Velhos são os trapos


Aos 40 anos continua a dar cartas no futebol.

A competir no agora denominado Campeonato de Portugal, ao serviço do Trofense, o experiente médio Tiago mantém a motivação que tinha no início da carreira.

“Muita gente me pergunta como é possível jogar futebol com 40 anos? O certo é que estou a competir a um nível alto, não me arrasto e ainda re­centemente fiz 120 minutos a um bom nível.” Tiago é o exemplo de que a ida­de não limita a prática do futebol.

Com quatro décadas de vida, o médio defensivo é aposta assídua do treina­dor do Trofense, completando os 90 minutos em grande parte dos jogos. O jogador português aponta vários motivos para que tal aconteça: “Tive a felicidade de ao longo da minha carreira nunca ter contraído uma lesão grave e, apesar da idade, continuo com a mesma ambição, motivação, vonta­de e querer do tempo em que iniciei a carreira.”

Natural da Trofa, cidade que o viu nas­cer para o futebol e na qual tem jogado nos últimos sete anos, Tiago confessa que muitos jovens jogadores o ‘invejam’. “Quem acompanha os jogos do Trofense fica admirado pela forma como corro e pela entrega ao jogo. Há colegas de 20 anos que olham para mim e que me dizem que gostavam de correr tanto como eu ou parecido e isso deixa-me orgulhoso.”

Questionado sobre as diferenças que nota entre o início da carrei­ra e o momento actual, o médio responde: “As únicas diferenças são a velocidade e o tempo de recuperação após o jogo. De resto, em termos técnicos, mantém-se tudo igual.”

Tiago começou a praticar futebol aos nove anos, na formação do Trofense. Seguiram-se passagens por Famalicão, Marítimo, Ben­fica, Rayo Vallecano, Tenerife, União de Leiria, FC Porto e Boavis­ta. A decisão de abandonar o clube da terra, com apenas 17 anos, não foi fácil.

“Estava a jogar pelos seniores do Trofense na II Divisão B e recebi um convite do Famalicão, que na altura estava na I Liga. Foi difí­cil deixar o clube onde me formei, mas foi um passo importante para o início de uma carreira profissional”, confessa.

Ligado à família e aos amigos, a mu­dança de Famalicão para a Madeira foi algo que o separou dos mais chegados, mas o Marítimo foi o clube que lhe per­mitiu chegar ao emblema mais titulado de Portugal: o Benfica. “Ir para o Maríti­mo foi uma decisão acertada. Passei lá dois anos fantásticos e acabei por assi­nar pelo Benfica, um clube ao qual não podia dizer que não.”

José Mourinho foi o treinador que mar­cou a carreira de Tiago. Orientou-o no União de Leiria e foi ‘buscá-lo’ para o FC Porto. “Mourinho foi dos melhores trei­nadores que tive, uma referência. A for­ma como geria o grupo, os métodos de treino e a ambição que tem são sinais reveladores da sua qualidade. Convém lembrar que quando ele saiu para o FC Porto, o União de Leiria estava em se­gundo lugar no campeonato.”



Nos portistas, Tiago viveu uma época de sonho. Em 2002/03, conquistou o campeonato, a Taça de Por­tugal, a Supertaça e venceu a Taça UEFA. “Foi uma temporada fantástica e foram momentos inesquecíveis e marcantes.”

Quando José Mourinho saiu do FC Porto para o Chelsea, Tiago abandonou os dragões para representar o rival da cidade do Por­to. “Estive três anos no Boavista e ainda bem que está a reapare­cer na I Liga porque é um clube que merece, pela sua grandeza e pelos adeptos que tem.”

A palavra ‘regresso’ é facilmente associada a Tiago. Regressou ao União de Leiria em 2007, depois de ter representado o clube do Lis entre 2000 e 2002 e em 2004 e regressou ao Trofense em 2009.

Por que regressou aos dois clubes? “Felizmente, as pessoas de Leiria e da Trofa apreciam o meu trabalho. Era um jogador acari­nhado e, assim que tive oportunidade, não hesitei em voltar.”

Com 40 anos de idade, é legítimo perguntar a Tiago se já pensou no final da carreira de jogador, mas o capitão do Trofense chuta para canto: “Ano após ano venho prolongando o final da carreira. No fim de cada época faço uma análise e vejo se tenho condições para continuar a jogar futebol. Infelizmente o clube desceu de divisão e não queria terminar a carreira dessa forma. Estou aqui para ajudar e ser útil ao grupo.”

E terminar a carreira com uma subida de divisão, será possível? “Seria óptimo, mas no presente momento os objectivos do Tro­fense são pensar jogo a jogo porque temos uma equipa jovem, que se está adaptar a esta liga, que é muito competitiva.”

Quando pendurar as chuteiras, Tiago tem o desejo de continuar ligado ao futebol mas ainda não tomou uma decisão quanto ao cargo a assumir.

A finalizar, o médio defensivo deixa uma palavra para o trabalho desenvolvido pelo Sindicato. “O trabalho do SJPF tem sido ex­celente. Incentivo os meus colegas a serem sócios do Sindicato porque é uma instituição muito importante para o futebol por­tuguês. O SJPF dá a cara em defesa dos interesses do jogador e isso é fundamental.”

Perfil
Nome: Tiago César Moreira Pereira
Data de nascimento: 4 de Julho de 1975
Posição: Médio defensivo
Clubes que representou: Trofense (formação), Famalicão, Marítimo, Benfica, Rayo Vallecano (Espanha), Tenerife (Espanha), União de Leiria, FC Porto, Boavista, União de Leiria e Trofense.

Fotos: Vítor Garcez/ASF.