O psicólogo e o futebol
Mário Felgueiras e David Brás falam do papel do psicólogo no futebol.
Mário Felgueiras, ex-guarda-redes, e David Brás, jogador do Oliveira do Hospital, falaram ao Sindicato acerca da importância da saúde mental no futebol e do papel do psicólogo na vida dos futebolistas neste que é o Dia Nacional do Psicólogo.
Mário Felgueiras, que entretanto já guardou as luvas, está a terminar a licenciatura em psicologia, uma área que, segundo o próprio, lhe fez muita falta durante a carreira. Já David Brás joga atualmente na Liga 3, pelo Oliveira do Hospital, está a terminar o mestrado em psicologia e já está a trabalhar na área, num clube de formação.
Ligados à área da psicologia, ambos enfatizam a importância de um psicólogo integrado num clube e na equipa técnica. Mário Felgueiras acredita que o paradigma do futebol “tem vindo a mudar” e que “as estruturas têm mudado a forma de ver a saúde mental”. Aliás, “noutros desportos há já muito tempo que o psicólogo já faz parte do processo” no entanto, “ainda há um longo percurso a ser feito”. David Brás reforça, dizendo que “é uma luta que está longe de estar terminada”, uma vez que a aposta na saúde mental representa “um investimento e há muitos clubes que ainda não o veem como tal, veem mais como um custo, que não é” e esse “é o próximo grande passo que o futebol vai ter de dar – o investimento na psicologia”.
Nos últimos anos, vários jogadores têm vindo a público admitir que sofreram com problemas do foro mental e a verdade é que cada vez menos o assunto é visto como um tabu no futebol. Hoje, Mário admite que a sua carreira poderia ter sido diferente caso tivesse sido devidamente acompanhado: “talvez não tivesse tido uma carreira melhor, mas tinha tido uma carreira mais prazerosa”. “Se eu tivesse tido um psicólogo que me permitisse sair da minha bolha e ver que aquilo em que eu estava a pensar era um exagero, acredito que tinha tido mais prazer na carreira que tive”. A falta de ferramentas para lidar com o insucesso e com as adversidades naturais do futebol pode ser determinante na carreira de um jogador. Tanto David como Mário o afirmam. Por um lado, Mário acredita “que os melhores jogadores do mundo, além da componente técnica, são por si só, a nível mental, mais fortes que o jogador comum” e que é por isso que há “jogadores com uma técnica fantástica, mas que não chegam a grandes patamares de alto rendimento, enquanto outros se calhar não tão evoluídos tecnicamente, mas que têm uma maior capacidade mental” acabam por chegar mais longe. David corrobora e vai mais longe, comparando o papel do psicólogo ao do preparador físico:
“Houve uma altura em que não havia preparadores físicos nas equipas, hoje em dia é impensável não existir um. Acredito que o próximo passo é a integração de um psicólogo nas equipas técnicas. Quando falamos de um preparador físico, este prepara-nos para estarmos fisicamente aptos para desempenharmos as nossas funções. Quando falamos de um psicólogo, este vai preparar-nos para aquele que é o nosso desempenho mental. Todos sabemos que a vida de futebolista é difícil, instável. Aparecem muitos percalços que não esperamos e se pudermos ter um acompanhamento nesses momentos isso vai ajudar-nos a potenciar as nossas carreiras em todos os aspetos”.
Atualmente a trabalhar enquanto agente, Mário Felgueiras destaca ainda novos desafios inerentes à carreira de futebolista: além da imprevisibilidade, da ansiedade, das lesões e dos insucessos, existe agora o fator redes sociais. “Acredito que as redes sociais têm um impacto muito grande. A exposição a que os jogadores agora são colocados é algo que não existia há uns anos”. Apesar de o futebolista sempre ter sido uma figura de elevada exposição, as redes sociais elevaram essa exposição a um novo patamar. “Hoje, o que acontece num segundo, no outro a seguir é partilhado milhares de vezes, comentado e é preciso ter uma grande estrutura psicológica para se conseguir lidar com aquilo que pode ser a carga negativa que está inerente a isso”.
Os desafios são cada vez maiores, mas a consciencialização acerca da importância da saúde mental também. Ainda assim, há um longo caminho por percorrer.
Neste Dia Nacional do Psicólogo recordamos-te que o Sindicato, em parceira com a Ordem dos Psicólogos Portugueses, dispõe de uma bolsa com mais de 400 psicólogos a nível nacional e que assegura as quarto primeiras consultas. Foi ainda criada uma linha de apoio disponível para todos os jogadores: +351 933 009 590.



