“As nossas relações com o SJPF são imbatíveis”
O presidente do sindicato espanhol e membro do comité executivo da FIFPro critica a falta de eficácia do controlo financeiro exercido na liga espanhola e realça as excelentes relações que mantém com o Sindicato português.
Quando é que foi criada a Associação de Futebolistas Espanhóis (AFE)?
A AFE foi criada em fevereiro de 1978, numa época em que a luta pela liberdade em Espanha era tremenda e a criação de qualquer associação ou sindicato enfrentava muitas dificuldades, incluindo a dos jogadores. Um grupo de jogadores, entre eles o malogrado Juanito, o presidente da RFEF Angel Maria Villar e o nosso atual selecionador nacional Vicente del Bosque foram alguns dos impulsionadores e fundadores do projeto, no princípio utópico e que agora goza de grande solidez.
Qual o cargo que ocupa na AFE? Há quanto tempo? Como surgiu a oportunidade? Do que se orgulha mais?
A nível político sou o presidente e no organigrama laboral sou o diretor geral com relação direta com os jogadores profissionais. Cheguei a 9 de março de 2010 após disputar as eleições com o anterior presidente, D. Gerardo Movilla, que acabou por retirar a sua candidatura. Nesta fase, a união coletiva fez-nos mais fortes e uma referência a nível mundial, como são os nossos jogadores.
Quais são os principais serviços prestados pela AFE?
Ajudas de advogados e assessoria jurídica, bolsas de estudo e uma extensa oferta de formação, ações para jogadores sem contrato, reclamação de dívidas (também a partir de casa através da intranet), acordos de saúde, etc.
Quais são os principais problemas que afetam os jogadores em Espanha?
Atualmente há deficiências no controlo financeiro exercido pela LFP que em conjunto com uma inadequada e pouco desenvolvida legislação em matéria desportiva faz com que proliferem cada vez os casos de despedimento sem justa causa. Temos ainda os casos de processos de insolvência de alguns clubes e os de incumprimento salarial que, de momento, temos conseguido resolver em praticamente 100 por cento dos casos.
Os salários em atraso são um problema no futebol espanhol?
Sim, mas depois da greve de 2011, criámos medidas de proteção e um fundo de garantia suficientemente amplo para fazer face a esse problema.
A AFE tem alguma ação para os jogadores desempregos?
Temos o Estágio AFE com treinos e jogos frente a equipas da 1.ª e 2.ª divisões de Espanha e também do estrangeiro. Temos uma taxa de colocação na ordem dos 80 por cento.
As novas tecnologias (internet, facebook, etc) são importantes para a AFE?
Sim, porque uma das nossas máximas é estar sempre próximo dos nossos associados e da sociedade em geral. Visitámos os 123 balneários das três primeiras categorias e contactamos mensalmente com aproximadamente 360 equipas da 3.ª Divisão de Espanha (a nossa quarta categoria). O nosso site, além de ser um importante instrumento de comunicação, é também uma ferramenta para que os nossos associados, a partir de casa, denunciem ilegalidades salariais, alterações, contribuições, etc… e o nosso Twiter é um altifalante da opinião dos futebolistas espanhóis.
Que cargo ocupa na FIFPro? Como vê o trabalho da FIFPro e da FIFPro Divisão Europa? Quais são os grandes desafios da FIFPro no futuro próximo?
Sou membro do Comité Executivo da FIFPro. A FIFPro é uma família e desde a Rússia até à Argentina, da Austrália aos EUA, passando por todos os países com sindicatos de jogadores, estendemos a mão a todos. O nosso maior desafio é a equiparação de direitos e o desenvolvimento profissional de 50 mil jogadores com a criação de normas desportivas e jurídicas que protejam os nossos associados dando-lhes segurança na realização do seu trabalho. Eles são os verdadeiros protagonistas do nosso desporto. Lutamos diariamente para que isto seja uma realidade em todos os cantos do Mundo.
Qual é a relação da AFE com Federação e a Liga?
Muito profissional. De trabalho contínuo e com uma relação fluída dado que temos interesses comuns. Embora reconheça que em algumas ocasiões surgem divergências e focos de tensão que tentamos ultrapassar com diálogo mas sempre firmes nas nossas convicções.
Qual é a sua opinião sobre o trabalho do sindicato português? E como são as relações institucionais entre a AFE e o SJPF?
As relações como o SJPF são imbatíveis. A nível estratégico coincidimos em muitos temas. Os nossos companheiros portugueses estão a realizar um trabalho magnífico e toda a equipa do Sindicato está a alcançar grandes avanços apesar do difícil momento que se vive em Portugal. Não posso deixar de dizer que, para mim, o meu grande amigo Joaquim Evangelista é uma referência na honestidade, no compromisso e no esforço. Admiro-o e respeito-o. A AFE estará sempre à sua disposição.
Qual a sua opinião sobre os jogadores portugueses que atuam em Espanha?
São muito bons, caso contrário não poderiam jogar na melhor liga do Mundo e, além disso, para mim, personificam a raça do jogador ibérico, já que todos eles, desde o enorme Cristiano Ronaldo até ao mais humilde, são jogadores temperamentais e muito competitivos.
Pode deixar uma mensagem para os jogadores espanhóis que jogam em Portugal?
Por um lado, desejo-lhes a maior das sortes e, por outro, digo-lhes que estão em boas mãos ao ser defendidos e apoiados por um sindicato como o SJPF. Concluo desejando não só o melhor aos meus compatriotas, como para todos os jogadores portugueses e de outras nacionalidades que jogam em Portugal, porque somos todos futebolistas e companheiros.
B.I.:
Nome: Luis Manuel Rubiales Béjar
Idade: 35
Posição enquanto jogador: Defesa
Clubes: Guadix, Motril, Granada74, RCD Maiorca, Lleida, Xerez, Levante, Alicante e Hamilton (Escócia)