“Há clubes que nos deixam no lixo”


O drama vivido no Ribeirão.

Com apenas 19 anos, longe da família, sem dinheiro para pagar as despesas básicas e a partilhar habitação com colegas de equipa, Diogo Caramelo viveu no Grupo Desportivo de Ribeirão um autêntico pesadelo.

“Estive sete meses sem receber salários. Foi uma situação muito complicada porque estava num sítio que não conhecia e nunca é fácil pedir dinheiro aos familiares e amigos para cumprir as necessidades básicas. Houve períodos em que não tinha água e luz em casa”, começa por contar o jovem jogador, agora com 23 anos.

Diogo Caramelo representou o Ribeirão em 2011 e na época 2013/14. Foi na segunda passagem pelo clube que os problemas se agravaram: “Os jogadores que faziam parte do plantel, e que não eram naturais de Ribeirão, estavam hospedados em duas casas. Eu vivia numa casa pequena com dois colegas e na outra habitação estavam cerca de 13 jogadores! As condições de habitação não eram as desejáveis”, revela.

Questionado sobre a postura dos dirigentes do GD Ribeirão perante o cenário de incumprimento, o jovem avançado, actualmente no Cova da Piedade, responde da seguinte forma: “Há clubes que nos deixam no lixo e o GD Ribeirão é um desses casos. Se pagassem, os dirigentes do clube iam aos treinos e davam a cara, se não pagassem nem apareciam”.

O GD Ribeirão fechou portas a 5 de Agosto de 2015, dando lugar ao Ribeirão 1968 Futebol Clube, fundado nove dias depois.

“Neste país, as pessoas que são espertas fazem o que querem. Os jogadores suaram a camisola pelo clube, demos tudo e acabámos por ser enganados”, lamenta.

No que à refundação de clubes com outra designação diz respeito, o Ribeirão não é caso único. Salgueiros e Felgueiras são outros exemplos semelhantes no futebol português. “Infelizmente, o nosso país permite que estas situações aconteçam e que os dirigentes vivam num clima de impunidade”, condena o jovem jogador.

Para evitar que os clubes recorram a este tipo de expedientes, Diogo Caramelo sugere a aplicação de medidas sancionatórias: “Quando um clube tem dívidas em atraso para com os jogadores, deveria ser impedido de competir até que as verbas em dívida fossem pagas. Não é adiar anos e anos, como muitas vezes acontece, porque isso não está correcto.”

Impossibilitado de reaver as verbas em dívida, fruto da refundação do clube, o avançado de 23 anos decidiu recorrer ao SJPF: “O Sindicato tem-me ajudado muito. Estou satisfeito com o apoio prestado e espero conseguir recuperar o dinheiro que o clube me deve. O SJPF é uma instituição muito prestável e um grande suporte para os jovens jogadores, que não têm conhecimento das questões burocráticas.”

Formado nas escolas do Benfica, Diogo Caramelo conta já no seu currículo com três títulos: campeão de iniciados e de juniores pelo clube da Luz e de seniores pelo Tampine Rovers, da Singapura. A experiência no país asiático superou as suas expectativas: “Adorei estar em Singapura. Vivi sete meses fantásticos. Ao contrário do que acontece em Portugal, é um país onde os clubes cumprem os seus compromissos. Lá, se um clube não pagar aos jogadores não se pode inscrever no ano seguinte. É um país que acolhe muito bem os jogadores europeus.”

Actualmente, Caramelo representa o Cova da Piedade, clube que garantiu pela primeira vez na sua história a subida à Segunda Liga, e que merece os elogios do jovem jogador: “No Cova da Piedade os dirigentes respeitam os jogadores. Têm carácter e são profissionais.”

Fã de Filippo Inzaghi, Luis Suárez e Rui Costa, Diogo Caramelo não quer ouvir falar mais em incumprimento salarial. Tem como objectivo imediato chegar ao futebol profissional e como maior ambição representar a equipa principal do Benfica.