Mestre de xadrez


Depois de tirar o curso de Engenharia Mecânica e de ter trabalhado nessa área, o lateral voltou aos estudos.

Estás a tirar um mestrado em Materiais de Tecnologias de Fabrico. Porquê essa área?
Comecei por tirar Engenharia Mecânica. E dos mestrados que havia e que conseguia conciliar com o futebol achei este interessante. Há sempre novos materiais a surgir, tal como novas tecnologias de fabrico. Estava indeciso entre este e Construções Mecânicas, mas optei por este.

Como é que foi o teu percurso académico?
Terminei o 12.º ano e entrei na faculdade, quando ainda jogava no Famalicão. Depois de tirar o curso estive três anos a trabalhar na minha área. Foi quando jogava no Vizela: trabalhava de dia e treinava à noite. Nessa altura não dava para estudar. E quando assinei pelo Boavista, como fiquei com mais tempo, decidi continuar os meus estudos e tirar um mestrado.

E o que é que te motivou para voltares a estudar? Foi apenas por essa questão de teres mais tempo?
Foi por ter tempo e vontade também. Mesmo quando trabalhava, tive sempre motivação para aprender algo novo. Com um mestrado sempre são mais conhecimentos que adquirimos e que, num futuro próximo, podem dar muito jeito. Sabemos que o futebol não dura para sempre e, dentro de uns anos, penso ficar mais ligado à engenharia do que ao futebol. Acho que quando acabar a carreira vai ser também o meu término ligado ao futebol. Como adepto vou continuar, de certeza, mas não a trabalhar para o futebol. Vou continuar na minha área e o que queria quando resolvi tirar o mestrado era adquirir mais conhecimentos.

És filho do Carlos Fonseca, um antigo jogador profissional. Apesar de teres seguido as pisadas dele, ele também sempre te fez ver a importância dos estudos?
Sim, sim. Quando estava nas camadas jovens ele obrigava-me a estudar senão tirava-me do futebol. Precisamente por ter sido jogador de futebol, ele sabe que este mundo é o dia a dia e há sempre surpresas. Nem sempre conseguimos chegar lá acima e ele sempre me motivou a estudar. Depois também surgiu muito da minha força de vontade. Quando subi a sénior, ainda era júnior e subi ao plantel sénior do Famalicão, o clube passava uma fase má e vi as dificuldades que os meus colegas passaram naquela altura. Isso ainda foi um acréscimo à motivação que tinha para continuar os meus estudos.

Os clubes por onde tens passado apoiaram-te sempre relativamente aos estudos?
Não é uma coisa que fale muito nos clubes por onde passo. Muita gente me pergunta por que é que tirei engenharia e não tirei desporto, por andar no futebol. Ficam surpreendidos e dão-me força para acabar os estudos.

Faltam medidas que apoiem a conciliação dos estudos com a profissão de futebolista?
Veem-se cada vez mais medidas, falta muito é a motivação para estudar. Dá perfeitamente para conciliar os estudos com o futebol. Falta é vontade para estudar.

Sentes que és visto pelos colegas de equipa como um exemplo a seguir?
Se calhar, sou. Mas como eu, há outros. Este ano o Boavista tem mais alguns exemplos de jogadores que estudaram. Acho que isso, aos poucos, está a ver-se cada vez mais nos jogadores de futebol.

Há mais jogadores do Boavista a estudar neste momento?
Sei que o Mateus terminou o 12.º no ano passado, o Bracali também estudou, andou na faculdade antes de vir para Portugal, e acho que o Helton, o guarda-redes, também tem um curso. Assim de repente lembro-me desses.

Aconselhas os colegas, principalmente os mais novos, a não abandonarem os estudos?
Sim. Quando falo com o pessoal mais jovem que anda no futebol é o primeiro conselho que dou. Os estudos são sempre uma coisa para seguirmos na vida. Sabemos que o futebol é uma área de que gostamos, só que, por vezes, podemos trabalhar e dar tudo, e uma lesão ou a falta de uma oportunidade pode deitar esse sonho por água abaixo. Sem o futebol, temos os estudos como uma mais-valia que nos pode dar emprego noutras áreas de que gostamos. É por isso que aconselho toda a gente a trabalhar ao máximo no futebol, mas sem deixar os estudos de lado.

Abandonar os estudos precocemente é uma das maiores “pragas” para quem quer ser jogador profissional?
Acho que é uma das maiores pragas mesmo. A carreira é muito curta. A oportunidade pode surgir num ano, mas uma lesão pode estragar-nos os planos. É sempre imprevisível.

Um jogador com formação académica pode ser melhor em campo? Vês ligação entre as duas coisas?
Acho que a formação académica não interfere muito dentro de campo. Se interferir é minimamente. Dentro de campo, a nível de jogo, é mais a qualidade e o que trabalhamos nos treinos. Pode ajudar na forma de pensar e ver o futebol dentro do campo. Nisso pode ajudar um bocadinho, mas mesmo assim…. O mais importante é mesmo o trabalho que é feito diariamente nos treinos.

Qual é a tua opinião sobre o trabalho do Sindicato no futebol português?
Tem evoluído muito. Tem ajudado muito os jogadores: promove cursos, vejo que tenta acompanhar de perto os jogadores, tenta dar-lhes formação e outros pontos de vista sobre a vida além do futebol, por isso está a trabalhar muito bem.


Perfil
Nome: João Carlos Araújo Fonseca Silva (Talocha)
Data de nascimento: 30 de agosto de 1989
Posição: Defesa
Percurso como jogador: Famalicão (formação), Famalicão, Vizela e Boavista.