“Existe uma ideia de que um super-herói não tem depressão”
Psicólogo Pedro Teques abordou a saúde mental no futebol, numa ação de formação do Sindicato.
Na sexta ação de formação online do Sindicato dos Jogadores, que decorreu na quinta-feira, 25 de fevereiro, o tema central foi o Alto Rendimento e a Saúde Mental. O formador foi Pedro Teques, Psicólogo da Unidade de Saúde e Performance na FPF e Responsável pelo Projeto de Saúde Mental no Sindicato.
Há muito que o Sindicato tem vindo a alertar para os problemas de saúde mental no futebol, que foram agravados com a pandemia, tendo, inclusive, em parceria com a Ordem dos Psicólogos Portugueses, criado uma linha de apoio e disponibilizado mais de 400 psicólogos, em todo o território nacional.
No entanto, Pedro Teques alertou para o estigma que existe na população desportiva em relação às doenças mentais, o que é uma barreira que impede os jogadores de pedir ajuda. Ainda que com algumas melhorias, o jogador e outros agentes desportivos não se sentem à vontade para admitirem que não estão bem e, de facto, procurarem a ajuda necessária.
Questionado pelo nosso site se a população em geral, mais particularmente os adeptos, não têm um papel que aumenta esse estigma e barreira, o psicólogo admite que “os dados não exploram isso e, portanto, isto acaba por ser uma reflexão importante”. “Talvez esse estigma seja maior no contexto desportivo, porque existe uma ideia de super-heróis, pessoas que são indestrutíveis, de ferro. São ícones da própria sociedade. E, obviamente um super-herói não tem depressão, um super-herói não sofre de ansiedade. Um super-herói não tem perturbação obsessivo-compulsiva. Esta é a ideia da sociedade e isso faz com que este assunto seja mais estigmatizado. Eu sou obrigado a criar uma barreira para me esconder, para me cancelar, para que isso [problemas ao nível da saúde mental] não seja conhecido”.
Outro aspeto fundamental é o cultural. Pedro Teques afirma que o fator cultural é muito importante no combate às doenças mentais, na medida em que cada população, cada cultura, tem as suas características. Por exemplo, se os nórdicos têm maior probabilidade de sofrer de depressão, os sul-americanos têm menos, ao serem extremamente religiosos e encontrarem na fé respostas e “escapes” à depressão ou ansiedade. Foram ainda deixadas algumas dicas que podem ajudar os jogadores a combaterem sintomas depressivos ou de ansiedade: aceitação, técnica dos 5 porquês, regulação das emoções, dar a devida importância às outras áreas da vida, sem ser o futebol, viver o presente e de forma consciente e, claro, procurar apoio.
Apesar de a formação se centrar no jogador, Pedro Teques chamou a atenção para o treinador – sobre o qual não existem muitos estudos – e para os árbitros. Cerca de 50% dos jovens que tiram o curso de arbitragem, desistem depois da primeira experiência em campo. Estes dados, relativos aos árbitros, e a falta de dados, relativa aos treinadores, mostra que ainda há um longo caminho a percorrer na Saúde Mental no Futebol e que, enquanto sociedade, ainda estamos longe de ser uma solução para estes agentes desportivos.
Já esta sexta-feira, dia 26 de fevereiro, há mais uma ação, das 18h00 às 20h00, desta vez sobre “Futebol em Diferentes Contextos”, com o treinador Rui Vitória como formador.
A ação será transmitida através do Facebook do Sindicato dos Jogadores e do site do Record, media partner do Sindicato. Quem pretenda que seja creditada para o título de treinador (TPTD) deve inscrever-se AQUI para participação via Zoom. Será dada prioridade aos sócios do Sindicato dos Jogadores.



