"Não existe estratégia para o desenvolvimento do futsal português"


Orlando Duarte abordou o balanço da época anterior e perspectivou a nova temporada bem como o futuro do futsal nacional.

Qual o balanço que faz da época em que conseguiu levar o Sporting à conquista de três troféus, ficando a faltar só um pouco mais no plano internacional?

A definição de objectivos, no início da época, foi fundamental para a conquista de Campeonato, Taça e Supertaça. Além disso, ainda fomos vice-campeões europeus. Considero o balanço positivo, ficando um amargo na boca pela competição europeia... Ainda hoje sentimos que éramos e somos melhores do que o nosso adversário da final.

Em que sentido estas importantes conquistas deram projecção e notoriedade ao trabalho realizado dentro e fora de campo?

Falei na definição de objectivos. Os nossos nunca foram só ganhar as provas em que participássemos. O objectivo principal e determinante sempre foi qualificar e dar a máxima competência à nossa forma de jogar. Sabíamos que, se o fizéssemos, estaríamos sempre muito perto de obter sucesso nas referidas competições. Foi o que aconteceu. Para nós não é importante a notoriedade nem nos preocupamos com tal. O importante é percebermos que o caminho que definimos foi o correcto. Não nos interessa quem nos julga. Nós julgamo-nos permanentemente. Queremos ser cada vez melhores.

Como vê o futsal português neste momento? 

Se nos reportarmos aos resultados desportivos, estamos muito bem. Ombreamos, claramente, com qualquer equipa/selecção mundial. Neste momento, somos vice-campeões europeus de clubes e de selecções. Estamos num patamar de excelência. No entanto, não existe estratégia para o desenvolvimento do futsal português. E não existe por falta de vontade ou por imobilismo de quem gere a modalidade. Projecto existe e foi entregue por mim a quem de direito. Sei muito bem daquilo que falo.

O que falta, então, ao futsal português para atingir o patamar a que chegou, por exemplo, o futebol?

É impossível qualquer modalidade chegar ao patamar do futebol. Pelo mediatismo, pelos grandes interesses económico-financeiros, pela implantação que foi tendo por esse mundo fora ao longo de tantos anos. Mas isso nunca será problema. O importante é que se fomente a prática desportiva, especialmente junto dos jovens. Pratiquem a modalidade que bem entenderem, mas pratiquem. Não pode existir guerra entre modalidades desportivas. A guerra terá de ser contra o sedentarismo, pela nossa saúde.

E a selecção, pode alcançar em breve feitos importantes? 

Espero que seja já no próximo europeu. Fomos vice-campeões no anterior Campeonato da Europa, portanto... Já falta muito pouco para sermos os primeiros. Temos uma equipa técnica – que conheço muito bem, já que trabalhámos juntos muitos anos – competentíssima. Temos excelentes jogadores que vão chegando ao espaço da selecção cada vez com maior conhecimento do jogo, cada vez mais aptos, o que raramente acontecia anteriormente. Tudo isto faz com que possamos perspectivar algo de muito bom para o futsal português. E, como já disse, espero que seja já no próximo europeu.

Ricardinho foi eleito, recentemente, o melhor jogador de futsal do mundo. Que comentário lhe merece este feito?

Sempre tive dificuldade em individualizar qualquer desporto colectivo. Este é, para mim, um caso excepcional. Um caso de grande qualidade, de grande dedicação, de grande determinação. O Ricardinho podia fazer valer os seus extraordinários atributos de uma forma negativa. Mas não. Treina como ninguém, joga como ninguém, é extremamente colectivista. Esta distinção é merecidíssima. Além do mais contribui para elevar a auto-estima dos portugueses. E bem precisamos…

Falando agora um pouco do seu papel enquanto treinador, como é que consegue manter o controlo das emoções e da equipa durante os jogos, dado que o futsal, por aquilo que se vai assistindo, é cada vez mais uma modalidade onde se vive muito com os nervos à flor da pele dentro e fora de campo?

O meu espírito interventivo faz com que, por vezes, pareça que existe algum descontrolo. Tudo se treina… O tipo de intervenção no jogo advém do tipo de intervenção no treino. Criamos hábitos. Não há novidades nos jogos.

Nesta época, o que podemos esperar de Orlando Duarte e do Sporting?

Aquilo que eu disse anteriormente. Definição de objectivos. Qualificar e dar máxima competência ao nosso jogo, para estarmos sempre muito perto de obter sucesso nas competições em que participarmos. Foi o que aconteceu na época passada e que sempre acontecerá comigo. Queremos ser cada vez melhores!