O Pensamento Estratégico do Treinador
O pensamento estratégico do treinador, muito embora seja um acto de criatividade e liberdade absolutas, deve obedecer a um conjunto de parâmetros segundo os quais ele organiza a época em geral e o próximo jogo em particular.
A questão central a considerar é o adversário. Quer dizer, contra quem vai jogar. A equipa, o treinador, os dirigentes, o clube e os apaniguados. Na perspectiva de Clausewitz, o treinador deve considerar que não é senhor dos seus actos, porque é o adversário lhe dita as leis, tal como ele lhe dita as suas. Quer dizer, um treinador tem de agir em função da vontade do adversário a fim de a poder contrariar e imporlhe a sua própria vontade. Esta é a lógica de todo o pensamento estratégico.
De seguida, o treinador deve considerar a escala de turbulência que rodeia o jogo. A turbulência determina o grau de dificuldade do ambiente em geral e do jogo em particular, bem como o padrão da ética de conflito que envolve as circunstâncias de cada jogo e do campeonato. O grau de turbulência (de 1 a 5) obriga o treinador a uma atitude em conformidade: com pouca turbulência a atitude do treinador é pura e simplesmente rotineira; com um grau elevado de turbulência, a atitude do treinador deve ser proactiva, quer dizer, deve ensaiar antecipar-se aos acontecimentos e até provocar os que lhe forem mais convenientes.
Do grau de turbulência decorrem três categorias de acontecimentos: (1) conhecidos certos; (2) conhecidos incertos e (3) desconhecidos. Em princípio, os acontecimentos conhecidos certos permitem uma resposta antecipada através de acções de rotina e de compromisso. Os acontecimentos conhecidos incertos, obrigam a planos de contingência (B, C, etc.). Os acontecimentos desconhecidos sujeitam o treinador a estar preparado para reagir, tanto quanto possível, em tempo real através de respostas de adaptação.
A capacidade de resposta do treinador depende do tipo de acontecimentos: (1) pode andar à frente dos acontecimentos; (2) poder andar ao ritmo dos acontecimentos; (3) pode andar atrás dos acontecimentos. Na primeira situação as previsões decorrem dos acontecimentos que já vêm do passado, pelo que são possíveis de extrapolar; na segunda situação o treinador deve jogar com as ameaças e oportunidades que transcorrem do ambiente; na terceira situação o treinador está perante um futuro imprevisível, pelo que só lhe resta idealizar o futuro que mais deseja e ser capaz de o fazer acontecer.
Depois, é a partir das possíveis previsões que o treinador pode determinar o tipo de planeamento a fazer. Ele tem de realizar, por um lado, um planeamento deliberado, quer dizer, aquele que ele controla e se consubstancia nas rotinas e no compromisso. Mas, tem de realizar também o planeamento emergente, quer dizer, aquele que se consubstancia nos planos de contingência e na capacidade de adaptação que decorem das transformações que inopinadamente acontecem, n jogo, no campeonato, no clube e na sociedade.
Resolvidas estas questões, o treinador está em condições de perceber em que casos e circunstâncias a estratégia é: (1) clara; (2) alternativa; (3) provável e; (4) ambígua. A estratégia é clara quando não restam dúvidas sobre aquilo que deve ser feito. É alternativa quando o treinador é obrigado a equacionar vários planos opcionais. É provável quando o treinador é sujeito a assumir determinado grau de risco. É ambígua quando só resta ao treinador a capacidade de improvisação e adaptação a acontecimentos e eventualidades completamente desconhecidas. Seguidamente, o treinador tem de decidir o que é que vai fazer: (1) contra quem? (2) Para quê? (3) Como? (4) Quando? (5) Onde? (6) Por Quem? (7) Com Quem? Para o efeito, como diria Mintzberg, o treinador tem um conjunto de instrumentos a utilizar: (1) perspectivas, (2) planos; (3) modelos; (4) sistemas; (5) posições e; (6) truques / medidas.
Por último o treinador deve ter em atenção que a estratégia é um jogo de criatividade sem fim. Na ideia de André Beaufre é uma invenção perpétua fundada sobre hipóteses que é necessário experimentar em plena acção, onde os erros de apreciação se pagam com a derrota.