“Profissão acaba cedo e é preciso preparar o futuro”
Aos 35 anos, Sandro pendurou as botas e assumiu a coordenação do futebol de formação do Vitória de Setúbal. Diz que a mudança de funções não é fácil e aconselha os jovens a estudarem.
Como está a decorrer a passagem de jogador para coordenador do futebol de formação?
Está a correr bem, continuo ligado ao futebol e a sentir diariamente o cheiro do balneário. São funções recentes e ainda aperta a saudade de jogar futebol mas aos poucos vou ultrapassando essa saudade.
Como é que é o seu dia-a-dia nestas funções?
Começa cedo. Chego ao estádio por volta das nove horas e às 10 tenho treino com uma parte da equipa de juniores que infelizmente não está a estudar. Almoço e depois desempenho trabalho de secretaria onde tento organizar e melhorar as condições dos escalões da formação. Além disso, neste momento, estou temporariamente a treinar a equipa de iniciados cujos treinos começam às 19h45.
Foi o momento exato para deixar os relvados?
Não sei, são opções que temos de tomar. Sei que tinha condições para continuar a jogar mas considerei que os convites que recebi para continuar a jogar não eram os melhores para mim. Então, surgiu a oportunidade de iniciar um novo projeto e tendo em conta que continuaria ligado ao futebol e, acima de tudo, regressava a casa decidi aceitar pendurar as botas.
Teve pena de não terminar a carreira no Vitória de Setúbal?
Tive, esse sempre foi o meu desejo e nunca o escondi. Foi aqui que comecei e onde passei grande parte da minha vida. É a minha cidade e o meu clube. Teria tido o maior orgulho em ter terminado aqui a carreira. Ainda tentei e lutei por isso mas não foi possível. Não guardo mágoa nem rancor a ninguém.
Nos últimos anos, preparou-se, de alguma forma, para o fim da carreira de jogador profissional?
Infelizmente não. Tive muitos colegas, mais velhos, que na altura me aconselharam a tirar cursos e a preparar o futuro mas, à semelhança do que acontece com a maioria dos jogadores, dizemos que sim mas não fazemos nada por isso no imediato. E depois, quando chega o momento do abandono não estamos tão preparados como devíamos estar. Agora, é correr atrás do prejuízo e preparar-me da melhor maneira possível para o que aí vem.
Sempre pensou continuar ligado ao futebol?
Sim, sempre tive esse desejo. É a única coisa que sei fazer e sempre “respirei” este mundo. Se neste momento tivesse que fazer outra coisa penso que seria muito mais difícil.
Abandonou os estudos cedo?
Deixei de estudar aos 17 anos. Fiquei com o nono ano de escolaridade. Felizmente que mais tarde retomei os estudos e tirei o 12.º ano.
É difícil conciliar os estudos com o futebol?
Chega a uma altura em que não é fácil, principalmente nos clubes mais pequenos. Nos clubes grandes é um problema menor porque fazem acordos com escolas e assim conseguem incluir os jogadores em turmas especiais. Geralmente quando se chega aos juniores é preciso optar e no Vitória, como em muitos outros clubes, não há acordos com as escolas — pelo menos na minha altura não havia — e escolhi apostar em ser jogador. Felizmente, mais tarde, tive o discernimento de concluir o 12.º ano, o que considero importante. Infelizmente há muitos jogadores e miúdos que não o conseguem.
O SJPF está a criar uma estrutura de formação online que combate, em parte, a dificuldade provocada pela mobilidade (mudança de clube ou até de país) dos atletas. Parece-lhe uma boa ideia?
É uma excelente ideia. Por mais bom jogador que se possa ser é preciso ter a noção de esta profissão acaba cedo e é preciso preparar o futuro.
O SJPF está também a criar um cheque-formação para que os jogadores possam frequentar determinados cursos. Pode ser algo apelativo para os jogadores?
Tudo o que seja para formar e ajudar os jogadores é bem-vindo. Tenho que dar os parabéns ao sindicato que ao longo destes anos tem vindo a arranjar condições e ajudas a muitos jogadores.
Tendo agora em conta o seu cargo, aconselha os jovens aspirantes a jogadores a não abandonarem os estudos?
Sim, incentivo-os a não deixarem de estudar.
B.I.:
Nome: Sandro
Idade: 35 anos
Posição: Médio
Clubes: Os Pelezinhos e V. Setúbal (formação), V. Setúbal, Hércules, Villarreal, Salamanca, V. Setúbal, FC Porto, Manisaspor, V. Setúbal, Ceuta e Naval