Jorge Costa: alma e coração


Jorge Costa, o 'bicho' que marcou uma geração de futebolistas partiu e deixou um vazio difícil de ultrapassar. Fez parte dos órgãos sociais que, em 2004, me deu a confiança para assumir a liderança do Sindicato dos Jogadores, numa equipa composta por nomes como João Vieira Pinto, Paulo Madeira, Emílio Peixe, José Carlos, Franque, Vítor Baía, Tulipa e Nuno Campos. O futebol era muito diferente do que temos hoje e os desafios que se colocavam à nossa instituição passavam pelas reivindicações de direitos basilares, entre ameaças e pressões constantes, de cada vez que se procurava atuar na defesa dos jogadores.

Mesmo nos dias mais duros, nunca me senti isolado porque tinha gente fantástica como o Jorge Costa atrás de mim, uma força demolidora dentro de campo e um ser humano de exceção fora dele, para quem a solidariedade se traduzia em ações concretas. Líder natural do seu FC Porto, despertava inveja nos adversários. O Jorge era único, pleno, unânime. Quem, como eu, teve o privilégio de conviver com as gerações de Riade e Lisboa e conhecer o grupo extraordinário que ali se formou, sabe o quão difícil foi esta perda, depois da partida, também prematura, do nosso João Oliveira Pinto.

Curiosamente, o nosso último encontro fora dos compromissos institucionais foi organizado pelo João, em Sesimbra, num almoço em que se celebrou a amizade. Nessa tarde recuaram-se muitos anos para recordar as histórias daquela família que tinha como pai o Prof. Carlos Queiroz, conquistou o mundo e foi apelidada de geração de ouro, mantendo a simplicidade e brincadeiras de quem dá os primeiros pontapés na rua. Na cerimónia de despedida eles estiveram lá, lado a lado com a família de sangue. Foi uma perda inexplicável, num momento bom em que o Jorge Costa assumia o lugar de destaque que merecia na estrutura do FC Porto.

Quero, também, agradecer ao presidente André Villas-Boas, pelo cuidado e dignidade com que conduziu as cerimónias de despedida, muito para além dos seus deveres institucionais. Foi arrepiante o sentimento de consternação, em particular no centro do relvado do Dragão, lado a lado com o seu companheiro desta aventura na liderança do clube, dando à família e amigos próximos, no recato do grande palco da vida do 'bicho', um merecido último adeus. A sua memória prevalece para sempre. Tem um lugar especial no trono da nação portista, na comunidade do futebol e no coração de todos aqueles que partilharam, aprenderam, riram e choraram com ele.

Descansa em paz querido amigo e obrigado por tudo aquilo que fizeste pelo jogador e pelo futebol.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (10 de agosto de 2025)

Mais Opiniões.