Carreiras suspensas


A sinistralidade dos atletas federados tem levantado alguns problemas que vão passando despercebidos. O regime é, aparentemente, idóneo. A inscrição obriga à avaliação médico-desportiva e à existência de um seguro desportivo, apto a ser acionado em caso de lesão sofrida pelo atleta. Na teoria deveria funcionar, não fosse o aumento galopante das queixas apresentadas por jogadores sobre o adiamento por parte dos seus clubes na participação das lesões ao seguro, quer pela burocracia envolvida quer pelo custo da franquia a liquidar.

Já perdi a conta aos pedidos de ajuda de atletas amadores que, não podendo socorrer-se de meios legais como a participação judicial do acidente de trabalho, que pressupõe a existência de uma relação laboral, lutam contra a inércia ou resistência dos seus clubes em ativar o seguro desportivo. Sem a colaboração do tomador do seguro (clube), toda a assistência ao sinistrado (jogador) fica adiada ou comprometida. Para agravar o processo, sabemos que após a participação existe, normalmente, um tempo de espera longo para exames e procedimentos clínicos, com o aumento das críticas sobre a qualidade da assistência prestada e a falta de especialização nas respostas existentes.

Se pensarmos no sofrimento causado e no tempo de recuperação de uma lesão como, por exemplo, a rotura do ligamento cruzado do joelho, bastante frequente no futebol, é difícil acreditar que há clubes a adiar a participação ao seguro e a promover tratamentos conservadores, sem exames complementares de diagnóstico.

Somos muito sensíveis a esta problemática para a qual já alertámos as entidades competentes, apresentando nas nossas últimas propostas de alteração regulamentar a criação de sanções disciplinares para os clubes que não acautelem devidamente a participação dos sinistros aos seguros, nem prestem a assistência adequada aos seus atletas em caso de lesão. É preciso fazer algo para dissuadir esta negligência e, ao mesmo tempo, encontrar soluções que tornem os processos de assistência médica aos atletas sinistrados mais céleres e controláveis pelos próprios. Sem isso, dependem da ajuda financeira de familiares e amigos, para que possam reparar um dano que foi causado apenas por serem praticantes desportivos. Perdem eles e o futebol nacional.

Nota final de agradecimento ao Rui Jorge, que deixou o cargo de selecionador Sub-21. Um enorme ser humano, com uma compreensão profunda das necessidades na formação integral dos nossos jovens jogadores. Nem sempre o legado se demonstra com títulos, mas quem acompanhou o trabalho desenvolvido pelo Rui e a sua equipa técnica sabe aquilo que deu ao país.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (20 de julho de 2025)

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