Opinião: "Lições a retirar do caso turco"
Presidente do Sindicato dos Jogadores relembra a importância da prevenção e sensibilização sobre manipulação de resultados e apostas.
No artigo de opinião desta semana, publicado no jornal Record, o presidente do Sindicato dos Jogadores, Joaquim Evangelista, relembra que o combate às apostas ilegais e manipulação de resultados nunca estará completo, sendo essencial prevenir e sensibilizar sobre esta matéria:
Entre muitos temas que marcam a atualidade internacional do futebol, o escândalo de apostas ilegais e manipulação de resultados na Turquia, a envolver alegadamente 45 jogadores de topo e muitos outros agentes desportivos, é uma lembrança a todos os países de que o trabalho de prevenção e sensibilização nunca está completo.
É certo que o caos da desregulação e a falta de instrumentos eficazes para responder a estes fenómenos não ajuda. Nesta matéria temos percorrido um bom caminho, com uma legislação reforçada através do regime jurídico da integridade desportiva, que entrou em vigor no ano passado. Através deste diploma, vimos nascer uma plataforma nacional para tratamento de manipulação e competições, que está a ser desenvolvida, e um Conselho Nacional para a Integridade do desporto (CNaID), que já iniciou funções e merece destaque por reunir organismos públicos, entidades representativas do desporto, órgãos de polícia criminal e de regulação do setor do jogo e apostas.
O Sindicato dos Jogadores integra este grupo que será responsável por desenvolver um programa nacional para a integridade no desporto, no qual a educação está no topo das prioridades. Além de serem necessários programas de prevenção e mecanismos de reporte integrados, para dar robustez ao sistema, são precisas normas legais e disciplinares dissuasoras, o que no futebol, muito por força da resposta ao “caso Jogo Duplo”, acabou por acontecer. No entanto, devemos olhar para o caso da Turquia sem receios e achar que não temos o risco de ver acontecer uma situação da mesma natureza em Portugal ? Claramente que não.
O vício das apostas desportivas alastra-se desde a formação e a procura de casas ilegais, que fogem ao controlo, mantém-se uma tendência, confirmada pelo último relatório da Associação Portuguesa de Apostas e Jogos Online. Neste equilíbrio difícil entre as receitas que beneficiam o desporto e a publicidade constante que impacta, inevitavelmente, os agentes desportivos que deveriam estar proibidos de apostar, sobressaem outros fatores de risco, com a precariedade laboral à cabeça. As dificuldades financeiras de qualquer agente desportivo transformam-se numa oportunidade para abordagens com intuito corruptivo, embora não sejam o único fator de risco. De outro modo, o fenómeno nunca atingiria o topo da pirâmide.
É impossível não sentir em qualquer ação de formação num balneário o desconforto quando se explica a proibição de apostar, o enquadramento disciplinar e criminal de condutas relacionadas com aposta e manipulação de resultados e os deveres de denúncia, para proteger o futebol desta monstruosa ameaça. A integridade é um desafio quotidiano, que precisa de ser trabalhada em todos os setores da sociedade, das escolas ao contexto profissional.



