Opinião: "Sobrecarga e calendários: o papel dos jogadores"


Joaquim Evangelista alerta para os riscos do excesso de jogos na saúde dos futebolistas.

No artigo de opinião desta semana, publicado no jornal Record, o presidente do Sindicato dos Jogadores, Joaquim Evangelista, alerta para os riscos do elevado número de jogos num curto espaço de tempo para a saúde dos futebolistas: 

"Os jogadores do Santa Clara têm todo o direito a sentir-se injustiçados pela calendarização dos jogos, que os coloca em sobrecarga e em risco físico e psicológico. Ao longo dos últimos anos, o Sindicato dos Jogadores e a FIFPRO têm promovido um intenso debate sobre a sobrecarga competitiva, vincando o aumento do número de jogos que afeta os jogadores, que se dividem sem repouso entre competições de clubes e seleções.

Perante estes desafios, torna-se incompreensível constatar que no calendário nacional e em relação a uma equipa que já só joga neste momento as provas internas, isto esteja a suceder. Os jogadores, que se dedicam a esta profissão com sacrifício diário, estão naturalmente frustrados porque, nesta sequência de jogos que culmina na receção ao Arouca, não tiveram a possibilidade de recuperar adequadamente, o que afeta o seu rendimento e os coloca em risco acrescido de lesão.

Sobre a conduta dos jogadores e a legitimidade das suas reivindicações, nada há a dizer. O Sindicato está ao seu lado e não se basta com a reação aos problemas, tem trazido para a discussão com a Liga, a FPF e o Governo dados concretos, evidências científicas e o apelo à criação de um sistema de organização das competições que respeite a saúde e os direitos fundamentais dos protagonistas. Mas o que dizer dos clubes que têm o poder de decidir nesta matéria? Porque reagem ferozmente quando são prejudicados, mas ficam calados quando a situação os beneficia? E porque fazem depender de um acordo o adiamento de um jogo nestas circunstâncias, ficando surpreendidos, neste futebol português, quando não impera o bom senso?

A resolução dos problemas com os calendários e a gestão da sobrecarga é imensamente mais fácil de obter em Portugal em comparação com o panorama internacional. Aí sim, não existe muito mais espaço perante o alargamento contínuo de competições. A saúde e bem-estar dos protagonistas tem de estar em primeiro lugar e estes devem poder vetar decisões tomadas na calendarização das provas, quando os colocam em risco. Esse seria o verdadeiro poder, dentro de critérios objetivos e cientificamente suportados, para evitar esta rebaldaria permanente.

A minha mensagem para o Santa Clara e para todos os clubes afetados por este tipo de problemas é simples: se querem uma resolução definitiva do assunto sejam coerentes e consistentes, façam uso do poder regulatório na Liga para criar um sistema objetivo, transparente e que não deixe na boa vontade de ninguém a tomada das decisões que são necessárias. Nessa luta, pela proteção dos jogadores e pela integridade das competições, contam com o nosso apoio."

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