Impressões Digitais: Jonas Mendes (Académico de Viseu)
O guarda-redes guineense tem o sonho de um dia ser Presidente da República do seu país.
Qual foi a pessoa que mais influenciou a tua carreira?
Acho que não houve uma pessoa que me tenha influenciado diretamente. Sou guineense e, na Guiné, o que mais se pratica lá é o futebol, é o desporto-rei. Quando era mais novo costumava, juntamente com os meus colegas, correr atrás da bola, ou de aquilo que tínhamos para chutar, porque às vezes não tínhamos bola, e foi a partir dessa altura que comecei a ganhar o gosto pelo futebol e a correr atrás do sonho de um dia ser jogador. Se alguma vez pensei que ia ser profissional? Não, nunca pensei. Simplesmente jogava porque gostava e aquilo deixava-me feliz.
Quem é o teu melhor amigo no futebol?
O futebol todos os anos nos dá muitos colegas e alguns amigos. Graças a Deus, ao longo da minha carreira fui conhecendo muita gente boa. Às vezes não conseguimos manter uma ligação com todos como a gente queria, mas o futebol deu-me um irmão, posso dizer assim, que é o João Mário. Joga aqui comigo no Viseu. Conhecemo-nos numa chamada à seleção, descobrimos que éramos da mesma cidade, e hoje as nossas famílias são como família uma para a outra. O Lucas Klysman, que joga no Vildemoinhos, é outro bom amigo, uma pessoa muito agradável para se conviver, o Pana, também aqui do Académico, que conheci no ano passado, e um amigo de infância, que conheci antes do futebol, embora depois tenhamos jogado no Amora, que é o Márcio. E o Pedro Dias, que joga no Real Massamá, damo-nos muito bem. São essas as pessoas que tenho mais próximas. O futebol dá-nos oportunidade de conhecer pessoas fantásticas e, graças a Deus, tenho tido essa oportunidade.
Ídolo?
Os meus ídolos vão mudando, são de momentos. Já foi o Buffon, o Petr Cech, o Manuel Neuer…. No mundo do futebol vão aparecendo sempre novas pessoas e passamos a gostar delas. De realçar também a admiração que tenho pelo Cristiano Ronaldo, embora não seja da minha posição, mas por aquilo que ele é, pelo que conquistou, pela dedicação que tem ao seu trabalho e pela fome de conquistar tudo e mais alguma coisa. É uma inspiração para quem quer chegar a algum lado.
Clube de infância?
Quando nasci, na Guiné, os meus pais não tinham possibilidades, que é uma realidade que existe no país. Hoje está um bocadinho melhor, mas, por norma, as pessoas lá não têm televisão. E o primeiro jogo que vi foi do FC Porto. [risos] Por acaso, nesse jogo o FC Porto ganhou por 3-0, não me lembro contra quem, e o gosto apareceu aí. Depois apanhei uma fase em que o FC Porto só ganhava, então tornei-me portista. Quando somos novos gostamos é de quem ganha. Hoje já não é bem assim. Sendo profissional quero é que o clube onde estiver tenha o maior sucesso possível e o FC Porto ganhar ou perder já é relativo. Mas cheguei a chorar e a não comer porque o FC Porto perdia. Hoje isso já está mais controlado. [risos]
Memória mais marcante no futebol?
Sem dúvida que foi qualificar a Guiné-Bissau para a CAN e conseguir participar, pela primeira vez, numa fase final da Taça das Nações Africanas. A alegria que foi sermos recebidos no aeroporto internacional Osvaldo Vieira, em Bissau, e o acompanhamento que tivemos até à partida de Bissau para o Gabão foi uma coisa absolutamente incrível! Nunca tinha visto nada assim na minha vida e acredito que quem viveu aquilo nunca vai esquecer. Só tenho de estar grato por ter vivido aquele momento e ter feito parte daquela conquista.
Se não fosses jogador, o que serias?
Ao longo dos anos vamos mudando de ideias e de forma de pensar, inclusive em relação àquilo que queremos ser. No Secundário queria ser enfermeiro devido a uma situação que aconteceu dentro da família. Depois quis ser professor de Educação Física porque gosto de quase todas as modalidades além do futebol, até cheguei a ser treinador das camadas jovens do meu clube de formação, o Amora. E um dia gostaria de ser presidente do meu país porque acho que conseguirei ajudar as pessoas mais do que aquilo que se está a vivenciar agora.
Tens algum ritual ou superstição antes dos jogos?
Gosto de pensar positivo. Embora seja católico não praticante, não costumo ir à missa, gosto de pedir a Deus, que abençoe a minha equipa e a mim para que as coisas nos corram bem, mas, sem ser isso, tento concentrar-me antes dos jogos. E depois é desfrutar ao máximo, tentar entrar o mais relaxado possível porque acho que só assim conseguimos fazer aquilo que fazemos nos treinos. E, com concentração, melhor ainda!
Qual é o desporto de que mais gostas a seguir ao futebol?
Gosto de quase todos! [risos] Às vezes estou a ver televisão com a minha esposa e ponho-me a ver andebol ou basket e ela pergunta-me por que é que estou a ver aquilo. Gosto, não sei. É uma coisa que gosto de assistir, pela adrenalina que as modalidades desportivas transmitem. Mas, além do futebol, adoro basket e motociclismo, embora nem saiba andar de mota. [risos] No meu tempo no Secundário, se fosse preciso ficava acordado até às quatro da manhã para assistir a uma corrida de motas. Para ver o Valentino Rossi, por exemplo. Ou para assistir à NBA, quando os Los Angeles Lakers estavam num bom momento. Às vezes perdiam e sentia que tinha perdido a noite para nada. Ou o Valentino Rossi caía e eu ia para a cama todo chateado porque tinha ficado acordado até às tantas e ele tinha-se espatifado na terceira curva. [risos]
Qual é o teu prato favorito?
Gosto de quase tudo, desde que tenha arroz. [risos] Como já vivo aqui há algum tempo, às vezes também tenho saudades da comida do meu país, como um caldo de mancara ou um caldo de chabéu, que é de onde depois sai o óleo de palma. Tanto pode ser acompanhado com carne ou com peixe.
Filme favorito?
Os Amigos Improváveis, um filme francês que retrata uma linda história de companheirismo e de dedicação ao próximo. É um dos meus filmes preferidos.
Programa de TV ou série favorita?
Não costumo ver televisão, mas gostei de ver La Casa de Papel, uma série de que gostei muito e consegui acabar. [risos] Neste momento estou a ver o El Chapo, sobre um narcotraficante mexicano. Ainda não acabei, mas estou a gostar muito.
Livro favorito?
Tenho lido alguns, mas posso considerar O Segredo. É um livro de motivação, que nos faz pensar de forma positiva, para que a gente consiga alcançar tudo aquilo que quer e deseja, e que nunca desistamos de tentar ser felizes porque estamos aqui de passagem e temos é de ser felizes.
Grupo ou cantor de eleição?
Isso também é de momentos. Já gostei de muitos que hoje nem sequer oiço, mas tenho ouvido mais o Matias Damásio, pela forma como compõe as músicas dele e pelas letras das músicas.
Férias de sonho?
Um dia gostaria de ir aos Estados Unidos, mas não para ir a um sítio específico. Queria ir assistir a um jogo entre os Los Angeles Lakers contra os Golden State Warriors! [risos] Mas não tenho um lugar que possa dizer que gostaria de ir. Muita gente fala das ilhas paradisíacas, etc., mas eu não. Também porque viajo muito. Embora sejam viagens de caráter profissional, acabo por aproveitar sempre alguma coisa aqui e ali, e isso também vai matando a fome de querer ir a tal sítio.
Cidade favorita?
Tenho duas: uma é a cidade onde nasci, Canchungo, na Guiné-Bissau, e a outra é Amora, que foi onde cresci desde os 11 até 21 anos. Amora é vida! [risos]
Hobby preferido?
Estar com a família. Como passamos muito tempo ausentes deles, quando tenho algum tempo tento estar sempre perto deles, compensá-los de certa forma pelas ausências que tenho quando vou à seleção. Jogo à bola com o meu filho, que é uma coisa de que ele gosta muito, e tento estar o máximo tempo com eles.
Qual foi o dia mais feliz da tua vida?
Sem sombra de dúvidas, foi dia do nascimento do meu filho. Foi a realização de uma coisa que sempre quis e quando aconteceu foi maravilhoso. Ter o meu filho nos braços é uma situação que não consigo descrever. Continuo a desfrutar de todos os momentos que passo com ele e acho que isso é que nos faz levar a vida para a frente e lutar para que as coisas aconteçam.
Perfil
Nome: Jonas Asvedo Mendes
Data de nascimento: 20 de novembro de 1989
Posição: Guarda-redes
Percurso como jogador: Amora (formação), Amora, Beira-Mar, Atlético, Vianense, Vizela, Salgueiros e Académico de Viseu.