Investimento tóxico
Tem sido um verão difícil para quem acompanha as situações de incumprimento nos clubes portugueses, com o regresso de PER's e insolvências sem tréguas.
O último desastre à espera de acontecer chegou com a confirmação do colapso financeiro da Vilaverdense SAD, após uma época a esticar a corda com condições de trabalho precárias, atrasos nos pagamentos e negociações para alcançar acordos, que não foram suficientes para minimizar o buraco financeiro.
Uma insolvência que exemplifica a ineficácia completa do sistema de escrutínio dos investidores em Portugal, ao nível das exigências apresentadas a quem quer investir e assumir, de direito ou de facto, a administração de um clube de futebol.
Nenhuma das medidas introduzidas na legislação das sociedades desportivas ou das obrigações ao nível da transparência conseguem resolver este problema.
Se é suficientemente grave que se permita a determinados investidores dar cabo de um projeto desportivo, torna-se masoquista não haver nenhum mecanismo eficaz para prevenir que façam a mesma coisa noutros clubes, além dos conflitos de interesses que acabam, quase sempre, por lesar os trabalhadores e comprometer a imagem e integridade dos clubes e competições.
Continuamos a premiar o incumprimento, pois se a apresentação de um PER ou a insolvência serve para limpar as dívidas e afrouxar as consequências jurídicas, do lado da regulamentação desportiva não existem consequências de fundo para os responsáveis por estes processos, pelo que estamos condenados a ver a história repetir-se.
Podemos e devemos investir no processo de centralização de direitos televisivos, na profissionalização das estruturas dirigentes, na criação de mecanismos de solidariedade e no reforço dos mecanismos de controlo ao longo da época, mas falta a coragem para impor medidas preventivas que limitem a ação desavergonhada de algumas pessoas que não podem estar no futebol português.
Deixo uma mensagem de alento e solidariedade para com todos os jogadores e jogadoras lesados, muitos deles acompanhados juridicamente pelo Sindicato, na certeza de que insistiremos no assunto institucionalmente, partilhando as boas práticas e procurando as soluções de países europeus que blindaram as suas competições a este flagelo.
Uma palavra final de consternação perante as vítimas dos incêndios, em solidariedade com bombeiros, Proteção Civil, membros das forças de segurança, ou populares que de forma altruística têm colocado a integridade em risco, ao serviço da comunidade. Esta crise tem raízes económicas e sociais profundas e aguarda a devida atenção, para além dos momentos de aflição.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (24 de agosto de 2025)