“Espero que seja o ano da minha afirmação”
Avançado rápido e letal, Licá foi peça-chave na subida do Estoril à I Liga e considerado o melhor jogador da II Liga na última época.
Qual foi o seu trajecto até chegar ao Estoril?
Estive no Crasto, uma equipa de Castro Daire, perto de Viseu, até ao primeiro ano de júnior. No segundo ano de júnior fui para o Social de Lamas, uma equipa que estava na III Divisão, e já jogava pelos seniores. Nessa época marquei alguns golos e fui contratado pela Académica de Coimbra. Cheguei a Coimbra no meu primeiro ano de sénior. No primeiro ano fui emprestado pela Académica ao Tourizense. No segundo fazia parte do plantel da Académica mas ia jogar ao Tourizense. No terceiro ano comecei na Académica e depois fui emprestado ao Trofense. Na época a seguir mantive-me no Trofense. No ano a seguir, deixei a Académica e assinei pelo Estoril.
O gosto pelo futebol vem de família? Houve alguém que tivesse um papel determinante na sua carreira?
O meu pai foi jogador – jogou na distrital – e o meu irmão jogou na formação do Boavista e ainda joga nos distritais mas não fui influenciado por ninguém. Eu morava a 50 metros do campo de futebol da minha aldeia e desde pequeno que ocupava todo o meu tempo livre a jogar futebol.
Como ganhou a alcunha de Licá?
Desde pequeno que me chamam assim. A minha madrinha começou a chamar-me Licá – o meu nome é Luís Carlos – e ficou. 
Terminou contrato com a Académica e rumou ao Estoril. Foi a aposta certa?
Sem qualquer dúvida. O que consegui o ano passado e a subida do Estoril à I Liga demonstram isso mesmo.
O Estoril é um clube para ficar mais algum tempo?
Sim, acredito neste projecto. Tanto é que renovei o meu contrato por mais dois anos. É um clube que me dá garantias de sucesso e contribuir para a minha afirmação na I Liga.
Como foi a sua experiência em Coimbra?
Foi boa. Não me posso queixar. Só facto de ter saído da forma que sai, rescindi contrato… mas não guardo qualquer rancor. Em todo o caso foi a Académica que me lançou no futebol profissional e por isso estarei sempre agradecido ao clube.
De quem partiu a iniciativa de sair da Académica? De si ou do clube?
Soube que não contavam comigo e como era o meu último ano de contrato e não valia a pena estar a ser emprestado. Por isso decidimos rescindir e felizmente que vim para o Estoril.
Porquê a opção pelo Estoril?
Tive outros convites mas o Estoril foi o clube que mostrou mais vontade em me contratar. Qualquer coisa me disse que tinha de vir para este clube e foi a melhor opção que tomei. Até então, tinha jogado em clubes do Norte e do Centro.
Vir para o Estoril significou uma alteração da zona geográfica. Pensou nisso antes de assinar pelo Estoril?
Pensei mas depois de estar aqui não estou nada arrependido, antes pelo contrário. Estou aqui com a minha família e a adaptação foi fácil.
De ano para ano (12 em 2011/12) tem vindo a melhorar o seu registo pessoal de golos. Qual a sua marca para esta época?
Não tenho qualquer meta de golos definida. O meu objectivo é ajudar o Estoril. Claro que se conseguisse o mesmo de número de golos do ano passado seria muito bom. Mas só penso em ajudar o Estoril. 
Como jogador quais são os seus pontos fortes?
A técnica, a velocidade e trabalho muito para a equipa. Desgasto as defesas adversárias e ajudo a minha equipa a defender.
E pontos a melhorar?
Posso melhorar na finalização, no aspecto físico… todos os dias é possível melhorar mais um bocado.
Pode dizer-se que 2011/12 foi a temporada da sua afirmação?
Sim, sem dúvida. Na época passada comecei a ser visto por muito mais pessoas e espero que este ano seja o da minha afirmação na I Liga.
Tem notado muitas diferenças da I para a II ligas?
Na I Liga as equipas têm mais qualidade e, como é óbvio, o ano passado, o Estoril lutava para subir de divisão. Esta época os objectivos são diferentes. Por isso não podemos jogar da mesma forma. Penso que, acima de tudo, a grande diferença entre as duas ligas está na qualidade das equipas.
As marcações aos avançados são mais cerradas?
Os jogadores têm mais qualidade e por isso a dificuldade aumenta. Mas mesmo na II Liga há muitos jogadores que têm qualidade para estar na I Liga.
Na última época foi considerado o Melhor Jogador da II Liga e ganhou várias vezes os prémios de Melhor Jogador e Melhor Jovem do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF). O que significam para si? Considera importante que o Sindicato distinga os jogadores?
Para começar é muito importante que o Sindicato exista e que os jogadores se tornem sócios. Podem não precisar dele no momento mas nunca se sabe no futuro. O facto do Sindicato distinguir os jogadores com os seus prémios é muito positivo porque ajuda-nos a trabalhar ainda mais. Chegar ao final de um mês e ser distinguido com um prémio é muito gratificante.
Faz bem ao ego?
Muito.
Ficou surpreendido pela capacidade demonstrada pelo treinador Marco Silva?
Um pouco. Só conhecia o Marco como director desportivo. No início, quando pegou na equipa, na forma como falou, como nos motivou, acreditei imediatamente que podíamos ter sucesso.
Como tem visto o trabalho do SJPF?
Conheço jogadores que já necessitaram do Sindicato e este mostrou-se disponível para tudo. O Sindicato é muito importante e está a fazer um grande trabalho. Espero que continue assim e que haja cada vez mais adesão dos jogadores.
Na pré-época, o Estoril defrontou uma equipa do 10.º Estágio do Jogador, formação constituída por futebolistas desempregados. Como colega de profissão o tema do desemprego no futebol é algo que o preocupe?
Claro que me preocupa. São meus colegas de profissão e acho que o tema do desemprego não passa ao lado de nenhum jogador. Mais uma vez o Sindicato tem um papel muito importante nesta área já que através do Estágio faz jogos com outras equipas e ajuda os jogadores desempregados a arranjar clube.
Quando jogou contra essa equipa ficou surpreendido com a qualidade desses jogadores?
Sim mas muitos dos jogadores que estão nessa situação têm valor para estar em boas equipas. O Estágio é importante para as equipas abrirem os olhos e verem que há jogadores desempregados com qualidade.
Tem a ambição de jogar no estrangeiro?
Sim, o meu sonho é jogar no campeonato espanhol.
Em qual equipa?No Real Madrid. Mas para já quero fazer a minha história na I Liga portuguesa e só depois pensar no estrangeiro.
Tem espírito de emigrante?
Sim, acho que poderia fazer umas boas épocas no estrangeiro. Mas ainda só tenho 24 anos. Claro que se aparecesse um bom convite para mim e para o Estoril, poderia aceitar mas para já não estou a pensar nisso.
O que pensa da emigração de jogadores portugueses para campeonatos de menor visibilidade como o Irão, Chipre ou Roménia?
Em Portugal, infelizmente, não apostam muito nos jogadores portugueses e muitos decidem emigrar. Depois, a parte financeira também conta, paga-se melhor no estrangeiro e os jogadores têm de se fazer à vida.
Por exemplo, se neste momento recebesse um convite de um clube destes países, valorizaria mais a parte desportiva ou financeira?
Com a minha idade dificilmente aceitaria mas dependeria sempre da proposta.
Deveriam ser tomadas mais medidas contra os salários em atraso no futebol português?
Sem dúvida. É inadmissível que um jogador trabalhe e não receba quando chega o final do mês. Os clubes são os principais responsáveis pelos salários em atraso porque oferecem mundos e fundos e depois não conseguem cumprir. Os clubes devem oferecer o que podem pagar, depois quem quer quer, quem não quer não quer.
O Estoril é um exemplo a seguir.Já teve salários em atraso?
Felizmente que não. Não tive qualquer problema pelos clubes por onde passei.
Na hora de optar por determinado clube, o jogador pensa se este é ou não um clube cumpridor relativamente aos salários?
Sim, é preferível ter um contrato mais baixo e saber que recebemos do que um mais alto e chegar ao final do mês e não receber.
As chamadas equipas grandes deviam apostar mais no jogador português?
Acho que sim. É uma evidência, as chamadas equipas grandes têm poucos jogadores nas suas equipas titulares. Isso também ajuda que o jogador português tenha que emigrar para ser valorizado.
O que pensa do regresso das equipas B?
É positivo. Muitos clubes tinham vários jogadores e assim podem metê-los na equipa B e estarem disponíveis para a equipa principal. Quem sai dos juniores tem a oportunidade de integrar a equipa B e talvez seja mais fácil chegar à equipa principal. Pode ser que assim seja mais fácil apostar no jogador português.
Deveria existir uma limitação de jogadores estrangeiros por equipa?
Sim, seria importante para dar mais oportunidades aos jogadores portugueses e evitaria que muitos destes emigrassem para campeonatos como os do Chipre ou do Irão.
É um tema recorrente a escassez de avançados portugueses de qualidade para a selecção.
Na posição específica de ponta-de-lança concordo com essa tese. Talvez seja necessário trabalhar melhor os avançados ou então procurar melhor… mas sim, acho que faltam pontas-de-lança portugueses de qualidade.
Como alterar isso?
Talvez apostar mais nessa posição desde a formação e depois dar-lhes oportunidades quando chegarem a seniores.
Ambiciona chegar à selecção A?
Claro, todos os jogadores portugueses têm essa ambição e eu não fujo à regra. Não vai ser fácil mas vou lutar por isso.
O horário dos jogos influencia o rendimento dos jogadores?
Sim, principalmente nas alturas do ano de mais calor. É melhor jogar à noite, do género 20 ou 20h30, do que às 16 ou às 17 horas. É verdade que o horário influencia mas é para as duas equipas e não pode servir de desculpa para uma derrota.
Os jogos à tarde não contribuiriam para maiores assistências de espectadores nos estádios?
Acho que não. Dá-me a ideia que as assistências nos estádios estão a diminuir. Talvez seja por causa da crise. É triste porque era bom ter os estádios cheios.
Tem algum ídolo no futebol?
Cristiano Ronaldo, pela forma como trabalha e como continua depois de tudo o que já ganhou. É um exemplo a seguir.
Quem foi o defesa mais difícil de enfrentar até ao momento?
Já apanhei vários mas não particularizo nenhum em especial.
O melhor golo da sua carreira até agora?
Pela Académica frente ao Marítimo (3-1). Foi o meu primeiro golo na I Liga.