“Falta organização ao futebol nos clubes nacionais”


Agora nos cipriotas do Athlitiki Enosi Paphos, Hugo Carreira tenta recuperar rapidamente de algumas lesões que teve no início da temporada.

Hugo Carreira, 31 anos, é um nome bem conhecido do nosso futebol. Defesa elegante iniciou a carreira no Barreirense mas rapidamente foi para Espanha. Voltou a Portugal para jogar no Estrela da Amadora, onde nem sempre foi feliz. Na China reencontrou-se com o futebol. Agora no Chipre, terra de oportunidades apesar da crise, tenta recuperar rapidamente de algumas lesões que teve no início da temporada.

Sindicato – Começou a jogar mais a sério no Barreirense na época de 1997/98 e um ano depois estava em Espanha, ao serviço do Desportivo da Corunha. Como surgiu a primeira oportunidade de emigrar?

Hugo Carreira – Estava na altura na selecção de sub-18, foram ver alguns jogos em que participei e depois fizeram-me o convite. A proposta agradou-me e aceitei.

Sindicato – O que recorda de melhor e pior dessa altura?

Hugo Carreira – Foi tudo bom. Não tenho nada com que me queixar, porém ia com o objectivo de chegar à equipa principal mas tal não veio acontecer. Se fosse hoje, pensaria duas vezes antes de ir. A grandeza e a oportunidade na altura, falaram mais alto.

Sindicato – Por que é que nunca chegou a jogar pela equipa principal?

Hugo Carreira – Basicamente foi porque o treinador da equipa na altura só apostava em jogadores feitos e não em jovens. Ainda fui convocado para alguns jogos no ano em que o Desportivo foi campeão mas infelizmente não joguei na equipa principal.

Sindicato – Em 2001 regressou a Portugal para jogar no Estrela da Amadora, onde esteve cerca de seis anos e meio com uma época pelo meio ao serviço do Nacional. Como foi passar pela situação de treinar, jogar e não receber?

Hugo Carreira – Não é fácil. Só quem passa por elas é que sabe. É muito complicado porque uns jogadores aguentam mais facilmente e outros não. Há filhos para cuidar, empréstimos a pagar e outras despesas e sem receber é complicado. As pessoas pensam que ser jogador de futebol é sinónimo de ganhar bem. É mentira. Há jogadores nas ligas profissionais a ganhar misérias dado que é uma profissão de curta duração e há que amealhar algum. Nem sei explicar como consegui suportar essa situação.

Sindicato – Agora o Estrela da Amadora está praticamente fechado…

Hugo Carreira – É triste. Falta organização ao futebol nos clubes nacionais. Sei que não é fácil arranjar dinheiro, patrocinadores mas as direcções sabem, melhor do que ninguém, o que podem e devem gastar. Acho que devia haver um organismo independente que fiscalizasse estas situações para uma maior organização e harmonia nos clubes.

Sindicato – Em 2008 foi jogar para a China, um campeonato desconhecido para quase todos. Como aconteceu este convite?

Hugo Carreira – Foi através de uma pessoa amiga que conhecia um empresário chinês e viu que estava nesta situação no Estrela, falou comigo e aceitei. Os números eram bons e como estava numa altura difícil, não hesitei e fui.

Sindicato – E conseguiu adaptar-se? Em termos de futebol praticado, o que é que encontrou na China?

Hugo Carreira – Ao princípio foi difícil apesar de ter sido bem recebido… é um país diferente, outra cultura, outra língua, outra comida. É tudo diferente. Em termos de campeonato é um bocado diferente do nosso apesar de haver duas a três equipas boas e o resto é um pouco fraquinho mas marcou-me por ter sido uma oportunidade numa altura difícil para mim.

Sindicato – Agora está no AEP, do Chipre. Como está a correr a época?

Hugo Carreira – A pior de sempre. Quatro lesões seguidas são sempre complicadas e para ajudar mais depois de ter conseguido recuperar, voltei a jogar e lesionei-me novamente no joelho num choque aparatoso. Estou a recuperar, tenho ainda algumas dores, vamos lá ver. O que mais quero agora é recuperar desta lesão.

Sindicato – Há muitos portugueses a ir jogar para o Chipre. Este país é mesmo uma terra de oportunidades?

Hugo Carreira – Pode-se dizer que sim mas pelo que vou vendo falta ainda algum profissionalismo. Fica aquém do nosso País. A crise há em todos os países e com isso, aqui e ali vai havendo ordenados em atraso num ou outro clube e com isso, fica-se um pouco com o pé atrás.

Sindicato – A emigração surgiu como uma opção ou como uma oportunidade?

Hugo Carreira – Oportunidade. Porque não tenho 20 anos e não é fácil ganhar dinheiro com 30 e poucos. Há uns seis ou sete anos, um jogador disse-me que “quem ganhou em boa altura ganhou e quem não ganhou, ganhasse” porque nos grandes vai-se continuar a ganhar bem quer haja crise ou não. Depois nos outros, é mais complicado até porque nem todos os jogadores ganham bem.

Sindicato – Como vê actualmente a actuação do SJPF no futebol?

Hugo Carreira – Nos últimos tempos o Sindicato tem melhorado e muito. Já o disse isso mesmo, pessoalmente, ao dr. Evangelista. O SJPF tem ajudado e muito, os jogadores nas mais diversas situações que vão aparecendo, algo que antes não acontecia. Desde a entrada do dr. Evangelista para a presidência do Sindicato dos Jogadores, tudo tem melhorado e espero que continue por muitos e bons anos juntamente com a sua equipa que é fantástica.