“Quando estamos fora damos mais valor ao que temos”


Aos 28 anos, Anselmo vive a sua primeira experiência fora de Portugal e logo num país no mínimo exótico (tendo em conta os padrões europeus). O avançado assinou por dois anos com os irarianos do Tractor.

Viveu um grande susto no Irão devido a um sismo. Como é que foi?
Quando decidi ir para o Irão foi também com o objectivo de viver uma nova experiência de vida e absorver uma nova cultura. Agora, num tom de brincadeira, posso dizer que tive mais uma experiência que foi essa de viver um sismo. Naquele momento foi assustador. Estava em casa e esta tremia por todo o lado. O primeiro sismo foi por volta das 17 horas e depois houve outro uma hora depois.

 

Estava sozinho?
Não, estava em casa do Flávio Paixão, num quinto andar, com ele e com o João Vilela [também jogadores do Tractor] a prepararmo-nos para ir para o treino que depois foi naturalmente cancelado.

 

E depois?
Fomos para a rua onde já estavam muitas pessoas. No Irão, a quinta e a sexta-feira são como se fosse o fim-de-semana e nestes dias os iranianos têm o hábito de dormir em tendas nos jardins das cidades. No dia do sismo, acho que mais de metade da população deve ter dormido na rua. Onde havia um espaço de relva lá estava uma tenda. Ficámos uma noite na rua e depois fomos para a minha casa que é no mesmo prédio da do Flávio Paixão mas no primeiro andar e dá inclusive para sair pela janela em caso de emergência.

 

A nível pessoal e profissional como está a correr a integração ao Irão?
Está a correr bem. Mas é um país difícil e é necessário ter uma boa resistência psicológica para aguentar aquela realidade. O estilo de vida é diferente, há muitas restrições… passámos lá o mês do Ramadão e neste período não podemos comer ou beber na rua. Durante os treinos íamos ao balneário beber líquidos. Todos sabem que vamos beber mas não o podemos fazer em público. Em Portugal ou noutro país europeu a qualidade de vida deve ser superior à registada no Irão mas é uma experiência diferente e que não me arrependo. Quando estamos fora damos mais valor ao que temos.

 

E em termos de clube?
É fascinante. Em todos os jogos, são quase todos às 10 da noite, temos cerca de 50, 60 mil espectadores e as mulheres não podem ir ao estádio. Os nossos adeptos são fanáticos. É uma espécie de Vitória Guimarães mas com muito mais gente. Apoiam os jogadores ao máximo e há uma grande interacção entre adeptos e jogadores. Sentimo-nos num grande clube. Na rua pedem-me para tirar fotos… o povo é muito prestável e hospitaleiro.         

 

É a sua primeira aventura no estrangeiro. Tem espírito de emigrante?
Sempre achei que dificilmente emigraria. Não tenho espírito de emigrante mas surgiu a oportunidade e era boa e aceitei. No início fui um pouco a medo, quando fui assinar, não sabia o que iria encontrar mas quando vi as imagens do estádio, do clube, a forma como fui recebido pelos dirigentes do clube fiquei cheio de vontade de assinar pelo Tractor e começar a jogar rapidamente.

 

Então, a ida para o Irão foi mais opção ou uma necessidade?
Foi uma opção. Em termos desportivos e financeiros foi uma boa oportunidade para mim.

 

Como foi recebido pelos companheiros de equipa?
Tanto eu como os restantes portugueses fomos muito bem recebidos. No Irão há uma regra, que devia ser implementada em Portugal, que diz que só podem jogar quatro estrangeiros. Os jogadores iranianos receberam-nos muito bem, tentam falar connosco, aprender umas palavras de português…

 

Comunicam em que língua?
Em inglês. Na equipa há quatro ou cinco jogadores que falam bem inglês. Temos ainda a vantagem de ter um treinador português [Toni] e um tradutor que fala muito bem português.

 

Fora dos treinos, o Anselmo, o Flávio Paixão e o João Vilela costumam dar-se com os jogadores iranianos?
Lá não há a cultura de jantares de equipa. Damo-nos muito com iraniano que esteve muito tempo na Holanda.  

 

Os preços dos produtos são idênticos nos dois países?
A gasolina no Irão é baratíssima. Pagamos cerca de oito euros para atestar um depósito de 80 litros. Os bens de primeira necessidade também são mais baratos. Só a carne é que neste momento está praticamente ao mesmo preço de Portugal.

 

Qual é o prato típico no Irão?
É o Kebab, uma espécie de fatia de carne no prato de frango ou de borrego com arroz. Eu geralmente vou aos restaurantes mais internacionais, principalmente ao italiano.  

 

Continua a seguir a Liga portuguesa?
Sim, pela RTP Internacional e por outros canais de satélite e ainda pelos sites portugueses.

 

Qual a importância das redes sociais para quem está a jogar no estrangeiro?
Muito importante. Não sou viciado em redes sociais mas quando estou em casa tenho-as sempre ligadas. O telefone é muito caro.

 

Mesmo no estrangeiro, sente-se apoiado pelo Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol?
Sim, sem dúvida. Desde a chegada de Joaquim Evangelista à presidência do Sindicato que se registou um processo evolutivo grande no Sindicato, na força deste com as instituições. Penso também que os jogadores estão a cooperar mais no Sindicato porque acreditam mais neste e veêm que o trabalho está a ser bem feito. 

 

 

B.I.:
Nome: Anselmo
Idade: 28 anos
Posição: Avançado
Clubes: Freiria, Torreense, Estrela da Amadora, Nacional da Madeira, Rio Ave e Tractor (Irão)