Tal pai, tal filho


Ex-jogador segue as pisadas do pai.

Ambos iniciaram o percurso como jogador e treinador na Sanjoanense e ambos defenderam FC Porto e Beira-Mar. Aos 36 anos, Ricardo Sousa inicia a carreira de treinador e pretende continuar a seguir as pisadas do pai.

A tarde do dia 19 de Abril de 2015 é sinónima de futebol no Com­plexo Desportivo da Gafanha da Nazaré. Ao minuto 82, o Gafanha vence o Gouveia por 4-0 em jogo da 9.ª jornada da série D da fase de manutenção do CNS e eis que entra em campo o conceituado Ricardo Sousa, médio que representou, entre outros, FC Porto, Boavista e Beira-Mar. Quando todos se preparavam para o apito final, Sousa desfere um remate à baliza do italiano Monteleone, guarda-redes do Gouveia, fixando o resultado em 5-0.

Mais do que a vitória folgada do Gafanha, para a história fica o fim da carreira de Ricardo Sousa como jogador. “Foi uma maneira bonita de acabar. Marquei um golo no último minuto e vencemos por 5-0”, conta o antigo médio de 36 anos, que faz um balanço positivo da sua carreira. “Consegui jogar ao mais alto nível na I Di­visão em Portugal e actuei em três bons campeonatos (alemão, holandês e cipriota). Podia ter conseguido algo mais, mas estou orgulhoso do meu trajecto. Fui titular em todas as selecções que representei, desde os sub-15 até à Selecção B”, resume o filho de António Sousa.

Foi no clube de Aveiro que Ricardo Sousa viveu o momento de maior glória da carreira. A 19 de Junho de 1999, Beira-Mar e Campomaiorense defrontaram-se no Estádio do Jamor para discutir o vencedor da Taça de Portugal. Ricardo foi decisivo ao apontar o único golo do jogo, levando o clube de Aveiro a con­quistar um título inédito. “Foi uma vitória que teve um significado especial. É difícil ganhar uma Taça de Portugal, ainda para mais num clube como o Beira-Mar, que possivelmente não voltará a consegui-lo nos próximos 300 anos. O facto de ter ganho com o meu pai, o treinador do Beira-Mar na altura, é uma situação que poucos pensavam ser possível, mas nós conseguimo-lo.”

É pois com tristeza que Ricardo Sousa olha para a situação actual do Beira-Mar, que caiu na 2.ª Divisão Distrital de Aveiro devido a problemas financeiros. “O Beira-Mar está nesta situação por má gestão. Os dirigentes foram afastando os adeptos que gostavam do clube e apoiaram-se em investidores italia­nos, brasileiros e iranianos, que conduziram o Beira-Mar para o abismo.”

Uma questão de genes
Quem também iniciou o seu percurso de joga­dor no clube de Aveiro foi Afonso Sousa, médio de 15 anos, filho de Ricardo Sousa e neto de António Sousa, que actualmente representa os juvenis do FC Porto. Ricardo espera que o fi­lho siga as suas pisadas e as do avô: “O Afonso está no bom caminho e espero que ele consiga mais do que aquilo que eu consegui. Digo-lhe para ser humilde e trabalhador, porque sem isso não se consegue nada na vida.”

No seio de uma família de futebolistas, Ricardo teve ainda a oportunidade de jogar com o seu primo José Sousa, no FC Porto e no Beira-Mar. “Foi muito bom, é sempre importante termos alguém que nos ajude nos bons e maus mo­mentos”, conta Ricardo sobre o primo José.

O antigo médio admite que teve propostas para continuar a jogar, mas a disponibilidade fí­sica já não era a mesma: “Os anos passam por nós, as forças diminuem, os problemas físicos aumentam e já tinha perspectivado o início da carreira de treinador. Aceitei a Sanjoanense porque foi o clube que me formou, que me fez ser o homem que sou e jamais poderia recu­sar”. O agora treinador não se arrepende de ter terminado a carreira de jogador no Gafanha: “Penso que acabei onde tinha de acabar. Tudo o resto são expectativas. Fiquei satisfeito por ter terminado ali.”

O esquerdino confessa que não foi influencia­do pelo seu pai para seguir a carreira de treinador. “Já pensava vir a ser treinador há algum tempo e felizmente isso aconteceu no ano em que decidi pendurar as chuteiras.”

Questionado sobre as referências que tem como treinadores, Ricardo é claro: “Tive al­guns bons treinadores com os quais aprendi muito, mas os que mais me marcaram foram o meu pai, o Marinho Peres e o Ewald Lienen.”

Na Sanjoanense, Ricardo Sousa terá como ad­junto Cândido Costa, também ele ex-jogador que terminou a carreira na última época. O ob­jectivo passa pela manutenção no CNS e pela aposta nos jovens da região. “O orçamento desceu, as dificuldades aumentaram, mas es­tamos a tentar construir uma equipa competi­tiva com jogadores entre os 18 e os 23 anos.”

Ricardo deixa ainda um elogio ao trabalho rea­lizado pelo Sindicato nos últimos anos: “Sou sindicalizado há 19 anos e vejo que o SJPF tem tido um crescimento sustentado nos últimos tempos. É im­portante que haja um organismo que defenda os interesses dos jogadores como o Sindicato o faz.”