Blackout


Em Portugal chamam-lhe inapropriadamente a "lei da rolha". Contudo, uma equipa jamais será vencedora se cada um dos seus elementos se sentir no direito de dizer o que muito bem entende. Assim, na teoria das organizações, o "blackout" traduz a metáfora da "prisão psíquica" que consubstancia o conjunto de constrangimentos que os membros de uma organização voluntariamente impõem a si próprios se a ela quiserem pertencer.

O "blackout", "silenzo stampa", surgiu na campanha da equipa italiana no mundial de 1982. Ao tempo, os jornalistas estavam a ser impiedosos para com a "squadra azzurra". Lançavam suspeitas sobre os resultados e permitiam-se até fazer comentários acerca da orientação sexual dos jogadores. As relações azedaram-se ao máximo. Então, o presidente da Federação, Federico Sordillo, decidiu-se por uma ruptura informativa. Em conformidade, passou a falar somente o capitão de equipa Dino Zoff, através de um discurso monossilábico. A decisão de Sordillo provocou o efeito desejado já que os jogadores só voltaram a falar com o troféu na mão.

Quando um clube é atacado do exterior, é obrigado a fechar-se sobre si próprio. Depois, através de uma parcimoniosa política de comunicação externa, deve passar a controlar a informação que pode sair para a comunicação social. Contudo, como afirma Massiano Basille jornalista do "Corriere dello Sport": "o silêncio não marca golos, não traz a vitória." Em conformidade, o clube não pode fechar-se de qualquer maneira, porque, ao fazê-lo, também entra em conflito com aqueles de quem depende: directamente conflitua com a comunicação social, indirectamente com os patrocinadores, e sempre com os apaniguados. E estas entidades também podem fazer "blackout" ao clube, deixando a comunicação social de o noticiar, os patrocinadores de o financiar e os adeptos de o acompanhar. Assim, o "blackout", assume uma dimensão estratégica na dinâmica do campeonato:

  • Os treinadores, decidem-no no balneário como um instrumento de gestão;
  • Os jogadores, tratam-no como uma amante caprichosa a quem têm de saber resistir;
  • Os dirigentes, utilizam-no como redenção dos erros cometidos, que anseiam fazer esquecer;
  • Os jornalistas, numa sadomasoquista, odeiam-no e amam-no porque, se lhes seca a informação também lhes apimenta o ofício;
  • Os apaniguados, servem-se dele como um brinquedo de imaginação e criatividade com que animam vida cinzenta de todos os dias.

Na sua gestão estratégica, qualquer clube deve ter uma política de comunicação externa bem definida. Nesta, o "blackout", como um dos seus instrumentos, é de fundamental importância para a organização da vitória.
Quer se goste, quer não.