Opinião: “25 de abril e o respeitinho”


Presidente do Sindicato dos Jogadores e a liberdade dos futebolistas.

No artigo de opinião desta semana, publicado no jornal Record, o presidente do Sindicato dos Jogadores, Joaquim Evangelista, assinala o 51.º aniversário do 25 de abril e os direitos dos futebolistas no exercício da sua profissão:

"Celebrar o 25 de Abril é abraçar a liberdade, o progresso e uma visão moderna de sociedade. É também a confiança nas instituições e nas pessoas, a quem o país, com mais ou menos recuos, passou a disponibilizar uma abertura à educação e multiculturalidade. Celebrar a liberdade em final de época desportiva no futebol é um ato de ilusionismo perante a urgência em apresentar resultados, justificar fracassos e utilizar a imagem dos jogadores como escudo para aquilo que vai correndo mal.

Vários exemplos, de norte a sul do país, demonstram isso mesmo. Jogadores proscritos repentinamente das convocatórias e acusados de falta de compromisso, jogadores afastados por razões contratuais, numa gestão já a pensar na época seguinte e jogadores sancionados pela violação de deveres ou regras de conduta, sujeitos à justiça popular das redes sociais, aos apertões dos adeptos e ao desprezo pela sua vida privada.

Os clubes têm instrumentos legais claros e transparentes para acusar e apurar factos por determinadas infrações disciplinares que sejam cometidas. Quer-se um procedimento justo, que não sirva para impor respeitinho, mas antes garantir um tratamento igual para todos, com salvaguarda das garantias e meios de defesa.

A aplicar-se uma sanção disciplinar, se for caso disso, que seja proporcional e tratada na esfera da relação laboral, como em qualquer outra atividade neste país. Banalizar o linchamento público da imagem dos atletas, desumanizando-os, tornando-os alcançáveis a qualquer forma de pressão externa, ou não garantir que a resposta aos seus erros seja tratada na mesma medida da valorização do seu trabalho, torna o futebol um setor a cada dia mais perigoso. A esperança que se deposita nesta nova classe dirigente é, precisamente, a de acabar com práticas bafientas.

Olho de forma preocupada para várias situações que demonstram precisamente o contrário, velhos hábitos que exigem ainda mais alerta, porque se há sempre deveres e restrições adicionais que se podem impor, há também conquistas civilizacionais e direitos adquiridos que podem retroceder. Aquilo a que assistimos com a gestão dos calendários nacionais e internacionais, o desprezo pela saúde e bem-estar dos atletas, os entraves ao diálogo social e à contratação coletiva, como forma de regular as matérias essenciais que dizem respeito às jogadoras e jogadores, são demonstrações do quanto está por cumprir esse ideal de um sistema democrático, que começou a ganhar verdadeira forma em Portugal com a ação corajosa dos nossos heróis de Abril."

Partilhar