Dia da Mãe: carta aberta ao desporto


Neste Dia da Mãe, começo por enaltecer o papel extraordinariamente importante que a maternidade tem na nossa sociedade, apesar de maltratada política e socialmente. Ser mãe é muito mais do que ser gestante. É assumir uma responsabilidade em todas as fases da vida da criança, educar e estar presente. Trata-se de um ato de grande generosidade, que vai para além da ligação biológica, como acontece nos processos de adoção, tantas vezes marginalizados. Ser mãe no desporto não pode continuar a traduzir-se numa escolha alternativa à carreira ou ficar reservada para uma fase de transição, devido à falta de estabilidade contratual e financeira.

Feita justiça ao impacto do regime de proteções na maternidade implementado pela FIFA, com contributo decisivo da FIFPRO, na visão estratégica para o desporto na União Europeia tem de constar o investimento num sistema desportivo que apoie as atletas que são mães. No período de gravidez, durante o gozo das licenças e na retoma da relação laboral, fomentando standards mínimos no que se refere aos direitos, meios logísticos e condições infraestruturais disponibilizadas pelos clubes e organizações desportivas.

Existem outras questões que carecem de atenção, como o apoio aos métodos de reprodução medicamente assistida, que implicam tratamentos, medicação e repouso, para os quais não existe nenhuma regulamentação adequada que dê segurança às atletas no ativo. Toda a conceção sobre a parentalidade no desporto deve mudar, desconstruindo dogmas e criando apoios que, em muitos casos, dependem exclusivamente do suporte familiar.

Quero, ainda, manifestar a minha preocupação com o final de época na Liga BPI. Entre casos crónicos e situações de natureza pontual, começam a registar-se práticas que estávamos habituados a ver nos escalões secundários do futebol masculino e em contextos onde os apoios disponibilizados às equipas nada têm a ver com aqueles que a Federação Portuguesa de Futebol, em particular, tem colocado à disposição dos clubes neste contexto.

Precariedade laboral nem sempre é sinónimo de baixos custos e exige-se uma reflexão sobre o modelo competitivo, os requisitos de licenciamento, a sustentabilidade financeira e a distribuição de receitas. É lamentável que países bastante mais limitados no seu desenvolvimento já falem da renegociação dos seus acordos coletivos de trabalho, para estimular o mercado e competitividade interna, quando em Portugal ainda temos de perder tempo a justificar a importância de ter regras claras e iguais para todos.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (4 de maio de 2025)

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