“O `boom` só acontecerá quando os grandes apostarem no futebol feminino”


Aos 21 anos, Filipa Patão é já um dos valores seguros do futebol feminino e perto dela é proibido dizer que “as raparigas não jogam à bola”.

Sindicato - Quando é que começou este gosto por jogar futebol?

Filipa Patão - Começou por volta dos três anos, quando já na praia adorava dar toques juntamente com os meus pais, que desde cedo me pegaram este “bichinho” da bola.

Sindicato - Quando é que pensou levar o futebol mais a sério?

Filipa Patão - Inicialmente jogava pólo aquático no Arsenal 72, mas a partir dos 13 anos comecei a pensar que o que gostaria mesmo de praticar era futebol. A minha paixão e gosto pela modalidade fizeram com que procurasse clubes na zona com futebol feminino. Foi então que cheguei ao 1º Dezembro (em Sintra), onde integrei com 13 anos a equipa de sub-18.

Sindicato - E a família apoia-a?

Filipa Patão – A minha família é “viciada” em desporto. Qualquer modalidade desperta a atenção e faz-nos ficar vidrados na televisão, estádios, etc. A minha grande influência foi sem dúvida os meus pais. O meu pai foi guardaredes e a minha mãe desde nova que gosta de fazer o “gosto ao pé” e jogar umas partidinhas de futebol. Sempre me apoiaram e incentivaram para ingressar na modalidade e tiveram sempre presentes em todos os momentos da minha vida desportiva (bons e maus). São eles a minha grande inspiração sempre que treino ou jogo, pois foram eles que permitiram que concretiza-se o sonho de fazer o que mais gosto na vida… jogar futebol!

Sindicato - Como é ser mulher num desporto dominado por homens?

Filipa Patão - Não diria que é mau, porque ser praticante de um desporto “ainda” tão dominado pelos homens, só me dá força e vontade de praticá-lo cada vez com mais força e empenho, para mostrar que nenhuma modalidade desportiva deve ter rótulos ou preconceitos. Até hoje, nunca tive qualquer situação constrangedora por jogar futebol, mas obviamente que sempre ouvi a palavra “Maria-rapaz” ou alguns comentários como “as raparigas não jogam à bola”. Mas a partir do momento em que estou com a bola nos pés e jogar este jogo tão lindo que eu tanto gosto, todos esses comentários são dissipados.

Sindicato - O que é que falta ao futebol feminino para saltar para um novo patamar?

Filipa Patão - O futebol feminino só terá o verdadeiro “boom” em Portugal, a partir do momento em que as equipas grandes (Benfica, Sporting e Porto) começarem a apostar no futebol feminino. Isso arrastará certamente mais apoiantes do futebol feminino e maior mediatismo a nível da imprensa. Será então uma bola de neve e todo começará a melhorar e a desenvolver-se.

Sindicato - No futebol feminino, vive-se ou sobrevive-se?

Filipa Patão  - Sobrevive-se, no que diz respeito a apoios e manutenção das equipas nos campeonatos nacionais. E vive-se pelo gosto e pelo amor que todos os intervenientes têm pela modalidade.

Sindicato - Está a terminar o mestrado em Desporto, é difícil conciliar as duas coisas?

Filipa Patão - Quem corre por gosto não cansa. Quando se gosta mesmo, o difícil torna-se fácil.

Sindicato - Acha que se houvesse mulheres a mandar no futebol, tudo seria mais pacífico?

Filipa Patão  - Se existirem mulheres em posições estratégicas e destaque no dirigismo (como por exemplo na federação e na UEFA – Ana Caetano) tudo seria mais fácil para o futebol feminino.

Sindicato - E o maior sonho é?

Filipa Patão - Chegar à selecção nacional A.

Sindicato - Como tem visto a activação do Sindicato em relação aos problemas que acontecem no futebol?

Filipa Patão  - Com agrado, no apoio aos futebolistas desempregados e na pressão aos clubes para cumprirem com os compromissos assumidos.