinar cinco vezes por semana e jogar ao do­mingo, e prejudicava o meu outro trabalho. Quer dizer, ou sou profissional ou amador. Decidam-se!" Foi esta irreverência que, enquanto capitão no Rio Maior, o fez levar avante uma greve de fome que teve apoio do Sindicato. "A maioria dos jogadores ti­nha medo, diziam que se fizessemos aquilo depois ninguém nos queria. Respondi: 'se ninguém te quiser é porque não te querem pagar. Medo de quê?' Dissemos que íamos fazer greve de fome, mas pensaram que estávamos a gozar. Montámos umas tendas à porta e, passadas umas horas, apareceu dinheiro. Deviam-nos seis meses, conseguimos reaver metade", conta.

Há três anos descobriu o CrossFit, um treino de alta intensida­de que consiste em utilizar coisas básicas do dia-a-dia como sentar, levantar, empurrar e puxar. "Não tinha grande motiva­ção para o ginásio, venho de um desporto colectivo. No Fitness Hut encontrei esta metodologia de treino, depois tirei imensas formações, abri o CrossFit Alvalade e tem sido brutal", partilha.

Bruno Militão nunca chegou a conciliar o CrossFit com o fu­tebol, mas considera que a preparação física é vital para um jogador: "Um futebolista cada vez mais tem de ser um atleta. O Cristiano Ronaldo, contra quem joguei, é o melhor exemplo. Está sempre no top! A primeira vez que o vi jogar foi na final de um torneio contra o Sporting. Eu estava lesionado, mas ainda bem que não joguei porque ele partiu a loiça toda!", recorda.

Mais tarde, levaria a melhor no confronto com CR7. "No cam­peonato pude jogar contra ele e ganhámos. Era fora-de-série."

E foi no Alverca, onde fez a formação, que se cruzou com Man­torras, outro predestinado. "Era aquela imagem do jogador africano: força, potência e brilho. Mas as lesões limitaram-lhe a carreira. Não é fácil prever o que podia ter sido, mas nos junio­res era o Mantorras contra os outros!", diz.

Na nova carreira, Militão foi considerado o atleta Fittest in Portugal pela CrossFit, Inc.. É como um futebolista receber a Bola de Ouro da FIFA? "Não, o melhor a nível mundial é o Rich Froning, mas também destacam o melhor de cada país. Há um Open com cinco desafios. Depois de os fazeres tens de enviar os vídeos para serem avaliados. Consegui a melhor classificação de um português: fiquei em 180.º, em cerca de 15 mil participantes. Depois ainda há os Games, que são como o Mundial de futebol", explica-nos o antigo defesa. Também por esta distinção, foi convidado para ser capa da edição de Maio da revista Men's Health, que o encheu de orgulho: "Pensei que era para fazerem uma reportagem, nem acreditei que era para ser a capa. Mas gostei de ser reconhecido, por uma revista que é uma referência na área, pelo que tenho feito pela modalidade."

O futebol fará sempre parte da vida de Bruno, tal como a com­petição: "Prefiro treinar do que jogar futebol. Na praia, ok, mas se me metem num torneio vou virar bicho! Tenho de ganhar!".