Opinião: "João Lucas: humanizar o futebol"


Presidente do Sindicato dos Jogadores e a homenagem póstuma ao antigo futebolista.

No seu habitual artigo de opinião semanal no "Record", o presidente do Sindicato dos Jogadores, Joaquim Evangelista, escreve sobre a preservação do legado de João Lucas e as vicissitudes da carreira de futebolista. 

"O dia 02 de novembro de 2023 foi para mim e para a minha equipa muito especial. Numa cerimónia de homenagem realizada no Campus do Jogador, oficializámos a atribuição do nome João Lucas ao principal auditório da nossa casa, um espaço construído para servir a educação e formação integral dos jogadores, fortalecer a sua cidadania, o debate de ideias e relacionamento com a comunidade.

Quisemos neste gesto simbólico perpetuar o nome do nosso João Lucas, preservando a memória de um grande amigo que marcou a diferença na vida daqueles que se cruzaram com ele. Sendo certo que no futebol apenas as grandes estrelas garantem esse lugar na eternidade, para nós era muito importante que o João tivesse o seu legado preservado, pelo que deu aos jogadores e colegas do sindicato, na forma de estar, na capacidade de enfrentar os momentos mais difíceis e de se relacionar com os outros.

Ao relembrar o João falámos inevitavelmente das vicissitudes da profissão de futebolista, de desgaste rápido e curta duração, marcada pela incerteza constante. Também ele foi obrigado a abandonar a carreira que tanto amava depois de detetado o problema de saúde que o acompanhou até ao fim. Felizmente conseguiu dar a volta e superar as adversidades para exercer exemplarmente as suas funções como delegado do sindicato. Numa altura em que alguns teimam em catalogar os futebolistas como uma classe de privilegiados, como se tratássemos uma realidade homogénea, importa relembrar que por detrás dessa imagem mediatizada e do estilo de vida abastado que existe no topo da pirâmide estão homens e mulheres que lutam por uma carreira digna, entre contratos a termo e vínculos precários, para obter rendimentos que os sustentem durante um curto período da vida ativa e que dificilmente lhes permitem assegurar a estabilidade financeira na fase de transição de carreira. Esses que estão nos diversos escalões competitivos, os que enfrentam situações de lesão ou doença prolongada que os obriga a mudar de vida do dia para a noite, recomeçando do zero.

Através da história do João Lucas homenageamos todos os que, como ele, ajudaram a lutar pelos direitos dos jogadores em Portugal. Neste dia tão especial lembrei outro amigo, o João Oliveira Pinto, que continua a sua luta contra a doença que o tem condicionado nos últimos meses. Outro caso de um ser humano diferenciado, que pelos valores e forma de estar consegue criar empatia com toda a gente. Pessoas fantásticas que humanizam este nosso futebol."

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