“Estava na altura de ter novos desafios”
PEDRO MENDES não tem medo de emigrar e embarca agora numa nova aventura no Parma, em Itália. Mas não esquece os dez anos no Sporting e... os 20 minutos na Liga dos Campeões, pelo Real Madrid (frente ao Ajax).
Por que razão decidiu sair de Portugal nesta fase da sua carreira?
Vivia-se um momento de instabilidade a nível económico e social. Nesta fase, o clube já encontrou o seu rumo. Mas, para mim, estava na altura de ter novos desafios.
A Liga italiana é atrativa ou foi simplesmente por uma questão financeira?
Claramente, esta é uma liga atrativa. Tem equipas e jogadores de topo e aprende-se com os melhores. Se fosse por uma questão financeira, teria optado pelo mercado turco, ucraniano ou russo, que também eram hipóteses em cima da mesa.
Sente-se mal tratado pelo futebol português?
Mal tratado não digo, mas injustiçado... Basta olharem para os campeonatos espanhol, inglês ou mesmo italiano, onde a base das equipas é feita por atletas dos respetivos países. Enquanto isso, em Portugal, procura-se muito “lá fora”, esquecendo-se dos bons jogadores jovens que tem obrigando-os a esperar uma eternidade por um lugar que está a ser ocupado por um estrangeiro com um salário muito mais elevado.
Esse tratamento acontece mais com o jogador português ou também com o futebolista estrangeiro?
Depende. Não me posso alargar sobre esse tema, cada caso é um caso. Se o jogador é verdadeiramente bom e acrescenta algo à equipa não há nada a dizer.
É a favor da limitação de jogadores estrangeiros nas equipas portuguesas?
Claramente. Devia ser como em Inglaterra: apenas podem entrar com licença de trabalho.
Tem espírito de emigrante?
Sim. Sou natural da Suíça, tenho pai angolano e irmão e mãe portugueses. Depois de jogar 12 anos em Portugal, tive de tentar a sorte lá fora, por causa da escassez de oportunidades em Portugal, portanto considero que tenho espírito de emigrante.
Além de Portugal, já jogou na Suíça e em Espanha. Como foram as experiências?
Fora muito boas, inesquecíveis mesmo! Consegui feitos históricos, subindo à Primeira Divisão com o Servette e subindo à Liga Adelante com o Real Madrid Castilla.
Alinhou pelo Real Madrid num jogo da Liga dos Campeões. Conte-nos como surgiu a oportunidade.
Estava a treinar com a equipa principal nessa semana e, como já estava tudo decidido na fase de grupos e na semana seguinte havia um Barcelona – Real Madrid, o mister decidiu dar oportunidade aos que jogavam menos, chamando três jogadores do Castilla para a convocatória. Não me passava pela cabeça a estreia. O Arbeloa não se sentia a 100 por cento e a oportunidade surgiu. Foram 20 minutos inesquecíveis!
Espera regressar a um dos gigantes europeus?
É o sonho de qualquer um...
Espera fazer uma boa época no Parma e, assim, chegar à Seleção Nacional?
Qualquer jogador português ambiciona representar o seu país ao mais alto nível e eu não fujo à regra. Mas não tenho pressa, cada coisa a seu tempo.
Considera que seja mais fácil chegar à Seleção jogando num clube estrangeiro?
Chegar à Seleção depende do momento de forma do jogador e não do clube onde joga.
Tendo sido já capitão de equipa, considera que tem espírito de liderança?
Aos oito anos, era capitão do Real Sport Clube, onde comecei a jogar, voltei a sê-lo nas seleções sub-18, sub-19 e sub-20. E nesta última temporada, no Sporting B. Por algum motivo fui eleito para assumir a responsabilidade, à qual nunca fugi.
Mesmo estando no estrangeiro, manterá a ligação ao Sindicato?
Claro! Fico à espera das vossas revistas aqui em Parma [risos].
Até à data, qual foi o clube em que mais gostou de jogar?
Tive os meus momentos especiais e outros menos bons em todos os clubes onde estive. Não posso fazer comparações, mas 10 anos ligado ao Sporting não se esquecem.