FIFPRO: uma frente unida


A FIFPRO afirmou-se no panorama internacional há 30 anos, apoiando Jean-Marc Bosman numa batalha legal que viria a reformar o sistema de transferências da FIFA e a libertar os jogadores das suas amarras pós-contratuais. Desde então, com mais ou menos progressos, a organização trabalhou na sua modernização, suportando todas as suas propostas e trabalho no campo político com evidências documentais e científicas e procurando intervir de forma construtiva no processo de concertação social.

Atuou sempre dentro do sistema, sem descurar a sua matriz reivindicativa por melhores condições para os jogadores de futebol. Somos uma confederação de sindicatos, porventura a mais importante do desporto mundial, reconhecida como a voz legítima da classe dos futebolistas pela OIT, Comissão Europeia e muitos outros organismos dentro e fora do ecossistema desportivo. As relações com a FIFA nunca foram fáceis e muitos compromissos acabaram por traduzir-se num conjunto de promessas não cumpridas. Contudo, sempre prevaleceu o respeito na relação institucional, através do reconhecimento mútuo acerca da legitimidade daqueles que se sentavam à mesa para dialogar.

Se o 'caso Diarra', por exemplo, chegou às últimas instâncias e deixou marcas, foi porque décadas de trabalho para a revisão do artigo 17.º do regulamento de transferências da FIFA não produziu efeitos. Ainda assim, chegámos ao ponto mais baixo desta longa relação institucional com a organização do Mundial de Clubes.

Acabou o diálogo, o reconhecimento mútuo e o trabalho em conjunto para resolver os problemas da sobrecarga competitiva e dos riscos para a saúde e bem-estar dos atletas, causados não exclusivamente, mas também por uma prova introduzida num calendário sobrelotado, sem qualquer esforço de conciliação. Assistimos a uma tentativa de instrumentalização e, sobretudo, à negação do papel fundamental que a FIFPRO desempenha na representação e defesa dos jogadores, criando um clima de instabilidade e desconfiança para a resolução dos problemas que se colocam no terreno. Apesar de tudo isto, testemunhei a força e unidade que este momento difícil provocou, na reunião extraordinária realizada na sede da FIFPRO, no final desta semana.

Tenho a esperança de que este precedente perigoso e negativo ainda possa ser reparado. Se isso não acontecer, apenas sei que os jogadores e os sindicatos que os apoiam não ficarão parados, seja pelo uso das vias diplomáticas seja pelo recurso às vias legais. Existem poucas verdades inquestionáveis no futebol, mas uma permanece: sem os jogadores não há jogo.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (27 de julho de 2025)

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