“É uma lufada de ar fresco e um sinal de progresso”


Leia o discurso do presidente do Sindicato dos Jogadores na Gala das Campeãs.

O jornal Record organizou esta segunda-feira, 16 de junho, a terceira edição da Gala das Campeãs, que premiou e reconheceu o mérito das jogadoras de futebol e futsal na época 2024/25 e à qual o Sindicato dos Jogadores se associou.

Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato dos Jogadores, esteve na cerimónia, que se realizou no Casino Estoril, e discursou aos presentes. Leia a mensagem na íntegra:

Quero, em primeiro lugar, dar os parabéns ao Record e ao BPI por insistir na organização desta Gala da Campeãs, a que o Sindicato dos Jogadores se associa, uma lufada de ar fresco e um sinal de progresso numa sociedade que, vitima de oportunismos populistas,  teima em querer regressar ao passado.

Se é verdade que muitos têm reclamado medidas que garantam a igualdade de oportunidades no futebol e no desporto feminino em particular, poucos têm tido a coragem de colocar em prática, com ações concretas, esse desígnio.

É, por isso, muito especial estarmos aqui hoje, e por ser tão especial fiz questão de trazer a minha mulher, mulher linda que amo, porque ela, mulher, é inspiradora e ajuda-me a ser uma pessoa melhor e a olhar o mundo de outra forma e o desporto também. Obrigado.

Este palco é por isso o lugar certo para destacar o mérito, mas também dar voz às protagonistas. Elas merecem ser ouvidas. Elas têm de ser ouvidas. O Record e o BPI estão do lado certo da história, aqui e agora reconhecemos as melhores.

Num dia de celebração como este é importante destacar o desenvolvimento e os aspetos positivos, entre os quais o crescimento do número de praticantes e consequente alargamento da base de recrutamento, bem como o investimento de mais clubes na modalidade, tornando a oferta para as nossas jogadoras mais alargada.

Deixo-vos também o nosso exemplo. Em 2011, criámos o departamento de futebol feminino com a Carla Couto e a Edite Fernandes, para oferecer um serviço personalizado às jogadoras, no apoio jurídico, na educação, na saúde e bem-estar, no trabalho e proteção social. Hoje, à Carla, juntam-se a Micaela Matos e a Matilde Fidalgo, a mais recente contratação. Elas têm feito a diferença.

Devemos, no entanto, deixar um alerta, para que não se repitam nem perpetuem más práticas.

No momento em que vos falo, dezenas de companheiras nossas não têm ainda os salários da época desportiva 2024/25 em dia, assim como nos sinalizam dificuldades ocorridas ao longo da época, como as condições laborais, de habitação e de trabalho em geral.

Como é possível dar passos em frente, falar da normalização de temas como a maternidade, de melhores condições para as jogadoras ao nível do treino e do jogo, se estamos a falhar nessa obrigação primeira de garantir condições dignas a todas as jogadoras, garantindo o verdadeiro equilíbrio da competição?

A resposta a estes problemas estruturais não está apenas no apelo ao investimento ou numa maior capacidade de angariação e redistribuição de receitas.

Está na elevação do nível de exigência e no diálogo social, sem o qual o futebol permanece estagnado.

O meu apelo aos clubes, e certo do apoio da Federação Portuguesa de Futebol nesta matéria, é para que nos sentemos à mesa, para viabilizar o primeiro Acordo Coletivo de Trabalho para o futebol feminino (cuja proposta já fizemos chegar a todos os interessados) e nos permita, definitivamente, sair da cauda da Europa.

Bem haja a todas, viva o futebol e o desporto no feminino. Obrigado pelo muito que nos dão e vão continuar a dar.

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