“Não pagam e não têm sequer uma palavra para com o jogador”
AMOREIRINHA decidiu aceitar o convite do Churchill Brothers e assinou por três épocas com o clube indiano.
O que é que leva um jogador com o seu currículo e aos 28 anos a emigrar para um país como a Índia?
Acima de tudo a questão financeira. Em Portugal, ou oferecem pouco, não se recebe a horas e essas condicionantes pesam quando se chega a uma determinada idade. No meu caso a proposta que me pareceu melhor foi esta do Churchill Brothers, da Índia.
A liga indiana é atrativa ou foi somente a questão financeira?
Principalmente a questão financeira. É um bom contrato e em Portugal não tive nada que chegasse perto. Falei com o Antchouet e ele disse-me coisas boas do clube, da cidade… e decidi aceitar o convite. Além disso no campo salarial não há registo de problemas.
O facto de Hugo Machado (ex-Sanat Naft, do Irão) também ter assinado pelo Churchil Brothers ajudou à sua decisão?
Ajudou. Estando com mais portugueses ou quem fale português é sempre mais fácil.
Sente-se mal tratado pelo futebol português?
Não, não diria tanto. Sinto que como os clubes têm dificuldades e não pagam há um desrespeito de quem dirige o futebol. Além de não pagarem não têm sequer uma palavra para com o jogador e sentimo-nos um bocado à deriva. Não me sinto mal tratado mas a indiferença e a pouca vontade que se sente em resolver determinadas questões leva-me a sentir que o jogador é desvalorizado.
Esse tratamento acontece mais com o jogador português ou os estrangeiros também passam por essa situação?
É igual. Quando os clubes têm realmente interesse num atleta revelam uma atenção especial. A partir do momento que o atleta, por algum motivo, deixa de interessar há um desleixo na forma como tratam as coisas.
É a favor da limitação de jogadores estrangeiros nas equipas portuguesas?
Para o jogador português, julgo que sim, que se deveria fazer alguma coisa nesse sentido mas a verdade é que não se tem feito nada. Mas julgo que era importante para o crescimento do jovem valor ter-se algum cuidado com este assunto.
Já jogou na Roménia. Como foi essa experiência?
Na altura tinha 22 anos e apesar de a nível profissional as coisas não terem corrido como desejava considero a experiência positiva. Gostei do país, do povo mas infelizmente acabei por problemas com o clube (Cluj) por incumprimento salarial por parte da direção. Mas posso dizer que foi uma experiência enriquecedora. Julgo-me hoje mais preparado para emigrar do que quando fui jogar para a Roménia.
Tem espírito de emigrante?
Sim, achava que não tinha mas já não penso assim. Quando fui para a Roménia encontrei muitos portugueses no clube – comigo eram 10. Agora não levo família porque a minha mulher está grávida e prefiro que seja acompanhada em Portugal.
O que é que espera encontrar na Índia a nível desportivo e social?
Não sei, tenho pesquisado algumas coisas na internet… Estou à espera de encontrar algo completamente diferente de Portugal. Vou com espírito positivo.
A ideia é cumprir os três anos de contrato?
A ideia inicial é que eu tenha uma boa adaptação e cumprir os três anos de contrato. Gostava de ser feliz.
Manterá a ligação ao Sindicato para a eventualidade de necessitar de alguma coisa?
Claro, sem qualquer dúvida. O Sindicato é importantíssimo para nós e ainda mais quando jogamos no estrangeiro. Na Roménia foi-me muito útil.
Até à data qual foi o clube em que sentiu mais prazer em jogar?
Alverca e Estrela da Amadora foram os clubes onde realmente fui feliz e me senti bem tratado, em que as pessoas gostavam de mim. E isso depois faz toda a diferença no rendimento dos atletas.
Nome: Eurípedes Daniel Adão Amoreirinha
Data de nascimento: 05.08.1984
Posição: Defesa
Clubes: Benfica e Alverca (formação), Alverca, Benfica, Estoril-Praia, Estrela da Amadora, Cluj (Roménia), UTA Arad (Roménia), Académica, V. Setúbal e Churchill Brothers (Índia)