Olimpicamente ignorados


O Governo apresentou o seu Plano Nacional de Desenvolvimento Desportivo. Coincidência ou não, a poucos dias da votação final do Orçamento de Estado, onde o desporto foi olimpicamente ignorado.

Numa primeira análise do documento, salvo algumas menções importantes no apoio ao alto rendimento, carreiras duais e transição, nada é dito sobre os praticantes desportivos profissionais, o que deixa aqueles que não fazem parte do programa olímpico a aguardar para ver o real impacto desta estratégia e dos incentivos financeiros que contempla.

Os praticantes desportivos profissionais mereciam mais, mas o desporto profissional também. Espero que na tão badalada reunião que decorreu entre os presidentes dos principais clubes portugueses e o presidente da FPF, este plano do Governo tenha sido abordado.

Falamos de uma visão estratégica para o desporto que, tendo o mérito de o querer tornar acessível para todos, combatendo o sedentarismo e os baixos índices de prática desportiva no nosso país, com impacto essencial na base da pirâmide, seleciona áreas prioritárias nas quais o setor profissional do desporto e o praticante desportivo profissional, enquanto motor do mesmo, estão ausentes.

Se o ecossistema do futebol gera a principal fatia das receitas, com impacto direto em muitos outros setores complementares, não podemos estar de acordo com um modelo de financiamento, anunciado para o 1.º semestre de 2026, sem medidas significativas que o contemplem.

Que respostas teremos, dentro deste quadro de apoios, aos problemas estruturais, entre os quais os atropelos às condições de trabalho e sobrecarga competitiva, que afetam a saúde e bem-estar dos jogadores, a falta de proteção social durante a carreira, ou de apoios na fase de transição e acesso à reforma?

Que valorização será dada aos clubes que cumprem uma importante missão de formação e proteção dos jovens, acolhimento e integração social, promoção da igualdade e desenvolvimento do desporto feminino, apesar de todas as dificuldades para garantir a sustentabilidade dos projetos?

No futebol temos estado demasiado focados naquilo que não é essencial e vemos com muita frequência os grandes a serem fortes com os fracos. Até quando vamos permanecer em silêncio, sem exercer o contrapoder que juntos podemos fazer?

Definitivamente, devemos ter uma participação efetiva na construção das propostas e não apenas ser ouvidos, num papel meramente consultivo. A mensagem que nos passam é que o futebol não pode definir as prioridades do desporto, apesar de o continuar a levar às costas.

É tempo de dizer basta. O futebol, clubes e praticantes, tem sido solidário, a maioria das vezes sem o devido agradecimento.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (23 de novembro de 2025)

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