Orçamento e desporto


Parece que ainda não foi desta que o desporto, no futebol em particular, teve a capacidade de influência para ver incorporadas na discussão do orçamento medidas essenciais à proteção do setor e dos seus agentes. Algumas reivindicações ao nível da fiscalidade, como os impostos sobre a bilhética dos espetáculos desportivos, ainda ecoaram durante algum tempo no espaço público, mas no essencial, por omissão e falta de capacidade para articulação entre os agentes do desporto, estamos perante mais um orçamento que anuncia o aumento do investimento e concretiza muito pouco.

Pode ser que me engane e na especialidade seja surpreendido, mas creio que o Estado continua a não valorizar devidamente o investimento no desporto, enquanto promotor da igualdade, inclusão social, proteção de menores, prática desportiva como forma de vida saudável e coesão nacional, desde a forma mais recreativa ao chamado alto rendimento.

Em relação aos jogadores, num contexto de tremenda falta de proteção social, choca-me que ainda não foi desta que tivemos a aceitação da proposta para criar incentivos fiscais à poupança, enquadrados no regime do Fundo de Pensões, nem recuperado o regime de profissão de curta duração e desgaste rápido.

É urgente rever o quadro legal, de forma a mitigar os problemas na transição de carreira, apesar do muito que fomos fazendo no incentivo à qualificação, aumento da literacia financeira e desenvolvimento das carreiras duais. Conciliar desporto e educação tem sido a nossa prioridade, mas não chega. É preciso coragem para separar uma certa ideia de privilégio dos praticantes profissionais, que sacrificam anos decisivos da sua vida ativa, sem quaisquer garantias de que terão apoio em caso de um infortúnio ou de que conseguirão assegurar a sua sustentabilidade futura. É preciso coragem.

No caso do futebol, a capacidade para assumir, sem receios, a liderança na representação do desporto nacional, pela importância e impacto social que a nossa modalidade tem, quer na comunidade, quer na economia, por via do seu contributo para o PIB. Foi com o intuito de fortalecer esta voz comum que nasceu o Fórum Estratégico do Futebol Profissional, cuja primeira reunião decorreu esta semana.

Estamos perante uma plataforma de diálogo e concertação que pretende encontrar um fio condutor nas reivindicações e propostas a apresentar em sede de autorregulação, ou perante o poder político. É o futebol profissional a dizer presente. Cabe agora  à Federação, com o nosso compromisso, concretizar o grande desafio deste mandato: UNIR O FUTEBOL. Pedro Proença pode e deve liderar Liga, clubes, jogadores, treinadores, árbitros e demais agentes desportivos para que falem a uma só voz, para que o futebol português tenha o reconhecimento que merece.

Está nas nossas mãos fazer parte desta mudança, exigindo respeito e dando-se ao respeito. Eu acredito que 2026 será um ano de mudança. O futebol português merece. 

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (9 de novembro de 2025)

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